Amigos e/ou Leitores

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Rascunhos

     Aqui estou eu
     Diante do teclado
     Tendo como acento apenas o passado
     Acima do teclado  o monitor
     Espaço em branco clamando palavras
     E após cada uma
     Mais espaços vazios clamando rabiscos
     E assim o futuro vem surgindo rabiscado
     E a cada palavra nova
     A anterior se torna história
     E aqui estou eu
     Entre o passado e o futuro
     Entre o posto e o suposto
     Entre os rabiscados e os espaços vazios
     Entre o exposto e o acontecer
     Aqui estou eu: vazios e rascunhos
                     Rio, 23/08/10    (02h e 47m)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Etéreo (A Voz Etérea de Dulce) - ao poeta e amigo Edmilson Borret


Um dos primeiros textos deste blog foi um poema que surgiu das tantas vezes que ouvi a bela "Canção do Mar", que me fora enviada pelo amigo e poeta Edmilson. De tento ouvi-la, fiquei embriagado e, em um determinado dia, senti que  a canção, eu e a voz de Dulce  éramos uma coisa só. E eu era apenas uma das suas notas, um segundo da melodia e da voz a bailar. Para não naufragar na música e fugir do seu mar, peguei uma caneta e tentei passar a emoção para um papel qualquer.
Escrevi o poema  no blog de maneira diferente, de forma que os versos estivessem soltos, a bailar como se o pássaro-voz fossem. Na verdade, um pássaro se aproximara da janela para participar do canto e da audição no momento em que eu escrevia o original.
O poema, que fora dedicado ao amigo Edmilson, está no final do blog, mas nele, por descuido, não consta a dedicatória- falha que tento reparar agora.
Para os que ficaram interessado em ouvir a canção,
 deixo aqui um vídeo.
                      

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Apesar deles, amanhã há de ser outro dia. Será?

                Há muito tempo trago com carinho estes versos da canção do Nelson Cavaquinho aqui dentro de mim. Eles nos falam sobre a esperança em tempos de desespero. Falam também da vitória do bem, pois, afirmam que "do mal será queimada a semente". A canção de Nelson lembra a do Chico da época da censura, das canções de protesto como aquela que dizia que não havia como reter o futuro, que seria melhor, ("apesar de você, amanhã há de ser outro dia/ ... como vai proibir quando o galo insistir em cantar..."). Lembra também das canções de Ivan Lins e Victor Martins ( "meu amor não sabia por que nunca amanhecia/ é que existia um vigia na porta de cada dia"). Lembra o Gonzaguinha, o João Nogueira e tantos outros que se foram ou da vida, ou da canção ou do desejo de expor suas indignações através da arte. E veja bem, temos tantos motivos para nos indignar: caverões, hospitais fantasmas que parecem filmes de terror, escolas que passam para frente ( do precipício social) crianças que nada sabem ler, democracia do "sim, senhor". E os responsáveis diretos por isso tudo pedem votos: Cabral, Maia, Serra, FHC, Lula.... Eles todos desencaminham a democracia que lutamos muito para tentar conquistar. E apesar de tudo isso,  onde estão os artistas e seus  protestos? Alguns servem fazendo canções para os mesmos políticos (veja o caso do Dominguinhos da sanfona e do PSDB), outros falam bobagens sexuais e exaltam a violência física e moral e raros nos fazem pensar os dilemas sociais. Entre estes últimos, quero lembrar e destacar o Zeca Baleiro, o Lenine e o Rappa  (sei que existem alguns outros indignados, mas que a mídia não nos permite conhecer). Na arte e na política, a semente do bem perdeu força e a do mal floresceu, mas será que um dia "do mal será queimada a semente"? e que apesar deles o amanhã será melhor? O que você acha?


                                         ******     ******


                                PS: acabo de ouvir na televisão o Maia dizendo que "investir em educação é investir no futuro"...é sádico ou piadista??? E o Cabral já havia dito que o governo dele (e seus caverões, é claro) está nos dando a paz. Só se for a do cemitério!!!   Segue abaixo um vídeo com uma canção  de Sérgio Sampaio, um dos esquecidos da nossa MPB. As imagens são da época da nossa última ditadura, principalmente do enterro do estudante secundarista Édson Luis. Época em que as pessoas se indignavam quando um estudante era morto. Hoje... "agora é moda": crianças mortas em capa de revista (brinquei com a canção da Rita Lee).


                              


Silêncio!!!

         
               É madrugada...
               Silêncio, o poema não pode falar!!!

              O galo canta!
              O relógio tictaqueia,
              Zumbi o reator da luz florescente.
              Silêncio,
              É madrugada!

             Aqui também há o glugluismo da bomba do aquário
             E há também a chato do mosquito
             E as mãos que o caçam (tápata!!! erraram)
             Silêncio... o poema não pode gritar...

             Mas há o baticum do coração,
             O ladrar do cachorro,
             Talvez um pega-ladrão,
             Risos internos quase que sonoros
             De rir do Silêncio eu quase morro...
             Silêncio... o poema não pode nem balbuciar!

            É madrugada
            E quando silencia o poema
            A vida, antes oculta, no descoberto
            Balbucia, fala, grita
            Arromba o Silêncio e invade,
            Com sua guerrilha sonora,
            O som do Nada sempre presente
            Silêncio!!!
            Silêncio nada
            Amanhecemos cantando.
                         
             (Para Francisco, Gilberto e Raul que apesar do Silêncio não se calaram)

                                     Rio, 05 de Setembro de 2003



                    O poema mostra um "diálogo" interno entre o silêncio(o nada) e som (o algo), entre o som do nada e o silêncio. Foi escrito na mesma madrugada do poema postado anteriormente e carrega um pouco da influência mística de Osho e Heráclito. Mas o poema é também uma reflexão sobre nossa história recente, a ditadura empresarial iniciada em 1964 e, por isso, pensei em chamá-lo de "Ditadura". Francisco e Gilberto também nos disseram que mesmo com o "Cálice" do período ditatorial o peito e a cuca ainda gritavam. nada mais justo, pois, do que a dedicatória. Sem esquecer da mosca na sopa do Raul, atual mosquito caçado no poema.

    
                 
         

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ser Presente

          Futuro? Não! Eu não penso nele !
          Ele não está presente e nele eu não vivo.
          Só existe  vida  agora e aqui.
          Só o presente se faz presente,
          Só o momento sempre se apresenta
          E só nele eu estou presente,          
          E nele é que eu me apresento.
         
         Dentro aqui não há espaço para o futuro,
         Aqui dentro ele não ocupa espaço algum.
         Não me ocupo em devaneios futuristas
         Nem penso expectativas do ausente.
         Não me culpe se não me preocupo,
         Nenhuma pré-ocupação é possível.
         O presente ocupa todos os espaços,
         Não há lacunas pré-ocupadas,
         Não há tempo nem espaços para o futuro.

         Só o presente existe
         E dentro dele habita a eternidade do meu ser.
         Estou presente! Sou presente!
         Só há vida aqui e agora
         E trago comigo o peso leve
         Das pedras que minha correnteza trouxe.
         E levo comigo pedras caídas das margens
         Que minha correnteza  arrasta.
         Mas não as levo para o futuro,
         Levo em mim  na direção do ser,
         Na direção do vir-a-ser Eterno.
                         05/09/03
        
             Acho que já deu para perceber que a reflexão sobre o Ser e o Tempo é uma constante ma minha produção. Já nem tenho noção de quantas vezes me vi escrevendo sobre os temas. Além desses, a reflexão sobre a Poética é  outro tema que também sempre se apresenta.
             Este poema é um, entre muitos, que foi influenciado pelo dialético Heráclito, porém, neste caso, o filósofo-místico grego não está sozinho, há um diálogo com o místico indiano Osho. Ambos têm em comum, o fato de serem considerados autores malditos no Ocidente.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Imaculada Democracia E Os Seus Sabonetes

Tenho amigos que defendem a ideia de que o voto nunca deveria ser anulado. Mesmo sabendo que  a diferença entre um candidato e outros possa ser nenhuma e que todos que se candidataram possam não representar a defesa dos interesses do eleitor.  Sem entrar no mérito se devemos na atual conjuntura anular ou não o voto, seria interessante pensarmos nessa  "canonização"  que alguns fazem da democracia. Parece um fetiche político da pós-modernidade. A "santa"  democracia é tratada como a virgem santa e, pregam os seus sacerdotes, que  todos deveriamos ser fiéis a ela e nos ajoelharmos perante a sua santidade. Mas a santa, que tratam como imaculada, já foi de fato desvirginada e suas máculas se apresentam aos nossos olhos. Vejamos algumas exemplos:
 1) O poder econômico impõe seus candidatos através de financiamentos milionários, o que e dificulta aos que se opõe  disputarem os corações e mentes dos eleitores. Nos EUA, inclusive, só se faz propaganda eleitoral se esta for (bem) paga, o que facilita a imposição de um bipartidarismo do capital e da  defesa que este  faz da necessidade da guerra permanente;
2) Os proprietários dos meios de comunicação e seus produtores não permitem que a massa da população  saiba da existencia de alguns candidatos. É uma censura democrática (sic) feita por aqueles que criticam qualquer um que tente defender a necessidade de se de controlar o poder dos carteis da comunicação. Para exemplificar é só se observar o caso atual da política brasileira, onde parece que só existem três candidatos (os únicos que a mídia divulga e que o empresariado permite) e que são aqueles que defendem a continuidade da política de desenvolvimento da dupla PSDB-PT. Assim como na política estadunidense, é uma espécie de continuísmo com diferenças sutis, mas que pouco muda de fato;
3) Os candidatos da esquerda dita radical por alguns ( José Maria, Rui Costa Pimenta, Plínio Arruda...)são silenciados: não podem participar de entrevistas e, segundo as regras estabelecidas, não são convidados para os  debates propostos pela televisão aberta. A santa democracia nos impede de ouvir o que tem para dizer o grupo que possui críticas  aos pilares da sociedade empresarial;
4) Cresce cada vez mais a desigualdade dentros das sociedades que são chamadas de democráticas. É o caso dos EUA. Entre os anos 1984 e 2007 , conforme pesquisa realizada pla Universidade Brandeis , " a diistância entre os patrimônios de negros e de brancos  se multiplicou por quatro, os cidadãos brancos mais pobres eram bem mais ricos do que os negros que estão no nível mais alto na escala" (cf. Brasil Econômico, p. 45 de 18 de maio d 2010). A tal democracia  dos irmão do norte só aumenta a desigualdade, apesar do negro Obama;
                   Poderíamos ficar apresentando máculas da santa democracia durante páginas e páginas. Mas creio que os exemplos bastam para que possamos repensar que é legítima a posição daqueles que pensam em não contribuir com seu voto para legitimar os candidatos que estão por aí  adaptando  seus discursos como se fossem meros sabonetes nos mercados eleitorais. Não apenas os discursos, mas também o rosto, o jeito, o espírito. Adaptação darwinista a  um tipo de luta das espécieis eleitoreiras.
                   Não quero aqui deixar dúvidas e , por isso, repito: não estou defendendo o voto nulo. Mas acho que ele é legítimo e não um sinal de alienação política de quem o defende. "Eu, por minha vez, vou seguindo o meu caminho" e ele ainda não está definido, mas não passa pelas pratilheiras  perfumadas de candidatos-sabonetes. Prefiro tropeçar e recolher as pedras utópicas do caminho.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Drummond e o Verbo Ser

                                    
        Segue um poema de Drummond para que possamos repensar a questão do ser que somos e não somos, que nos tornamos e que deixamos de ser:

                                             Verbo Ser
Que vai ser quando crescer? vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá pra entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.

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          Nesse mês de agosto o primeiro livro publicado pelo nosso poeta mineiro estará completando oitenta anos. O ser de Drummond poeta se  faz vivo em sua obra e na releitura que possamos fazer dela. Ler um Drummond é sempre ser obrigado a refletir. É ele uma pedra no sapato dos que querem poesia apenas como passa tempo e não gostam de filosofia. Quando o encontrei nos livros  do final de minha adolescência, mais do que as pedras de  Itabira e todos os seus metais descobri que tinha um Drummon em meu caminho e que  em meu caminho tinha um Drummond. Assim,  na minhas buscas pelo mundo da poesia, o querido Bandeira de Parsárgada ganhou  um companheiro. Mas tarde outros também vieram participar aqui dentro.

domingo, 1 de agosto de 2010

Do que sou e do que acredito ser

          É meio contraditório ser amigo do dialético Heráclito e mesmo assim querer definir meu próprio ser. Segundo o meu amigo, o ser é e não-é ao mesmo tempo. Mas a tentação de querer apenas ser, sem o contraditório sempre presente, é uma tentação tão comum em todos nós que acho que todos compreenderão o meu afã de querer dizer algo sobre o conflito de ser alguma coisa e se achar outra.

           O meu amigo Paulo, ao conferir os poemas expostos no blog, disse da surpresa de me descobrir poeta-sociólogo. Achei interessante o seu comentário, mas me veio uma interrogação já antiga sobre o que sou. Há muito me vejo como poeta , imagem reservada acho que desde os 14 anos. Mas sei que sou professor de História da rede pública. Esta é minha imagem pública. Mas acredito ser poeta. Sei, poeta menor... mas poeta. Pois é desta forma que meu ser mais se expressa de forma mais sensível no mundo. Como poeta “sou um fingidor” e finjo ser professor, sociólogo, revolucionário, doce, bravo, engraçado, casmurro, intelectual, ignorante.

           Por outro lado, o poeta é um escritor. Ouvi dizer (ou li em algum lugar) que um escritor é aquele que quando lhe surge o texto- lá no interior do seu ser- não consegue ter uma noite de sonhos antes de por no papel o tal texto. Eu consigo quase sempre. É a dita imagem pública me cobrando: “vai dormir, amanhã bem cedo tem o despertador, tem trabalho, tem...”. Aí me deito e a idéia do tal texto se esvai. Sou poeta, mas não sou escritor? Sou e não-sou ao mesmo tempo. Voltamos ao velho Heráclito!

         Ah, mas tem noites que o texto que surge dentro aqui é mais forte e manda as responsabilidades de professor para a ponte que partiu... não é público, mas manda mesmo que sou testemunha. Nessas noites o poeta que (acho que) sou exala uma poesia atrás da outra. Escrevo uma, deito. Não consigo dormir, logo vem outra. Umas são bonitinhas, outras ridículas de fazer rir, de dar pena. Mas arquivo em um papel qualquer e deixo na gaveta. Não consigo jogá-las fora e a minha desculpa é a “Saparia no Brejo” do meu amigo e poeta maior de Parsárgada, Manuel Bandeira. Já pensei se o motivo verdadeiro de preservá-las não é o fato de terem conseguido burlar o tal professor e suas responsabilidades.

         Recentemente, fiz um grupo de poemas que chamei, com a preguiça de pensar um nome melhor, de “Sete Poemas de Julho, dia 20”. Neste dia o poeta que acredito ser, realmente gritou mais alto dizendo: ”Mas do que uma crença, eu sou. Esse professorzinho de merda que acredita ser é que é uma mera crença.” Como esse blog é mais do poeta-sociólogo do que do professor de história/sociologia seguem dois poemas feitos pelo primeiro. Posteriormente, para o professor não ficar com o moral muito baixo, prometo expor algo sobre as eleições, sobre a questão negra e sobre a dita democracia americana. Vamos aos poemas:



                   Poética Noturna (poema três)

                            A alma quer poesia

                            O corpo precisa dormir

                            A alma pede poesia

                           O corpo lembra que cedo acordará

                           A alma exige poesia
                           O corpo cobre a cabeça
                           A alma grita poesia

                           O corpo tapa os ouvidos

                           A alma clama poesia

                           O corpo estremece, remexe na cama

                          A alma canta poesia

                          O corpo se entrega, se levanta

                          A alma vira poesia

                          O corpo madrugada canta

                          A alma se faz poesia
                          O corpo poeticamente balança

                          A alma é a poesia

                          O corpo é o dedo que dança no papel

                         A alma gargalha poesia.



                                             Rio, 03h e 27 m









                        Delírios (poema quatro)



                               O que mais dizer para essa madrugada?

                               A alma já se fez poesia

                               E esta se fez corpo.

                               A alma se fez verbo

                               Este se fez carne.

                               O que mais dizer nesta madrugada?

                               É necessária a trindade?

                               Papel, tinta, eu?

                              O que dizer a mais?

                              É preciso a ressurreição?

                              É preciso transmutar

                              E depois de morto

                              Virar palavras?

                             O que mais dizer?

                             O verbo fala através do corpo?

                             Nada disso, A insônia

                             É ela quem nessa madrugada

                             Cria delírios.

                             O que não mais dizer?



                                        Rio, 03h e 36m