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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Mercado de Ações (Um poema romântico)

Mercado de Ações


Investi o que restava do meu capital
Em ações amorosas
Mas este mercado é cada vez mais instável
Clipart - free-fall. fotosearch 
- busca de imagens 
de vetor grã¡fico, 
desenhos, clip 
art, ilustraã§ãµesParece  o velho vendaval de Paulinho.
Meu capital amoroso
Hoje é deficitário
Depende da balança externa
Do câmbio flutuante desvalorizado
E da taxa de quanto mais juros possam dar
Mesmo assim ainda aposto nas ações
Sou investidor de risco
E beirando a falência
Invisto ainda mais:
Ou fico rico
Ou o coração quebra.

   Rio, 28/12/2010 (3h 44min)
Ilhado

Estou  ilhado
Longe de você
Dos seus olhos, boca, ouvidos
Vila do Abraão (Ilha grande)
Estou ilhado
Longe dos meus
Nenhum amigo perto
Estou ilhado
Longe da minha estante
Nas mãos o Gramsci
Mas ainda mais distante
Estou ilhado
Longe dos discos meus
Paulinho da Viola e Alceu na mente
Solidão, a dança de todos
Estou ilhado
Absolutamente como Deus
Longe até de mim...sozinho estou

   Angra dos Reis, 25/02/93

Pedaços e Tem Que Acontecer

  
         Pedaços


Meu poema espatifou-se,
Quebrou, ficou em pedaços.
Que descuido o teu!
Deixaste ele cair no chão.
Meu poema espatifou-se,
Quebraste meu coração.

 Rio, 01/06/91
Jorge Willian

                    Obs: Segue abaixo,  tirado do You Tube, a bela canção  Tem Que Acontecer de Sergio Sampaio na voz Zeca baleiro. É só clicar e ouvir. No final do vídeo há diversos outros vídeos com canções do Baleiro- vale a pena!!!
                        

 Tem Que Acontecer
Não fui eu nem Deus não foi você nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida é pra perder
Tem que acontecer
Tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor é solidão
Se um vai perder outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida e ninguém vai mudar

Eu daria tudo
Pra não ver você cansada
Pra não ver você calada
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arreada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou um compositor popular

Eu daria tudo
Pra não ver você zangada
Pra não ver você cansada
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arreada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Sou só um compositor popular

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

BOAS FESTAS

Dias de festas, comemorações e esperanças de um próximo ano  melhor. É o nosso belo ritual de final e passagem de ano. Ritual de alegria e esperanças. Desejando a todos um ano feliz, gostaria de deixar aqui  a lembrança da canção de Lennon sobre o período e uma outra canção natalina feita por Benito di Paula e que chama-se Jesus Papai Noel e que, se ainda me lembro, dizia assim: "Quero de presente/ muitos mais amigos/ Uma estrela lá no céu/ Chegou Jesus Papai Noel/ Quero a paz nesse natal/ Refletindo a todo o mundo/ Amor e compreensão/ Para vivermos melhor/ E pedir ao Papai Noel de presente uma oração/ Pra que seja eterno o natal/ E o mundo todo irmão".

Feliz Natal (A Guerra Acabou)


Então é natal
E o que você tem feito?
Um outro ano se foi
E um novo apenas começa

E então é natal
Espero que tenhas alegria
O próximo e querido
O velho e o Jovem


Um alegre Natal
E um feliz ano novo
Vamos esperar que seja um bom ano
Sem sofrimento

E então é natal (e a guerra terminou...)
Para o fraco e para o forte (...se você quiser)
Para o rico e para o pobre
O mundo é tão errado

E, então, feliz natal
Para o negro e para o branco
Para o amarelo e para o vermelho
Vamos parar com todas as lutas

Um alegre Natal
E um feliz ano novo
Vamos esperar que seja um bom ano
Sem sofrimento

E então é Natal
E o que nós fizemos?
Um outro ano se foi
E um novo apenas começa...

E então Feliz Natal
Esperamos que tenhas alegria
O próximo e querido
E velho e o jovem

Um alegre Natal
E um feliz ano novo
Vamos esperar que seja um bom ano
Sem sofrimento

A guerra acabou ,
Se você deseja
A guerra acabou ,
Agora


Happy Xmas (War Is Over)


So this is christmas
And what have you done
Another year over
And new one just begun


And so this is christmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young

A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is christmas (war is over...)
For weak and for strong (...if you want it)
The rich and the poor one
The world is so wrong


And so happy christmas
For black and for white
For the yellow and red one
Let's stop all the fight


A very merry christmas
And a happy new year
Lets hope it's a good one
Without any fear

And so this is christmas
And what have we done
Another year over
And new one just begun...


And so happy christmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The older and the young


A very merry christmas
And a happy new year
Let's hope it's a good one
Without any fear

War is over
If you want it
War is over
Now.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

QUE FAZER? A PERGUNTA QUE NÃO QUER SE CALAR

          A pergunta que dá título a esta postagem também nomeia um samba (veja a ingenuidade da letra abaixo desse texto)  que fiz em 1983. Usei o título na época com a intenção de lembrar do líder da Revolução Russa de 1917. "Que Fazer?" dá nome a dois livros antigos da Rússia,  um de Nicolau G. Chernyshevscky, que viveu entre 1829 e 1889, o outro de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lênin (ou Lenine). Líder do partido Bolchevique, Lênin utilizou o mesmo título do livro de Nicolau para tentar nos dizer que o que era necessário fazer para resolver a grave situação das massas trabalhadoras era construir uma organização revolucionária que pudesse, de forma aberta e/ou clandestinamente, liderar os proletários (e os camponeses) em uma luta contra a opressão e contra a exploração do mundo capitalista.

Lênin é as vezes tratado como autoritário, centralizador. Mas a  sua proposta defendia a existência de uma ampla democracia interna no interior da organização partidária para as tomadas de decisões e uma ampla disciplina no respeito a estas mesmas decisões. Assim, o que era decidido coletivamente tinha que ser encaminhado por cada membro da organização, é o que chamam de centralismo democrático. No entanto, em período de repressões políticas, as decisões não podiam ser tomadas desta mesma forma sem que se colocasse em risco a vida de todos. Daí a necessidade do partido ter que atuar diversas vezes também de forma clandestina. Nesses momentos de repressões, a direção formada por um pequeno grupo escolhido em congressos da organização, tinha que tomar as decisões e repassá-las para os demais membros que as executariam. O partido em perído de grande repressão seria, portanto, formado por um grupo dirigente e por aqueles que colocariam em prática as decisões. Os dirigentes, porém, tinham que levar em consideração as decisões tomadas em congressos, pois estas é que deveriam dar o rumo a ser tomado pelo partido. E é bom repetir que nos congressos haveria também a escolha dos dirigentes. Em 1917, ano da Revolução Socialista na Rússia, as bolcheviques contavam com milhares de filiados.

O modelo de partido pensado por Lênin foi bastante eficaz na luta contra a ditadura do czar russo e permitiu comprovar que era possível derrotar naquela sociedade o capitalismo, que, como já havia pensado Trotski, era um dos elos fraco do capitalismo mundial. Este último revolucionário- que a princípio se colocou contra o modelo partidário pensado por Lênin, mas que depois o achou o mais eficaz-  havia pensado desde 1906 que a revolução socialista poderia se iniciar na antiga Rússia, mas nunca que nunca poderia ficar limitada nas fronteiras deste país, como defendeu outro revolucionário do período que passou a ser seu adversário político a ponto de mandar matá-lo, Stálin. O modelo pensado por Lênin foi utilizado em diversos partidos socialistas do mundo, inclusive pelos chamados trotsquista e stalinistas. No entanto, as revoluções socialistas posteriores tiveram modelos diferentes de organizações revolucionárias. Em todas elas, porém, houve algo em comum: a luta armada. Até porque a burguesia não entrega o poder através do voto (vide o ocorrido no Chile na época de Allende). Ela conquistou o poder se utilizando da força bruta e da força das ideias. O que seria do velho iluminismo sem o povo nas ruas tomando a Bastilha e suas armas? Quantos anos de combate revolucionário a burguesia inglesa não teve que travar até 1688?
          Que modelo de organização política cabe hoje no mundo para quem quer se insurgir contra as explorações e dominações que a "internacional capitalista" faz no mundo? Ficar diante de uma telinha ou levantando os braços diante do time preferido ou do pastor idolatrado não vale como resposta. Até porque não me parece que esses modelos sejam para quem quer se rebelar. Investir na carreira e individualmente acumular capital também não é uma resposta para a pergunta que pressupõe um projeto  coletivo (organização política). "Que fazer?" esta ainda é uma pergunta importante e que temos dificuldade em responder. No entanto, os problemas do mundo capitalista se ampliaram para os trabalhadores. O desemprego continua, a criação de um exército de reserva de mão-de-obra também. Ampliação das desigualdades sociais,  fome,  marginalização de uma parte da sociedade, guerras imperialistas, falsa liberdade de imprensa, ditaduras, democracias que são, na verdade, ditaduras do grande capital, escravidão sexual de mulheres na Europa capitalista... poderíamos ficar citando durante umas 10 páginas. Mas a pergunta não que se calar: QUE FAZER?


                Que Fazer?
Maria, vê se não esquece
De me acordar às cinco
Que tenho que pegar às sete
No batente. Minto!
Não precisa me acordar mais, não
Que eu estou desempregado:
Hoje o patrão mal humorado
Me mandou embora
Sem qualquer razão.

Não sei o que fazer, Maria,
Pra sair dessa situação.
É que o país do milagre e mordomia
Está há muito na recessão.
E um país nesta situação
Só tem então, Maria,
Desemprego, miséria, fome,
Roubo, polícia e prisão.
"Olha oszome!!"
"Chame o ladrão"
O que fazer, Maria?
Que fazer?

Rio, 17 de Setembro de 1983         

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A NOITE MARCHA (NO LÍBANO E NO BRASIL)

Prelúdio: o Líbano de Moaz 

Samuel Moaz é um cineasta israelense que acaba de ser agraciado pela crítica com o Prêmio do Cinema Europeu por sua obra "Líbano". Em 2009, já havia ganho o Leão de Ouro no festival de Veneza. Moaz, em 1982, participou da Guerra do Líbano que, segundo ele, foi a primeira em que Israel invadiu o território de outro país. O filme "Líbano" mostra um pouco da  experiência e reflexões de seu autor sobre esta guerra que foi, em 2006, reiniciada por Israel. O filme é uma retomada de uma velha ideia de Moaz de fazer um filme crítico sobre o assunto. Como fruto de uma reflexão sobre o fenômeno da guerra, "Líbano" reflete a consciência crítica de seu autor, como podemos ver a seguir:
"- Quando usa um canhão você é o executor A morte virá por uma ação direta sua (...) E, quando resolvi ser diretor, a primeira coisa que visualizei foi a semelhança entre a visão da câmera e a do canhão."
"- A guerra é um tipo de besta que precisa da morte para existir. Soldados são pessoas normais, e pessoas normais não acham a morte uma coisa normal. Mas o truque da guerra é simples: você coloca um ser humano numa trincheira, numa situação de risco de morrer, e o obriga a agir por instinto. O processo, praticamente físico , pode levar duas horas, dois dias ou uma semana. Mas em algum momento você cede e atira. E, pior, passa a achar que isso não é problema. Você se afunda na guerra e deixa de ser você."
Acho que os trechos acima mostram que o seu autor deve ter feito um filme muito interessante (em breve ele deve estrear no Brasil). O único reparo que faria é que a guerra não pode ser vista como um ser autônomo-ela não pode virar um fetiche. A guerra  é produzida por homens movidos por diversos interesses que quase  sempre são apresentados sem clareza. Soldados apertam os gatilhos e morrem nas guerras que interessam a outros.

I-  O Nosso Líbano

Há noites em que não adianta fugir. Ela chega e nos leva a pensar. Nenhuma forma de escapismo lhe tira o vigor. Ela marcha sobre nós e nos deixa as marcas de seus calçados. E nessas horas, são pesados os seus pés. E barulhentos seus passos. Sua marcha não nos deixa dormir. A cama estremece, sua voz grita de ensurdecer e nos fazer tremer de medo. O corpo teima, mas tem pouco a fazer: não resistir mais (pois "na  tortura toda carne se trai") e  delatar seu próprio ser. Assim surgiu o poema abaixo. Segue depois, algumas reflexões sobre o nosso assombroso Novembro. Há quem prefira o sol do verão que se aproxima com toda a sua luz e esperanças, mas a noite de Novembro talvez cresça sobre o país e suas "flores mórbidas", que acompanham nossos defuntos, ainda estarão e exalar "o perfume que roubam de ti". Há os que preferem sorrir e gargalhar de tudo isso, mas deviam vir "para ver os meus olhos tristonhos/ e quem sabe, sanhavam meu sonho"... Somos todos iguais.

A NOITE MARCHA

Ouve-se um grito desesperado na sombra da noite
Ouve-se um grito desesperado
Houve na sombra um grito
Que se ouve desesperado na noite
Houve na noite
Um grito assombrado

Na sombra da noite de um desesperado
Houve um grito
Que se ouve na noite
Se ouve a noite
No grito desesperado
De uma sombra

A sombra tomou a noite
E o grito
Assombrou o desesperado
O assombro não esperado
E o grito gritou ainda mais
Ouve-se rajadas de gritos
Gritos desesperados
A noite ainda mais se assombrou
A sombra amedrontou-se
Mais assombrado o grito ficou

O desespero
Tomou conta de tudo
Anoiteceu-se tudo
Ouviu-se mais gritos
Houve quem ouviu e calou-se
Mas gritou-se um inesperado assombro
Assombrou-se tudo
Silêncio... tudo silenciou-se
Menos as botas
Elas marcham.
        Rio, 04/12/2010


II- Passado e presente: tudo ao mesmo tempo agora

Novembro de 2010 na cidade do Rio de Janeiro será um dia retomado pelo futuro como um novembro tenebroso. Carros incendiados, guerras em algumas comunidades e triunfalismo daqueles que ensandecidos se aproximam da possibilidade de sentirem  orgasmos ao assistirem pela televisão os corpos dos que tombaram na insanidade da nossa violência carioca. Estes que quase gozam perante a dor alheia nos lembram os depoimentos de prisioneiros políticos da nossa última ditadura relatando o prazer sentido por alguns de seus algozes na prática de seus ordinários ofícios. Era a noite (A Noite dos Generais, segundo o título de José Meirelles Passos) que marchava entre nós, cegando até mesmo os mais humanitários e cristãos ardorosos. "A noite tem deixado seus rancores gravados/ a faca e canivete/ a lápis e gillete/ por dentro das pessoas (...) e dentro de mim" ( Ivan Lins e Vitor Martins).

Caiu a ditadura mas não nos livramos de suas chagas. As passeatas dos anos 80 pareciam realizar os desejos "proféticos" da dupla Ivan Lins e Vitor Martins na canção Abre Alas que assim dizia : "abre alas pra minha folia/ já está chegando a hora". Mas era ainda cedo e as chagas deixaram marcas na pele e na alma: banditismo, torturas, corrupções, crueldades. E estas marcas e outras estão nos seios de toda a nossa sociedade. É o que vimos no mês de Novembro passado. Em meio aos corpos, sangue, tiros, granadas e tantos outros sinais de nossa insanidade carioca surgiram aplausos nas ruas, nos becos, vielas, escritórios e nos meios de comunicação. A noite tenebrosa se disfarça de sol. Mas, não se iluda, estamos na noite, por mais que a voz doce de Flávio Venturine nos diga que há "noite com sol" ou que o bom Milton tente negar o medo e a dor ("Ei, medo, eu não te escuto mais/ você não me leva a nada/ e se quiser saber pra onde eu vou/ pra onde nasce o sol/ é pra lá que eu vou).

O nosso Novembro passado, que ainda é tão presente e possivelmente tão futuro, está mais para uma interpretação triste da velha canção alegre de Tom e Dolores Duran. Repare em um dos vídeo abaixo que em pouco mais de dois minutos, Elis transforma a Estrada do Sol em uma estrada noturna e sombria e chuvosa. Diz a canção que "é de manhã" e isto nos faz crer que o sol traz toda a luminosidade necessária,  mas ainda estão a brilhar "os pingos da chuva que ontem caiu". Elis entristece a canção porque estava entristecida pela perda causada pela morte (no YouTube há uma outra versão mais completa com o depoimento da cantora). Nós, em nosso Novembro, festejamos a morte. Mas me ocorre uma  lembrança irônica dos versos de Bandeira ("Bendita a morte/ que é o fim de todos os milagres") se os juntarmos a antiga canção sobre a ditadura de Ivan Lins que dizia que "somos todos iguais nessa noite/ na frieza de um riso pintado/a certeza de um sonho acabado/(..)/ pelo ensaio diário de um drama/ pelo medo da chuva e da lama/ (..)/ nós vivemos debaixo do pano/ pelo truque malfeito dos magos/ pelo chicote dos domadores/E o rufar dos tambores..." Os magos de 1964 nos deixaram a noite, os magos das telinhas coloridas tiram das cartolas o sol. Ambos de Novembro.

A Noite Marcha entre nós. A Noite marcha sobre nós. E Ela toca o dobrado.

Somos todos iguais nesta noite
   Ivan Lins

Somos todos iguais nesta noite
Na frieza de um riso pintado
Na certeza de um sonho acabado
É o circo de novo...

Nós vivemos debaixo do pano
Entre espadas e rodas de fogo
Entre luzes e a dança das cores
Onde estão os atores..

Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez...

Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama

É o circo de novo...
Nós vivemos debaixo do pano
Pelo truque malfeito dos magos
Pelo chicote dos domadores
E o rufar dos tambores...

Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Pra tocar um dobrado...
Vamos dançar mais uma vez...

sábado, 27 de novembro de 2010

Lá Se Foi A Rebelião. A Desigualdade Social e a Fome

O tema da fome e da desigualdade social sempre se apresenta. É corriqueiro. Está no dia-a-dia de um mundo recheado de misérias e coberto de riquezas (ou seria  o inverso?). A canção  Miséria- composta e gravada pelos Titãs nos anos 80- já resumira bem a relação entre riqueza e miséria. O documentário Ilha das Flores também. Os nossos olhos já registraram esta contradição e as mentes tentam fugir dela. Queremos, para nós, o belo e a riqueza. Rejeitamos, na teoria, a fome e a miséria, para os outros. Mas nunca na prática. Alguns, inclusive, querem manter tudo como está, achando que o incômodo da fome do outro não o incomodará (reflexões de avestruz). Fazem até campanhas contra a esmola. Combatem o assistencialismo sem apresentar outras soluções. Falam que o governo deveria gerar empregos e defendem as empresas privadas. As mesmas que não cansam de gerar desempregados. Falam em igualdade sem revoluções. Quando é possível, enterram a cabeça na areia e não percebem que e miséria mora ao lado. Sim, o tema da desigualdade  e da fome sempre se apresenta. Ainda agora ele bateu em minha porta e saiu a poesia nomeada provisoriamente de "Lá Se Foi A Rebelião". No final, como é de costume, segue um pequeno clip com a música e uma viagem sobre algo que realmente é globalizado, a fome. É só clicar no endereço e assistir.


Lá se foi a Rebelião

A fome de alguns
O riso de poucos
O que há de bom
Ninguém liga
Como se consegue passar
Ela come abacaxi
Uma outra ela observa
Uns teclam
Uns inspiram, aspiram
A vida passa
Sem sustância
Sem feijão.
Risos
E queremos comida
Rebeliões nas ruas e nas casas
Frutas sujas
Bocas vazias
Frutas ausentes
Apenas matar
Matar a fome
Está bom, então.
Risos
Lívidas gargalhadas
Amadas fomes
Elas amam rir
Até da própria fome
As pessoas
Contradizem
A lógica social.
Feijão com farofa
Óleo de coco
Nem filósofos
Nem sociólogos
Nem poetas
Estão a compreender
Que a farofa entala
Ou vira mingau.
A lógica da farinha
Sem pirão
Não sustenta a criança.
Elas calam
Feijão na boca ou fome
Consomem o riso e o siso
Lá se foi a rebelião
Bolsa  para todos
Risos
Pernas longas, barrigas d'águas.
Ao seguirmos
O Visitante,
Irmão das bolsas,
Seguimos cegos
Mas Ela promete
Erradicar a fome
Irmã das bolsas
Ninguém liga
O risos de poucos
É o que há de bom.

Rio,  27 de Novembro de 2010
23h e 51 min.
                      
                     http://www.youtube.com/watch?v=WUHa12ep5KA (Clip com um a canção Miséria  dos Titãs e uma amostra da geografia da miséria no mundo)
                         

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

MESTRE ANGENOR

          O carroceiro do imperador, Angenor, partiu em uma viajem já fazem trinta anos.Vira e mexe, Angenor de Oliveira nos visita nas ondas dos rádios ou nos sonhos. Angenor  foi um arruaceiro do Bloco dos Arengueiros. Não gostava de estudar (ou, talvez, apenas não gostava da escola, que não era de bambas nem de samba), mas se fez conhecido como mestre . Parte da vida, foi lavador de carro e pedreiro- essa vida é mesmo um moinho!. Tentou alguns poemas, mas se encontrou com as palavras no samba. Quando criança morou em laranjeiras, mas, bom "jardineiro", plantou uma mangueira e nos deu  "as rosas não falam.", a mais bela canção popular do Brasil. Angenor  de Oliveira, quem conhece não esquece mesmo. Sim, não esquece. Angenor  de Oliveira  de Mangueira .  Mestre  C   A  R  T  O  L  A. Negro verde  e rosa  

PS: Após a leitura, reler só as partes rosas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ALGUMAS CANÇÕES AFRICANAS

                                                     (Zenzile) Mirian Makeba ou
                                                               "Mama África

No princípio, quando a "verba" ainda não fizera da África do Sul uma terra do futebol bilionário da FIFA, quando o líder negro Mandela era um prisioneiro e descendentes europeus controlavam o país, a luta contra o aparthaid servia de reportagens apresentadas quase todos os dias nas nossas televisões. O povo negro africano "lutou, morreu", enterrou seus mortos e cada cerimônia de enterro era um novo protesto regado com sangue, bravura e músicas.

Um dos nossos maiores artistas, o alagoano Djavan nascido no mesmo estado da Serra da Barriga onde surgiu o Quilombo dos Palmares, gravou algumas destas canções em discos primorosos da década de 80. Gravações de uma época em que ser politicamente correto era ser politizado e/ou lutar por uma causa que se considerasse justa. E Djavan não estava só entre os cantores brasileiros que se preocupavam com os irmãos africanos. Clara, Martinho, Nei Lopes são exemplos  de artistas com esta preocupação. Em todos eles, a arte da melodia é interligada à arte da poesia social. Neles a práxis se fazia na própria arte. Artistas e intelectuais populares (no fazer e para quem fazer) eram uma só coisa.

Na véspora do dia 20 de novembro (dia usado para se comemorar Zumbi e repensar as relações sociais que também se baseiam em diferenças de etnias) creio que uma bela proposta para se pensar a beleza do povo africano seria retomar as suas canções e as suas línguas. Abaixo podemos ler a letra de uma canção africana. Podemos ouvir também a melodia e a pronúncia da letra cantada por Djavam no primeiro vídeo e pelo mesmo com acompanhamento de Lokua kansa no segundo. Vale a pena ouvir até o final as belíssimas canções. Vale também consultar o blog "Angola do Outro Lado do Tempo" onde se encontra um pouco da nossa história. É só ir na coluna "Vale Consultar" e clicar.
 
Nkosi Sikeleli Africa
Malup hakanyiswu phondolwayo
Yiswa imithanda zo yethu
Nkosi Sikelela
Thina lusapolwayo
Nkosi Sikeleli Africa
Malup hakanyiswu phondolwayo
Yiswa imithanda zo yethu
Nkosi Sikelela
Thina lusapolwayo
                                                             



Felipe Mukenga é o compositor das duas canções
( Nvala e Humbiumbi) cantadas por Djavan e Lokua Kansa.


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Papel

Papel é  matéria-prima de se fazer
poemas
para serem triturados
pelo olhos
pelo cérebro
pelo sangue
pelas glândulas
pelo corpo...
pelo ser.

12 de novembro de 2010 (01h16m)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

LIBERTO, CAPOEIRA E JOGO DE ANGOLA

No próximo dia 20 comemora-se no Brasil o dia de Zumbi. Além disso, é um dia consagrado para se refletir tanto a influência dos negros em nossa sociedade, quanto as dificuldades que estes passam devido a todo o nosso processo de construção que baseou-se, desde 1530, na exploração da mão-de-obra escrava (tanto a dos nativos, quanto a africana). Este processo histórico perverso nos deixou um legado de injustiças sociais e diversos preconceitos que se estabeleceram e se recriam em nossas consciências. Talvez por isso, o dia 20 é também chamado de Dia da Consciência Negra. Consciência, porém, não tem raça, não tem cor ("alma não tem cor", nos diz a canção). Mas nossa história produziu um racismo que começa pela crença de que existem raças. O que é em si uma polêmica. Cientista discutem se há geneticamente apenas a raça humana ou se culturalmente nossas consciências e nossas ações criam raças, além das etnias e pigmentações de nossas peles. É a genética (biologia) ou a cultura (antropologia) quem tem razão? Creio que isto não importa tanto, pois consciência não tem cor. Tem erros e acertos, tem humanismos, machismo, feminismo, racismos e preconceitos. Tem influências políticas, culturais e históricas que se traduzem em ideologias no sentido de visão de mundo e que, em determinados momentos, são utilizadas por lideranças das mais diversas formas, incluindo a promoção pessoal ou a produção de novos preconceitos.

Prefiro pensar o Dia da Consciência Negra como apenas mais um dia de luta e reflexão contra os preconceitos de cor/etnias. Penso também este dia como possibilidade de facilitar a integração entre as pessoas e de podermos combater todos os preconceitos, inclusive aqueles que não sabemos que temos, como demonstrar ter alguns líderes do movimento negro que, na luta justa pela defesa dos direitos dos que se consideram negro, esquecem que muitos desses direitos também faltam aos outros pobres que tem cores  diferentes em suas peles. Não custa lembrar que ainda não somos todos igualmente libertos e que alguns nos escravizaram e ainda nos escravizam. O dia 20 de Novembro (dia da comemoração de Zumbi, um dos líderes do quilombo de Palmares onde habitavam negros e brancos) precisa ganhar força não como uma festa de uma raça/etnia/cor/povo, mas como festa e luta de todos os brasileiros que ainda sofrem com os preconceitos sociais (de raça, riqueza, profissão, região, religião, etc) e precisam lutar contra as explorações da nossa sociedade capitalista. Estes que sofrem e que precisam lutar formam o tal irmão do primeiro poema, independente da auto-classificação de cor.
  
. Segue também um poema de minha juventude e uma canção também desta época com a letra feita pelo poeta P.C. Pinheiro e interpretada por uma das melhores cantoras do Brasil, Clara Nunes. Pois é: uma foto inspira um poema que faz renascer a lembrança de um mais antigo e de uma música e, por fim, desta pequena introdução. A consciência não tem cor e trava batalhas contra os limites.


      liberto

  preso estou
  amarrado e preso
  estou amarrado
  preso pelos pés
  banzo prisioneiro sou
  pés presos amarrados
  prisioneiro estou banzo
  amarrado e preso
  preso estou.

  ouço um zumbido
  longe a zumbar
  traz recado orunmilá
  eu zumbi também
  e zumbe ganga-zumba
  e zumbe zumbi
  zambiapongo, vem!

  fim do oribi
  liberto estou
  ó, zambe!
  libertação
  quizomba
 ouço zabumbadas
 e que sambe,
 sem zanga
 ó, zambe!
 livre todo irmão.

Rio, 10/11/2010 (2h30m)




       Capoeira
Negro cantou, negro cantou
Negro cantou era noite
Corda cantou, corda cantou
corda cantou era açoite

Dizem que é bela a vida
Mas vida pra negro né bela, não
A vida jamais é bela
Quando existe açoite e escravidão

Negro fugiu, negro lutou
Negro então se libertou

Pois negro é bom
Pois negro é bom
Pois negro é bom
Na capoeira

Mas um dia, então, negro caiu
Vacilou, levou rasteira:
Homem rico prendeu negro
E deu-lhe uma "carteira"

Negro tá preso até hoje, então
Seja manhã ou seja noite.
Já não há corrente, nem açoite
Mas a tal "carteira" é escravidão

Mas negro é bom
Mas negro é bom
Mas negro é bom
Na capoeira

Um belo dia eu sei vou ver
Negro outra vez se libertar
Não vai ter açoite, não vai ter "carteira"
Pois negro é bom na capoeira

E só pra lembrar Jubiabá
Negro é preto, é branco, é prostituta
E qualquer um é negro
Quando se deixa explorar.
Mas negro é bom na capoeira.
   Rio, 24/04/84

Clara não foi a única a cantar esse sofrimento e
 a gravação não está muito boa, mas vale ouvir.


      Jogo de Angola
(Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro)


No tempo em que o negro chegava fechado em gaiola,
Nasceu no Brasil,
Quilombo e quilombola,
E todo dia, negro fugia, juntando a corriola.


De estalo de açoite de ponta de faca,
E zunido de bala,
Negro voltava pra Angola,
No meio da senzala.


E ao som do tambor primitivo
Berimbau mharakê e viola,
Negro gritava “Abre ala”
Vai ter jogo de Angola.


Perna de brigar,
Camará...
Perna de brigar,
Olê...

Ferro de furar,
Camará...
Ferro de fura,
Olê...


Arma de atirar,
Camará...

Arma de atirar,
Olê... Olê...


Dança guerreira,
Corpo do negro é de mola,
Na capoeira...
Negro embola e desembola...
E a dança que era uma festa para o dono da terra,
Virou a principal defesa do negro na guerra,
Pelo que se chamou libertação,
E por toda força coragem, rebeldia,
Louvado será todo dia,
Esse povo cantar e lembrar o Jogo de Angola,
Na escravidão do Brasil.


Perna de brigar,
Camará...
Perna de brigar,
Olê...

Ferro de furar,
Camará...
Ferro de furar,
Olê...

Arma de atirar,
Camará...
Arma de atirar,
Olê... Olê...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CINCO POEMAS ANTIGOS / ANOS 90

Há pouco tempo o poeta me confessou que queria que as eleições acabassem logo. Disse-me ele que um tal sociólogo metido a besta havia invadido seu espaço e que praticamente monopolizara o Blog. Disse-lhe para ter paciência, pois o momento pedia um pouco de reflexão sobra o mundo social. Ele, com o seu jeito casmurro, respondeu-me que isto ele também já fazia, mas de uma forma menos chata e com poesia. Percebi que era ciúme e fingi que ele tinha razão... Ele disse, "deixa estar, vou postar um bando de baboseiras minhas e quero ver". Pois é, tive que postar esses 5 poemas antigos para satisfazer o poeta ciumento que mal sabe que o sociólogo metido a besta quer mais é descansar, dormir, sonhar (ter pesadelos e delírios) com uma tal moça que conheceu faz pouco e chamam de Dilma.


FLORES E CIDADES

Flores lindas, flores cheirosas
flores, florestas e paixão.
Flores vida, flores mortes
Flores florestas e coração

Haviam flores, florestas e mares
Haviam flores, mares e marés
Haviam flores, corações e amores
Haviam flores, paixões e fé

Haviam não homem e mulher
Depois flores, homem e mulher
Flores, florestas depois cidades
Cidades haviam, flores também
Cidades, homens, flores, mulheres.

Haviam flores e florestas
Depois flores e cidades
Hoje... hoje?

Rio, 17/09/90



CONVITE
As andorinhas bailam no ar
Anunciando que hoje é mais um dia de festa,
Não por ser diferente dos demais,
Mas é que estamos vivos
Eu, a andorinha e você,
E isto  nos é um bom motivo:
Viver, meu amor, Já é a festa
vamos bailar.

Rio, 27/11/90




PORTAS N. 02

O que me importa
As portas que o mundo
Fechou para mim?
Parece absurdo
Mas sou poeta
E, nessa agonia,
Prefiro transpassar as paredes
Abandonar a concretude
E beijar a poesia.

18 DE MARÇO DE 1991

ABSTRAÇÃO e JUBIABÁ

ABSTRAÇÃO

(Para o Amigo e Irmão Nestor)

Existe o ser em si
Ou o ser no mundo?
Ser em si, é claro, uma ilusão,
 Uma abstração.

Mas estando no mundo,
Sendo ser-no-mundo,
Posso esquecer o outro
E tornar-me apenas ser-em-mim?

Sonho da individualidade,
Abstração de querer ser sem estar,
Utopia que se ilude e se esquece
Que a plenitude do ser em si
É ser no mundo.

 Rio, 27 de Maio de 1991.




JUBIABÁ

( para Jorge amado)

A noite cai sobre o morro
As luzes dos barracos acendem
Estou nos olhos do negro Balduíno
Quando miram o poema concreto
Feito pelo natureza e pelo homem pobre desse país,
Mas onde digo natureza leia-se Brasil.
A noite cai sobre o povo
(Não a noite dos generais)
Que mesmo assim cria poesias,
Onde digo noite se ouve pobreza
E onde digo poesia literalmente é poesia mesmo,
Ou outra coisa não seria
Sobreviver aqui e, apesar disto,
Criar a vida e a felicidade?
A poesia maior desse país
Cujo poeta maior é o povo
É escrita de noites, luzes e jubiabás. 
  
  Rio, 01 de junho de 1991



sábado, 30 de outubro de 2010

Um Brasil Mais Reacionário e Mais Conservador


Qualquer que seja o resultado das eleições de amanhã, o Brasil sai perdendo. Não afirmo isto pensando nas qualidades dos candidatos ou de seus partidos, mas em uma reflexão sobre as temáticas e as propostas surgidas do debate político que foi realizado nos programas eleitorais de rádio e TV, nos debates entre os candidatos e nas ruas pelas pessoas ditas comuns.


Sem saudosismo dos anos transformadores da década de 80, poderíamos agora, pelo menos, não sermos tão reacionários e conservadores no mau sentido da palavra. Mas é isto que se deu como principal resultado dessa campanha eleitoral. A campanha de direita de Serra jogou o PSDB ainda mais para o conservadorismo cultural  e para o lado mais reacionário do empresariado, principalmente o rural. E o pior é que a sua campanha também arrastou  a de Dilma para o conservadorismo dos costumes culturais. Foi triste ver a antiga guerrilheira que combateu a ditadura ter que, assim como Serra, passar a rezar em frente as câmaras (pareciam até jogadores de futebol, em nossas telas de tv, confessando uma crença, ostentando milhões e se dizendo seguidores do camponês de Nazaré e não de Calvino).

O Brasil sai mais conservador e sai mais reacionário. O Gigante pela própria natureza sai menor. No sentido cultural e libertário, sai menor do que o Brasil dos anos 80. É só pensarmos nos atuais candidatos Dilma, Marina, Serra etc. e os compararmos com aqueles de 1989, da primeira eleição realizada com voto direto para presidente após a ditadura de 1964. Na primeira eleição, por exemplo, o PT apresentava o candidato Lula como representante dos movimentos sindicais e sociais de esquerda  e o PSDB tinha Mário Covas como candidato de um capitalismo social-democrata. Gabeira era o candidato vindo da esquerda armada e que não defendia um mero capitalismo esverdeado. Brizola era o candidato do PDT e seus CIEPS e Roberto Freire do PPS ainda se dizia socialista.


Todos esses partidos, talvez com inveja da vitória da direita- que se deu através do nanico PRN de Collor e do apoio da Globo-,  caminharam para a direita ou para o centro. Um dos primeiros grupo a fazer esta caminhada foi a ala  ligada a Fernando Henrique e a outras lideranças  do PSDB que só não assumiu ministérios no governo Collor porque Mario Covas, que havia apoiado Lula no segundo turno, lutou contra as ideias dessas lideranças do seu partido de dar governabilidade a um presidente com as suas ideias capitalistas liberais e anti-sociais. Esta ala psdbista acabou se incorporando ao governo do vice de Collor, o mineiro Itamar, e FHC tornou-se embaixador nos EUA de onde voltou para ser ministro da economia. Gerenciou no Brasil, a reengenharia da moeda nacional (o mesmo que foi feito na Argentina e em outros países latinoamericanos) e ganhou força eleitoral através do massivo apoio que recebeu da mídia monopolista.


Entre  1995 e 2002 o ex-embaixador FHC administra o Brasil. Seu governo só não foi ainda mais catastrófico porque a nível mundial vivíamos uma época de deflação. Apesar disto teve dificuldade para controlar os preços no Brasil e, para isso, arrasou as nossas reservas cambiais e nos deixou como herança multiplicação gigantesca da dívida externa. Após as eleições tentarei analisar um pouco melhor porque o governo de FHC foi muito mais prejudicial para o Brasil do que a nossa vã imprensa nos permite perceber. Sugiro que o leitor leia, entre outros, o blog do cientista político Teotônio dos Santos e veja o video postado mais abaixo em que Cyro Gomes diz porque rompeu com o PSDB de FHC e opina sobre Serra.


O PT, para conquistar a presidência, adotou o realismo político e também caminhou para a direita e é hoje um mero partido trabalhista de centro, como o fora o PDT de Brizola. Esta forma de trabalhismo tenta oferecer um pouco para os trabalhadores cooptando suas lideranças ou lutando contra estas em nome de uma massa despolitizada e desorganizada. Nesta caminhada, Lula foi beijar a mão de Roberto Marinho e o PT perdeu os seus grupos mais a esquerda e enfraqueceu uma grande quantidade de sindicatos e de movimentos sociais que tinham no partido uma liderança importante nos anos 80.


Lula acabou vitorioso em 2002 e realizou de maneira muito mais eficaz os projetos do PSDB e do PDT: crescimento econômico agradando a maior parte do empresariado (e não só aos banqueiros, como ficou claro no segundo governo de FHC), apoio social das massas desorganizadas a partir de projetos assistencialistas e cooptação da maior parte das lideranças sindicais. A eficácia do governo Lula em realizar a social-democracia à moda brasileira, isto é, um trabalhismo varguista em tempos democráticos, conduziu o PSDB para os braços dos empresários insatisfeitos e mais reacionários: a direita latifundiária e suas defesas da propriedade da terra que, conforme a Constituição, é um bem social.

Sem um bom candidato dos partidos mais a direita, como o DEM, por exemplo, a direita apostou as suas fichas na derrota de Dilma e, por isso, aceitou até mesmo que Marina fosse tirada do ostracismo e propagandeada. Não que ela fosse a candidata da direita, mas é que com o seu crescimento aumentava  a chance de derrotar a candidatura oficial e possibilitava um segundo turno. Além disso, foi usada a mídia para "desconstruir" a imagem, desconhecida pela grande população, de Dilma. Foi usada tanto a mídia empresarial (O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja, Época...), quanto os computadores da classe média e panfletos apócrifos.


Mas na verdade, a direita se aproveitou mesmo foi do desejo de Serra de ser presidente para apresentar, além das clássicas propostas liberais para a economia, um desfile de ideias conservadoras ou reacionárias para a vida social que, inclusive, cuspiu seu ódio aos trabalhadores do campo que lutam pela reforma agrária e contra o latifúndio. O desejo egocêntrico de um candidato de se tornar presidente e a direita liberal (sic) se uniram e trouxeram para o público uma conservadora campanha moralista (ou como define uma amiga: fm, falsa moralista). A este grupo uniu-se a parte mais reacionária das Igrejas e suas campanhas contra o aborto e contra os grupos homoafetivos.

Até as musiquinhas de campanha dos candidatos nos mostra o lado conservador destes: a musiquinha de Dilma diz que vai conservar o que ocorre hoje para seguir mudando. Ou continua ou muda? Na verdade o que não se diz é que o que ocorre no governo Lula é uma "transformação conservadora",  um termo técnico para se definir as pequenas mudanças mais populares que se propõe a conservar o sistema capitalista intacto, sem grandes ameaças.
A musiquinha do Serra- que é muito bem feita, diga-se de passagem- diz que ele é do bem. Ora, mas que visão da política mais moralista (f.m. ?) poderia ter uma campanha a presidente. O que é ser do bem? É se colocar contra o aborto e regulamentá-lo? É se colocar contra a corrupção e ser a liderança de um governo cheio de escândalos de corrupção como o do metrô de SP ou de Paulo Preto? Ou ter participado como ministro do governo  que nos deu os escândalos da pasta rosa, do Sirvam, etc? A musiquinha tem endereço certo: ser do bem é o que querem ouvir os conservadores religiosos e nacionalistas que acham que greve é baderna e não direito social, que homossexualidade é coisa do diabo e não um direito de escolha pessoal, que frequentar umbanda e candoblé é coisa do malígno e não uma parte do  direito constitucional que defende a liberdade de crença religiosa, etc.


Nem o primeiro turno nos salvou do conservadorismo ou da reação de direita. Marina com o seu linguajar moderno nos oferecia um capitalismo velho com ideologia nova: desenvolvimento/crescimento sustentável (conserva-se a natureza e a exploração do homem pelo homem). A ideologia é atraente, mas é uma ideologia conservadora. Os funcionários das empresas Mundo Verde, Natura, Boticário podem atestar a exploração. Além disso, as patentes que vão parar nas mão de empresários-verdes acabam expropriando o pouco de riqueza coletiva que ainda resta para a humanidade.


Os outros candidatos não tiveram nenhuma influência eleitoral. Zé Maria lidera um partido com alguma influência no sindicalismo, mas que não consegue ser um elo entre as bases exploradas e as lideranças sindicais. O mesmo ocorre com  Plínio e o PSOL, que não consegue abrir espaços além da burocracia estatal. O PCB, além de não atualizar suas ideias e discurso queria combater a insônia e nos apresentou uma versão do hino da Internacional  que mais parecia uma canção de ninar. A juventude deve ter achado que comunismo é coisa que dá sono Os nanicos da direita apenas queriam propagandear a luta empresarial pela diminuição de impostos.


Saímos desta campanha com um país mais homofóbico, mais reacionário e sem uma perspectiva clara para as futuras lutas dos trabalhadores contra as desregulamentações de seus direitos trabalhistas onde se incluem o direito ao trabalho remunerado, a aposentadoria, o décimo terceiro, as férias remuneradas e o direito à greve e outras conquistas das lutas dos trabalhadores brasileiros no decorrer do século XX, principalmente nos anos 80. Saímos das eleições sem discutir a industria cultural e com uma uma imprensa empresarial que chantageou, usando o seu monopólio, os candidatos e a dita democracia que fora conquistada por milhões de pessoas nas ruas dos anos 80. Saímos desta eleição com o risco do golpismo da nova direita sempre nos ameaçando e falando em democracia. Saímos mais reacionário e o Brasil saiu menor, o gigante apequenou-se outra vez. Mas a fila anda, o tempo não para e o amanhã há de ser outro dia.                        

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AS CONCEPÇÕES DE ESTADO DO PSDB E DO PT: LIBERALISMO VERSUS DESENVOLVIMENTISMO

Parece que retornamos ao debate político e econômico dos anos 50 e 60. O Mundo capitalista brasileiro parece um eterno retorno de suas dúvidas: ser ou não ser liberal? Ser ou não ser desenvolvimentista? Ser tsunami ou marola?
              
Como sabemos, a luta empresarial pelo aumento da taxa de mais-valia tornou-se ainda mais forte no período posterior aos anos 80 do século passado e dois fatores, entre outros, possibilitaram que o aumento da ganância empresarial se realizasse através da política: o fim do chamado socialismo real europeu e as políticas econômicas efetivadas pelo países capitalistas que ressuscitaram o velho liberalismo. Este último fator, que foi capitaneado pelos EUA e pela Inglaterra, passou a ser chamado pelo apelido de neoliberalismo e foi ganhando corpo em diversos países, inclusive no Brasil de Collor e FHC.

O apelido neoliberal tentava passar como novidade um velho receituário do século XVIII.  Acharam que éramos neobobos e  venderam para o mundo o passado como novidade. O discurso, articulado por marqueteiros e pela mídia empresarial, parecia moderno e convenceu parte do eleitorado do mundo de que o paraíso era o capitalismo selvagem. E, assim, cabia ao Estado ser um mero espectador da ganância empresarial devorando os empregos, os impostos, as empresas públicas, as moedas nacionais e os limites nacionais com as suas barreiras alfandegarias. Na verdade, era a continuação da mundialização do capital já refletido no Manifesto Comunista  por Marx e Engels ao tratarem da expansão do mercado mundial.

O liberalismo dos economistas clássicos do século XVIII criou a a falácia de que o Estado não deve intervir na economia. Afirmo que é falácia porque ele sempre intervém. Nem que seja para abrir mão de impostos (normalmente das empresas) ou para usar a sua força militar e patronal para impedir greves, como o fez o governo de FHC em 1995 usando tanques de guerra para acabar com a greve dos petroleiros e com as demissões em massa para punir os grevistas. Além disso, o Estado intervém também quando vende as riquezas públicas ou quando empresta dinheiro para as grandes empresas.

No Brasil pós-Collor, principalmente no período do governo de FHC, imperou por aqui o ideário do liberalismo. Nosso príncipe dos sociólogos, conforme foi chamado Fernando Henrique Cardoso pela  mídia serviçal, acreditou na velha mão invisível de Adam Smith e na ideologia elitista de que "o que era bom para os países do chamado primeiro mundo era bom também para o Brasil". Esqueceu até mesmo dos textos que leu de seu antigo companheiro de academia , o cientista político Hélio Jaguaribe.

Jaguaribe, apesar de seus equívocos teóricos e políticos, demonstrava, mesmo antes de 1964, que o liberalismo das economia capitalista dos EUA e Inglaterra era possível porque ambos os países estavam historicamente na frente no início da Revolução industrial. Atrasada na história do desenvolvimento industrial, a Alemanha de Bismarck e da luta pela unificação no século XIX seguiu outro caminho e se preocupou em fazer um estado interventor para proporcionar o desenvolvimento do novo país unificado.

Jaguaribe acreditava na necessidade de uma terceira via entre o liberalismo capitalista e o socialismo soviético. Assumiu a defesa de um estado neobismarckiano autoritário e com forte influência da burguesia industrial para que houvesse uma socialização do capitalismo. Como sabemos, acabamos em um uma ditadura com uma gigantesca concentração de renda e dominada pelo capital financeiro. Em finais dos anos 70,  a ditadura burguesa perdia força e a burguesia industrial fez coro com aqueles que lutavam pela redemocratização do Brasil. Mais tarde, em 1988, Jaguaribe se juntou a  outros intelectuais ligados à burguesia brasileira e ajudou a fundar o PSDB. A proposta de socialização do capitalismo como forma de combater o socialismo das origens do PT é bastante visível na candidatura de Mário Covas e do PSDB dos anos 1990.

Em 1994 o PSDB conquistou a presidência e o poder do Estado nacional através da candidatura de Fernando Henrique Cardoso, o ungido pela mídia empresarial, mas as ideias deste divergiam das ideias de Jaguaribe. As únicas semelhante eram o combate ao socialismo e a visão autoritária em relação às organizações dos trabalhadores, como bem demonstra o caso da greve dos petroleiros de 1995, nos primeiros meses de seu governo. Por outro lado, FHC não acreditou que o motor do desenvolvimento era a burguesia industrial, como defendia Jaguaribe. O então presidente manteve a hegemonia do setor financeiro (banqueiros nacionais e internacionais) e acreditou que despachar as nossas empresas estatais (vendidas a preço de banana) era a solução. Era a visão neoliberal derrotando a social democracia de seu partido e a socialização do capitalismo de Jaguaribe. A hegemonia da ideologia neoliberal no PSDB de Fernando Henrique deu no que deu: quase falimos, nossa economia além de deficitária destruiu parte do nosso parque industrial, o real pré-fixado em um dólar impulsionou as importações de supérfluos (o paraíso da classe média consumista) o que ocasionou uma quase destruição das reservas cambiais causando baixas no ninho tucano. Um exemplo foi o apoio de Cândido Mendes ao candidato Lula e a saída de Cyro Gomes que hoje circula no complexo partidário formado pelo PT-PSB-PDT-PCB  e parte do PMDB.
Este complexo partidário capitaneado pelo PT não tem nada de revolucionário. Não pretende tornar o país socialista e nem mesmo baixar a taxa de mais-valia dos empresários. Mas sua visão estrutural de como deve ser uma sociedade capitalista é diferente daquele que pretende o retorno do  velho (neo)liberalismo da era que vai de Collor até FHC. Esse grupo não é contra todas as privatizações, mas defende que algumas empresas estratégicas sejam administradas pelo Estado com dois propósitos: possibilitar uma espécie de desenvolvimentismo independente (o que difere do desenvolvimentismo do período, que acabou aumentando o descontrole cambial e posteriormente nos levou à crise da dívida externa pré-1964) e poder financiar uma pequena distribuição de renda que não significa necessariamente diminuição das desigualdades. Neste sentido, a concepção de Estado do PT e de seu complexo partidário é de um neodesenvolvimentismo que tenta pactuar um maior número de capitalistas e fazer uma pequena marola de redistribuição de renda como forma de impulsionar o mercado consumidor interno. Seria uma espécie de socialização do capitalismo proposto por Jaguaribe? Seria, como pensava este, uma forma de evitar cair no falido liberalismo e no socialismo soviético?

No período neoliberal de FHC a desigualdade além de aumentar (como em qualquer país neoliberal) não possibilitou em seu segundo mandato redistribuir renda. No primeiro, o fim do processo inflacionário e as reservas acumuladas nos dois anos de Itamar Franco permitiram que uma parte dos mais pobres tivesse uma pequeno aumento do poder de compra. Isto facilitou a reeleição do "príncipe" sociólogo, porém, assim que urnas se fecharam, o real caiu na real e descobriu que valia apenas meio dólar. As reservas cambiais estavam no fim e o governo FHC reduziu o valor da nossa moeda. Como dependíamos muito dos dólares, as taxas de juros eram realmente gigantescas. Com a inflação baixa, FHC deixou o governo com a taxa selic em torno de 20%, era um juros muito alto, assim como deixou alto o risco Brasil, a dívida externa e a interna que fora dolarizada nas negociações do seu governo com os credores. O que não era bom para os países ricos, foi trágico para o Brasil, México Argentina, etc. Só quem ganhou foi o grupo de banqueiros que viviam de juros sem produção. Dinheiro gerando aumento de dinheiro para meia dúzia sem nada produzir. Não era nem capital financeiro, era meramente capital bancário ou de agiotagem legalizada pelo liberalismo.
Mas se este modelo adotado pelo PSDB deu errado, porque a maior parte da imprensa luta tanto para impor o candidato do seu partido,  Serra? É só abrirmos as páginas de O Globo/Extra, Folha de São Paulo, Veja, Estado de São Paulo, Época, etc para percebermos que uma grande parte da imprensa se coloca como partido. Inclusive, alguns assumem que se colocam como partido de oposição dizendo que no Brasil a oposição é muito fraca. Mas porque esse grupo dominante da imprensa (que as vezes alguns analistas chamam de PIG: Partido da Imprensa Golpista)  faz a defesa da candidatura neoliberal?

Podem ser muitas as respostas mas uma das desculpa dada por esse setor da mídia é a necessidade de se diminuir impostos para diminuir o custo Brasil (aumentando o lucro dos empresários) e combater  o Estado chamado de deficitário que, por exemplo, mantém as atuais regras para a aposentadoria. Para esse setor da mídia o projeto neoliberal combate de forma mais contundente essa questão. Quase todo santo dia a mídia empresarial nos apresenta a pregação , por exemplo. do velho ministro da ditadura de 1964, o Sr. Reis Veloso, repetindo o velho sermão de que o Estado terá que fazer mais uma reforma previdenciária tirando direitos dos funcionários públicos e trabalhadores do setor privado.  Nos dois casos, quem ganha de fato é a classe empresarial que, além de aumentar a sua taxa de mais-valia através da diminuição dos custos dos impostos, teria mais possibilidade de conseguir empréstimos mais baratos financiados pelo BNDES estatal e outros bancos do Estado. Além disso, a venda de empresas estatais para empresários brasileiros e estrangeiros possibilitaria a estes a compra de ativos extremamente lucrativos que hoje, estando nas mãos do Estado, não podem enriquecer ainda mais as grandes empresas financiadoras da maior parte da grande imprensa.

Portanto, está em jogo na atual eleição duas concepções capitalistas do Estado. O PSDB, que não tem nada de social-democrata, propõe um modelo liberal surgido no século XVIII e adaptado nos últimos 30 anos. Sua proposta cria tsunamis sociais como tem ocorrido nos EUA, Grécia, França Espanha, Portugal e, em breve, na Inglaterra.

Por outro lado, o modelo capitalista do PT propõe um Estado desenvolvimentista que busca um crescimento mais"independente" e pautado nas empresas privadas e em algumas estatais que alavancariam o crescimento econômico. Propõe marolinhas de distribuição de renda a partir do assistencialismo e, para isto, necessita de manter a arrecadação de impostos, o que ocorre ou via crescimento das alíquotas ou, como tem sido feito, via aumentos da arrecadação acompanhando o crescimento econômico. Sua proposta, creio, está mais perto da socialização do capitalismo para impedir a luta pelo socialismo de Hélio Jaguaribe do que a que foi feita por FHC e é proposta por Serra. Além disso, estes mantém a visão autoritária daquele autor e o PT tenta dialogar de forma a hegemonizar as organizações dos trabalhadores.

Marolas ou tsunamis, eis ainda a questão. No próximo domingo saberemos o caminho que tomaremos. E, é claro, o debate retornará. Os anos 60 e o século XVIII ainda estão presentes aqui e agora.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

PIG, TSUNAMIS E MAROLAS (A IMPRENSA GOLPISTA)


                                         
 Acho que o vídeo que apresento agora é muito didático no que diz respeito ao papel da grande imprensa e da oposição de direita. Creio, porém, que é necessário um esclarecimento sobre a sigla P.I.G. (Partido da Imprensa Golpista) que foi formulada na tentativa  de denunciar uma das funções políticas que une a maior parte da imprensa empresarial com a política partidária. O P.I.G. usa do seu poder ideológico para, de forma "porca", tentar impor ao público seus candidatos e seus interesses privados. O P.I.G. seria um verdadeiro partido formado pela imprensa empresarial e apoiado por outros grupos de empresas que financiam seus interesses.

Não é difícil perceber que o que este grupo da imprensa publica é retransmitido pelo candidato do neoliberalismo e, por outro lado, o que este denuncia (com ou sem provas) ou propõe vira pauta da mesma imprensa. Por outro lado, as críticas e as denuncias contra este mesmo candidato não ganha repercussão ou são abafadas. É o caso do aborto que foi censurado como ideia, mas não foi investigado como algo possivelmente efetivado por pessoa da família do candidato que foi beneficiado pela tal censura. Outro exemplo é o tráfico de influência e de desvio de verba acontecidos na casa civil...de São Paulo (Brasília não é a ilha isolada da corrupção, é apenas uma parte desse arquipélago formado por setores privados e públicos do país).

O P.I.G seria formado pela maior parte dos jornais, canais de televisões, rádios e revistas, incluindo o sistema Globo, o jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, as revistas Época e Veja, etc. Não é difícil, nesse exato momento, analisar as ditas reportagens desse grupo e perceber que repetem as mesmas ladainhas a favor de uma das candidaturas. Por outro lado, remando contra a correnteza produzida pelo P.I.G., alguns grupos menores da imprensa tentam, nesse momento, um pouco mais de neutralidade (visto que a objetividade total é, comprovadamente, impossível) e este é  o caso de O Dia, Isto É e Carta Capital.

 Espero com o vídeo abaixo possibilite a percepção de um fato simples: o que a oposição neoliberal defende é o mesmo que o P.I.G. anuncia e defende em relação ao papel do Estado brasileiro: cortar gastos e seguir o receituário liberal- receituário este que  trouxe, como demonstra qualquer análise rápida da história, prejuízos para os trabalhadores mundo afora.

A proposta neoliberal aumenta a ganância da elite empresarial em relação às riquezas públicas (estatais) e isto tem gerado crises sociais. O défit público passa a ser o demônio a ser exorcizado e o lucro o velho deus a ser louvado. É só olharmos para os EUA e  os Estados capitalistas da Grécia, Espanha, Portugal , França... para vermos o resultado: desemprego, fome, desabrigados, desregulamentação dos direitos trabalhistas, greves e grandes conflitos sociais.

Tsunamis ou marolinhas,  eis o que está em  questão no embate político brasileiro: Estado neodesenvolvimentista com marolas de distribuição da renda pública ou o Estado neoliberal e os tsunamis da concentração de renda. Marolas ou tsunamis? Ser ou não ser? Como disse o poeta: "quem viver, chorará".




P.S.: A seguir transcrevo um texto retirado do portal da Carta Capital que foi publicado no dia seguinte a minha postagem neste blog. Creio que o texto ilustra bem o que escrevi. O título- A verdade factual às favas- resume bem o que faz o P.I.G. ao construir versões enganosas de fatos que, em suas folhas de jornais, são apresentados e vendidos como verdades absolutas, mas não passam de ficções para serem usadas na política.

                                             A verdade factual às favas
                                                    (Sergio Lirio)

21 de outubro de 2010 às 15:23h

A mídia torna secundárias as principais conclusões do caso da quebra de sigilo fiscal de tucanos.

Na segunda-feira 18, durante a premiação das empresas mais admiradas do Brasil, Mino Carta causou certo mal estar na platéia de empresários ao falar, entre outras, que a mídia brasileira não costuma se guiar pela verdade factual, pelos acontecimentos como eles se deram. Prefere as versões de seu interesse. Mas como discordar dessa afirmação ao ler nos jornais desta quinta-feira 21 o relato das conclusões da investigação da Polícia Federal sobre a quebra de sigilo fiscal de tucanos e parentes do candidato José Serra. O Estado de S. Paulo, por exemplo, estampa: “Jornalista ligado ao PT pagou por dados de tucanos”. Para produzir essa linha, que me surpreenderá se não for utilizada no horário eleitoral gratuito de Serra, o jornal paulista tornou acessório o essencial dessa história. A saber:
O jornalista Amaury Ribeiro Jr. trabalhava no jornal Estado de Minas quando encomendou e pagou a um despachante de São Paulo pelos dados sigilosos. Segundo relatou à PF, as despesas do “trabalho” foram custeadas pelo jornal e sua missão era “proteger” o então governador Aécio Neves das investidas de José Serra, que teria encomendado ao deputado e ex-PF Marcelo Itagiba a fabricação de dossiês contra o correligionário de Minas.
Quando a quebra dos sigilos ocorreu, Serra e Aécio disputavam a indicação à vaga de candidato à presidência do PSDB. Aliás. Itagiba tem histórico no trabalho de atropelar adversários do presidenciável tucano. Quando Serra era ministro da Saúde e ele cuidava da “inteligência” da pasta, circulou um dossiê contra Paulo Renato de Souza, então ministro da Educação. À época, Souza andava tentado a fazer o mesmo que Aécio desejava: disputar a indicação do PSDB à presidência. Serra levou a melhor e acabou candidato em 2002, assim como foi o escolhido agora.

Ribeiro Jr. nunca foi contratado pela pré-campanha de Dilma Rousseff e nunca trabalhou para o PT antes. Ele apenas intermediou um contato entre Luiz Lanzetta, que prestava assessoria ao comitê, e o araponga Onésimo de Souza. Lanzetta estava preocupado com o vazamento de informações internas da pré-campanha. Uma briga por poder na equipe petista entre o grupo de Fernando Pimentel, que indicou Lanzetta, e de Rui Falcão está na base das “denúncias” que viriam a sair na mídia. Depois de o caso vir à tona, Lanzetta perdeu o contrato e o grupo de Falcão ganhou espaço e poder na estrutura.

A PF concluiu que não se pode ligar a violação dos dados com o suposto uso eleitoral das informações. De fato, não existe nenhum indício nem se imagina como a candidatura de Dilma Rousseff poderia se valer de informações obtidas de forma criminosa. Seria um tiro no próprio pé, pois resultaria na cassação de seu registro eleitoral.

Estes são os fatos. O resto…

Sergio Lirio