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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Imprensa Livre: Liberdade de Expressão E Direito A Informação

       "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o  direito de você dizê-las." (Voltaire)
jornalista Vladimir
 Herzog


                          Quem tentou se informar recentemente pelos jornais (impressos, on-line e televisivos) acabou observando  um embate entre o governante da nação e um dos setores mais importante dos donos do poder do Brasil atual, a grande Imprensa proprietária de alguns jornais, revistas e canais de rádios e televisões. Esta dizia que a liberdade de imprensa estava sendo atacada, e aquele dizia que a grande imprensa se tornara um partido político. Estava quase certo, a única correção, para quem concorda com Gramsci, é que um jornal é sempre parte de um partido político, quando não é o próprio. 
   

É antiga a luta de setores das sociedades em prol da liberdade de expressão. Já no século XVIII, diversos autores iluministas,entre eles Voltaire, lutavam pelo direito de livre opinião. Era um período em que a burguesia  tentava conquistar o Estado e, por isso, de forma revolucionária combatia os governantes absolutistas de plantão. No século seguinte, após a conquista do poder pelos setores burgueses e do advento ilusionista do positivismo e sua pseudocientificidade, as ditaduras com suas censura perseguiram e encarceraram diversos grupos oposicionistas, entre eles muitos comunistas e anarquistas. Desde então o que se vê é um vai-e-vem de momentos de livre expressão- como o do Brasil atual- e de repressão das opiniões- como o  do macarthismo da ditadura estadunidense dos anos 50 e dos diversos momentos de ditaduras no Brasil republicano.


É importante reafirmar o que foi dito no parágrafo acima: o momento atual do Brasil é um momento de liberdade de expressão. Diria o governante da nação: como "nunca antes na história desse país ". Podemos concordar ou não com o que lemos, vemos e ouvimos. Mas não podemos negar que hoje não existe censura. Para falar a verdade, e os "funkeiros" sabem disso, tudo é permitido de se dizer... menos defender o uso de drogas ou o banditismo. Mas a que devemos esta tal liberdade de expressão atual? Porque os donos do poder dizem que ela está ameaçada? O que eles querem e fazem de fato?



A atual liberdade de imprensa e de opinião é fruto de diversos fatores. Nesse breve texto, podemos refletir sobre dois desses fatores: o primeiro  foi a luta dos grupos que se opuseram à Ditadura empresarial-militar do pós-1964, entre eles os Partidos Comunistas e o  antigo PT com  os seus diversos grupos que  hoje se colocam à sua esquerda. No início dos anos 80, as manifestações populares capitaneadas pelo PT (na época constituído por diversos grupos comunistas)  fizeram com que a carcomida ditadura largasse o osso do poder e que a democracia pudesse voltar à pauta dos desejos sociais.



O outro fator quase não é levado em consideração: só é permitido "tudo" dizer, ver e ouvir porque o que se ouve, ver ou se diz  não tem nenhuma possibilidade de transformar a realidade atual. A fraqueza do movimento social, o monopólio da grande imprensa e a bipartidarização da política brasileira  nos permite ter uma relativa paz política. Sem muito esforço, é possível percebermos uma espécie de americanização da realidade política brasileira. Já temos o nosso Republican Party (ou Grand Old Party) e sua luta contra os direitos trabalhistas e pelo Estado mínimo, o PSDB, e o nosso Democratic Party oferecendo um pouco mais de migalhas para as minorias sociais, o PT. Os outros partidos apenas circulam em volta desses dois grandes partidos.


Sobre a fraqueza do movimento social, principalmente o urbano, é só olharmos as ruas e estradas de nossas cidades. Seria quase uma paz de cemitérios se não fosse o ronco dos automóveis. Uma vez ou outra ocorre algumas manifestações populares, mas a grande imprensa renega as informações e culpa o mercado: "a notícia não interessa aos leitores", dizem. Só a imprensa partidária de esquerda (Opinião Socialista do PSTU, Causa Operária do PCO, Inverta do PCML..) e jornais engajados, mas não filiados a partidos (Brasil de Fato, Nova Democracia), nos informam sobre a lutas populares. Mas esta imprensa tem um alcance muito pequeno e, por isso, as sua informações são desconhecida pela imensa maioria da população. Esta só tem as informações "autocensuradas" da grande imprensa brasileira que pertence ao oligopólio de menos de uma dezena de famílias.

                 

  A "autocensura" ocorre e uma reflexão rápida nos permite perceber tal fato: uma      parte expressiva (quando não é a maioria) dos leitores on-line de O Globo demonstram apoio a Lula e  a Dilma, mas em O Globo impresso o que vemos é o inverso. Na última sexta feira, p. ex., apenas um leitor criticava a falta de isenção da imprensa e os outros  sete criticavam o governo. No on-line, a opinião é publicada automaticamente, no impresso há uma seleção prévia que dá uma vitória de goleada (7 a 1) para quem se opõe. Quem censurou, o leitor ou o editor? Além disso, quem censurou as notícias negativas do governo de São Paulo que foi e é administrado pelo PSDB? Foi o jornalista ou o editor?  Neste caso, não importa quem fez a censura, pois ela é considerado autocensura do jornal até porque o o jornalista diz que precisa cumprir ordens e manter o seu emprego.



Há anos atrás, a Grande Imprensa praticamente só produzia matérias favoráveis aos candidatos que defendiam o Plano Cruzado e, por outro lado, combatia os críticos do Plano. Era 1986, e um jovem entregava panfletos políticos e dizia, para quem aceitava, que "Eles compraram a Imprensa, mas não compraram seu voto". Um homem  aproximou dele se apresentando como trabalhador do Jornal do Brasil e lhe informou que "a Imprensa era os jornalistas e que estes faziam diversas matérias sobre Gabeira", o candidato a governador do PT (um dos partidos que criticavam o tal Plano), "mas que os jornais não as publicavam". O jovem, que hoje escreve este blog, respondeu-lhe que "para a população, a imprensa é o produto de comunicação (in)formativo e seus donos, não quem trabalha produzindo jornais ou coisas do tipo. Além disso, caberia aos jornalistas lutarem pela liberdade de expressão também dentro dos jornais onde trabalham". A luta pela democracia e pela liberdade de imprensa é para que todos tenham o direito a informação e não para os donos dos meios de comunicação tentarem conduzir a opinião pública.



Já se passaram vinte e quatro anos e o tema ainda gera um debate inacabado. Menos de uma dezena de famílias controla os grandes meios de comunicação do Brasil e acham que seus produtos não podem ser questionados. É um verdadeiro Absolutismo dos atuais donos do poder. Isto deve fazer estremecer os fantasmas de qualquer iluminista, entre eles o de Voltaire, aquele que dizia que  morreria na defesa da liberdade de expressão. Os atuais donos do poder, principalmente os da indústria da comunicação, tentam dizer que o Estado é um Leviatã, mas quando este  realmente o foi, se curvaram e beijaram as botas e os fuzis. Hoje, alguns órgãos da imprensa, inclusive os que se curvaram saudando ditadores brasileiros, dizem que a liberdade de expressão está ameaçada. Discordo! O que está sobre ameaça constante é a sociedade sem  direito a informações. Este direito está sendo atacado e distorcido tanto pela Grande Imprensa quanto pela falácia da Educação Pública e Privada que não ensina a maior parte dos nossos jovens a ler nem os livros, quanto mais o mundo recriado pela ficção da Grande Imprensa.
                                                                                                                
                                                                                                                                                                  
                                                                            
 
 
Foto do Sr Presidente preso no DOPS, órgão de repressão
da Ditadura, e capa recente da revista Época


sábado, 25 de setembro de 2010

A TRINDADE...E O LOGOS SE FEZ CARNE






             TRINDADE
O que mais dizer para essa madrugada?
A alma já se fez poesia
E esta se fez corpo.
A que habita em mim
Se fez verbo
E o verbo se fez carne.
É necessária a trindade?                                                                
Papel, Tinta, Eu?
O que dizer a mais?
É preciso a ressurreição ?                                                                                                
É preciso transmutar
E depois de morto se tornar palavras?
Dizer mais o quê?
Que o verbo se cria e se propaga através do poeta?
Ou dizer apenas que nessa madrugada
A insônia cria delírios?
O que não mais dizer?

Rio, 05 de setembro de 2003







quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DA UTOPIA, DO REALISMO E DA ALIENAÇÃO


Dois poemas. Um é para aqueles que ainda acreditam que o mundo possa mudar para melhor  e para todos. O outro é para os que perderam esse sonho e passaram a acreditar na ideologia do cada um para si. Sonhos utópicos ou realismo egocêntricos são ideologias que tem em comum produzirem  formas sociais de agir. Assim, utopia e realismo se igualam pelo fato de guiarem as nossas ações. Mas há diferenças entre elas. As utopias tentam fazer o ser humano avançar na busca de um mundo melhor (o que só pode ser para todos). Já o realismo nos convence de que sonhos são meras ilusões e isto nos faz aceitar a dura realidade e ideologicamente agir de maneira oposta, ou seja, desistindo de um mundo melhor para todos e aceitar que a única possibilidade é a realidade presente.  Desistir de mudar o presente é também uma ação. Desistir dos sonhos é a ação política do realismo.

Das Utopias de Mario Quintana, foi publicado em 1951 no livro Espelho Mágico. É um poema curto, uma quadra, bem ao estilo do autor. Em seus quatros versos fala com maestria da necessidade do sonho, da utopia. O poema nos remete à história daqueles que sempre buscaram um mundo que no momento era inatingível. Utopia, a palavra,  indica que a sua existência só é possível se acontecer em todos os lugares do mundo ou em lugar nenhum. Em todos os lugares seria real, em lugar nenhum é sonho ("A mágica presença das estrelas").

Da Alienação  fala da tristeza de se perder os sonhos e foi feito em uma noite de 2005.  A inspiração veio de uma reflexão sobre o decantado fim das utopias. Naquele momento lembrei-me da música balsâmica de Cazuza no seu desespero de saber-se aidético. A necessidade da utopia (ou da ideologia, segundo o artista) fez do fim trágico do compositor um dos momentos mais importante do rock de protesto criado no Brasil nos anos 80.

Sou ainda um utópico (por devoção e, dependendo do estado de espírito, por convicção), até porque os realistas não me agradam. Eles são maquiavélicos no mau sentido da palavra. O realismo político da antiga esquerda que se submeteu aos caprichos do capital que o diga. Vejam o ex-líderes estudantis José  Serra ((UNE) e Wladimir Palmeira ou os ex-comunistas Roberto Freire, César Maia. Isto para não falar dos ex-guerrilheiros Gabeira, Dilma, Sirkis... Hoje, são todos pessoas realistas. Abandonaram as utopias e ficaram com os cargos públicos de altos salários. Um preço justo... mas para eles. "E nóis aqui, ó, só tomando..." Há inclusive entre eles o que defende, para ganhar as eleições de forma populista, a "utopia" de um salário mínimo de 600 reais (sic). Não o dele, é claro.

 Prefiro as utopias tradicionais de Thomas Morus e as companhias dos Cazuzas, Quintanas,  e de todos que se entristecem quando pensam na realidade e no fim dos sonhos, inclusive o de Fidel que acreditava na utopia stalinista de socialismo em um só país e hoje defende um Estado que ameaça desempregar meio milhão de trabalhadores. Prefiro a companhia dos anarquistas, dos trotsquistas e outros istas que, pelo menos, diziam NÃO e cantavam junto com o velho Chico que "nós gatos já nascemos pobres/ porém já nascemos livres". Os realistas são pragmáticos, vendem seus sonhos a preço justo. E preferem outra canção do Chico, aquela que fala que "vence na vida quem diz sim". 

A necessidade da utopia permanece, até porque senhores e escravos estão aprisionados nesse mundo que propaga a felicidade individual e muitas doses de calmantes... É muita riqueza e miséria nesse  mundo real. Só as utopias (assumidamente utópicas ou científicas) podem nos tirar dessa letargia que faz todos aceitarem serem meros produtos do sistema capitalista. Temos que refazer a  sociedade. Fazer a História e não sermos feitos como marionettes de um sistema caótico que á vendido como o melhor dos mundos, mas que é- cedendo ao realismo-  acumulador, destruidor e alienante.  


Aos 21 anos
Este jovem pensou  a alienação e morreu
bem velhinho ainda tendo ela como questão.
 É talvez o autor  mais lido, comentado e
 combatido dos século XX e XXI. Quem será?



Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!

 (Mario Quintana)




 DA ALIENAÇÃO
"Aquele garoto que ia mudar o mundo/ frequenta agora/ as festa do grand monde
(...)/ agora assiste a tudo em cima do muro/ ideologia/ eu quero uma pra viver".

 
Eu já vendi meus sonhos
Troquei por preço justo
E sigo nesse mundo
Cantando assim tristonho

Talvez seja o custo
A dor e o sobmundo
Tornar-me tão estranho
(Aceitar) o que é injusto

Talvez seja o fundo do fundo
Um poço tão medonho
sei, já não me busco,
Já não mudar o mundo.

Já não mudar o mundo
Sei já não me busco
Um poço tão medonho
O fundo do fundo

Aceitar o que é injusto
Tornar-me tão estranho
Sem a dor do submundo                                    
Talvez seja o custo

Cantar assim tristonho
Mas sigo nesse mundo
Que troquei por preço justo
Eu não fiz o meu mundo

Eu não fiz o meu mundo...

  (Jorge Willian)   rio, 23/02/05

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DESCONECTAR

As máquinas transmissoras de imagens
Ligadas te controlam.
É puxar a tomada e desconectar.
O sentimento que me traz imagens tuas
Dói e me incomoda.
Onde está a tomada para puxar?

rio, 11/11/2001




DESCONECTAR

 DESCONECTARDESCONECTAR            DESCONECTAR                                                 DESCONECTARDESLIGARDESALIENARDESPLUGARDESALIENARDESCONECTAR DESLIGARDESALIENARDESCONECTARDESALIENARDESCONECTAR


terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Nova Direita e O Golpismo

A Direita latinamericana sempre tentava resolver a sua perda de hegemonia com golpes que a levasse de volta ao poder. Para isso precisava sempre minar o apoio popular que governos recebiam. Isto não seria tão trágico se esta prática já estivesse enterrada nos livros de História. Mas a tragédia continua, como um monstro, a nos agredir. Isto ocorre tanto na Venezuela, quanto na Bolívia ou no Brasil. Naqueles países há uma clara  luta de classes e de etnias . Mas no nosso caso, é a tentativa de "golpes democráticos" de uma Nova Direita(1). Golpe de uma das frações do grande partido burguês que nos governa desde a redemocratização de 1985. Em todos os casos, naqueles países ou no nosso, o apoio da grande mídia aos golpes está sempre presente. Vejamos.

A direita- agora travestida de Nova Direita  (ou de centro direita)-  capitaneada pelo PSDB, tenta armar um golpe em uma eleição  que, como já disse nesse blog, nada vai mudar de fato. Ela apenas tenta restabelecer os domínios perdidos para uma outra fração da elite política. Sabemos todos que aqui no Brasil não  está ocorrendo grandes mudanças. Mas é que a fome de poder e de vantagens econômicas é muito grande. Podemos pensar em Weber e na autonomia relativa da luta partidária.

A Nova direita tem um papel empresarial a cumprir: diminuir o tamanho do Estado e dos tributos. A luta principal é de nos convencer de que os brasileiros (leia-se, os empresários) pagam muitos impostos. Para executar seu papel, a Nova Direita quer, de qualquer forma, ganhar as eleições, nem que para isso tenha que golpear o que ele chama de democracia e por em risco a hegemonia burguesa conquistada com o governo Lula. E isto só é possível porque sabe que a classe trabalhadora foi anestesiada por este mesmo governo que conta, para isso, com o apoio de algumas igrejas e do circo televisivo das novelas e do futebol. Além disso, há as bolsas famílias para completar o lema romano:  panis et circenses, pão e circo...muito circo,  pouco pão. 

Esta  Direita hoje fala de vazamentos como se ela não soubesse desse fato já há muito tempo. Há, inclusive, reportagens feitas no ano passado em que o seu candidato , o sr. José Serra, dá entrevista dizendo que existem milhões de dados vazados. Na reportagem ficamos sabendo que até com a primeira dama da república isto ocorreu. Mas a Nova Direita finge hoje que não sabia que o ex-ministro (Tarso Genro) da justiça e o atual ministro da fazenda (Guido Mantega) também tiveram seus dados vazados. Até Lula e seus filhos e o presidente do Supremo Tribunal Federal são vítimas deste tipo de crime.

A Nova Direita, que tem espírito da velha  UDN, tentar dar golpes em eleições que, já sabemos, nada têm de democráticas. Vivemos em uma plutocracia e o golpe ensaiado é meramente parte de uma disputa pela hegemonia política. É apenas uma tentativa da burguesia paulista de manter a sua hegemonia sobre o resto do país sem que haja risco. Sem que os impostos deixem de continuar sustentando obras que beneficiem o grande capital.

A Direita da Venezuela, apoiada pela classe média, teve medo do descontrole e, por isso, tentou se utilizar, em um passado recente, do golpe de estado. Agiu como sempre fez a velha Direita e fez isso porque tinha medo de que o processo político escapasse do reformismo de Chavez. E ainda hoje tem medo. E seu medo tem uma certa razão: são milhares de trabalhadores nas ruas lutando  por reformas. E a direita, velha ou nova, sempre teme o povo nas ruas.

A Nova Direita brasileira não tem medo das nossas ruas. Estas, desde o advento do governo lulista, estão vazias de lutas classistas e cobertas de fumaças de carros novos, o sonho da nossa classe média. Só isto explica a insensatez da paulicéia de querer dar golpes em uma sociedade já hegemonizada pelo grande capital. Esquecem que estes já ofereceram mais de 25 milhões para a sua candidatura  só porque o PSDB tem lutado mais abertamente pela diminuição dos tributos empresariais. Mas pelo sim e pelo não, a candidatura lulista que oferece migalhas aos pobres (bolsas), já recebeu mais de 40 milhões do grande capital para a sua campanha. 

A Nova Direita tenta golpear as eleições e a mídia acoberta mais esta tentativa. Fizeram o mesmo nas eleições de 2006 (veja a revista Carta Capital da época), mas o grande capital precisava de Lula para estabelecer a sua hegemonia. Tiveram medo do terceiro mandato e acharam que já podiam trilhar o caminho da luta contra os impostos. Mas escolheram mal. Seu candidato consegue ser mais fraco do que o "poste" escolhido por Lula. É antipático, arrogante e lhe falta um guru que não tivesse se queimado na presidência, que é o caso do "príncipe" FHC. O poste, pelo menos, tem a luz do guru torneiro mecânico Lula. E este estar a conduzir a massa anestesiada e faminta de sonhos e esperanças. O Caminhão do golpe emplacado em São Paulo acelera na direção do poste. Este resistirá ao golpe e se manterá de pé  ou tombará? E o motorista barbeiro-louco,  conseguirá seu intento ou se quebrará todo? Brevemente saberemos. É o circo de nossa plutocracia.

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PS: A Nova Direita dá entrevistas e logo finge que esquece que deu. Para este esquecimento conta com a  ajuda da grande mídia que nada investiga sobre seu candidato. Mas segue uma reportagem mostrando o que os "golpistas democráticos" gostariam de esconder. Nela, vemos o candidato da Nova Direita deixando claro que já sabia dos vazamentos e que estes atingem pessoas que estão além de sua prole e de seu ciclo de amizades. Segundo ele, são milhões de pessoas que estão no mesmo caso. E tudo começou em SP, estado que está sendo administrado pelo PSDB há mais de uma década. Espero que o vídeo ajude a  refletir sobre o caráter golpista do complexo partidário da Nova Direita,  PSDB-PPS-PV-DEM, partidos que estão unidos, apesar de se separarem para melhor atuarem e para uma disputa interna deste mesmo complexo.


(1) Neste texto, o termo Nova Direita foi utilizado para designar uma direita que não tenta golpes armados (por enquanto), mas que se utiliza do discurso democrático.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A noite

"Para que haja arte, para que haja uma ação ou contemplação estética qualquer, é indispensável uma condição fisiológica prévia: a embriaguez" ( Friedrich Wilhelm Nietzsche)


Os sons das ondas
Tentam sufocar o grito da noite
(Como sofre a noite desse lugar!)
Seu grito agonizante
Corta a pele, o tecido e a carne
Mas o mar ( ah, como é belo o mar!)
Traz as ondas com seu canto
E este quase sufoca o grito da noite
Mero paliativo:
A dor da noite continua a gritar,
Não  se ouve mais seu grito
Mas ela grita: a dor continua!
A noite está embriagada de dor!

          

Rio, 15 de Abril de 1986

Censura

Canta passarinho
canta dentro aqui
mas canta bem baixinho,
eles não podem te ouvir.
Se te ouvem
vão querer te calar, te degolar te depenar
e, sem pena, sem cabeça, sem canto
eles vão te dominar.

Canta passarinho
canta bem baixinho
canta perto aqui
que preciso do teu carinho,
mas canta bem baixinho
para que eles não possam te ouvir
e te descobrir, te destruir.

Canta passarinho
canta baixinho, sim!
que do peito partirás em eco
cantando baixinho
pra quem precisa te ouvir
e de ouvido em ouvido
retornarás a mim.

Canta passarinho
que hoje estou tão tristinho
que hoje estou tão tristezinho
que não quero, enfim, cantar,
mas preciso te ouvir,
pois quem ouve o que tu cantas
seus males também espanta.

Canta passarinho, canta!
canta baixinho dentro aqui!
canta, canta, canta sim!

          Rio, 13 de Novembro de 1985

Obs: Uma canção cuja melodia se perdeu no tempo... fica, porém, a letra simples que fez a antiga amiga Tânia me oferecer o poema de M. Quintana (exposto neste blog). 

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PLUTOCRACIA, SABONETES DE LAMA E ELEIÇÕES

          
   "Olhando a estrela azul/ um quadro a cintilar/ vendendo ilusões/ a quem não pode pagar/ e a vida a passar/ a vida sempre a passar/ passar" (Zeca Baleiro)
            A contradição é uma das essências da vida. É ela que possibilita o movimento e a transformação de tudo que parece estabelecido. Além disso, há contradições que levam à morte o próprio ser em movimento, até porque, uma das essências daquilo que está vivo é caminhar para o seu fim.  No entanto, determinadas contradições parecem negar a própria essência do ser. É como se a existência de algo se opusesse à própria essência daquilo que existe. São contradições que parecem equívocos, que parecem erros ou coisas semelhantes. É possível juntar  expressões do tipo “democracia”, “capitalismo” e “igualdade” e manter a coerência? Ou ainda: “sabonete”, “lama” e “medicina”? Não dá a impressão de que o adjetivo vai contradizer o substantivo? De que a substância será modificada por uma qualidade que a contradiz, que a destrói? Lama medicinal? Democracia capitalista? O estranho é que, por mais paradoxal que nos possa parecer, lama e sabonetes feitos desta matéria-prima existem nas prateleiras das drogarias e lojas de cosméticos. Já  a democracia- afirmam os grandes meios de comunicação- só existe nas sociedades capitalistas. Mas eu acho que devemos colocar várias interrogações no lugar dessa afirmativa e algumas delas seriam: é possível uma democracia capitalista?  existe capitalismo democrático? 


Democracia requer uma certa igualdade de direitos políticos, capitalismo pressupõe desigualdades tanto sociais quanto financeiras. Como juntar esses dois substantivos em um mesmo ser (democracia capitalista ou capitalismo democrático) sem que um se oponha ao outro de forma destrutiva? Como juntar, sem que a democracia ajude a desmascarar o capitalismo ou sem que este torne aquela uma mera ilusão? A democracia pressupõe cidadãos conscientes da própria contradição dos seus direitos com a realidade em que vivem e isto os leva à luta para transformar a realidade em algo novo, pondo, assim, a morte da velha realidade como algo possível e/ou desejável. Já o capitalismo aspira à desigualdade e exala contradições que não possibilitam que a disputa democrática se torne real. Veja a quantidade de capital que empresas e pessoas investem em determinados candidatos.  São, de fato, plutocracia (“capitalcracias”) disfarçadas com a fantasia do voto. E isto não é só na Venezuela, como nos tenta impor os telejornais.É assim também tanto na mais falada democracia, a estadunidense, quanto na nossa.

Para que essas contradições não levem à morte uma sociedade cheia de chagas, o capitalismo nos receita sabonetes de lama, cosméticos adjetivados de medicinal. A matéria-prima é extraída de vários partidos políticos financiados por empresários e suas empresas. Com estas matérias-primas, fabricam-se os candidatos sabonetes que prometem sarar nossas feridas e não extrair o câncer da desigualdade antidemocrática. Os sabonetes de lama são em suas essências todos iguais, mas se apresentam de formas diferentes devido as suas embalagens e aromas. Uns, mais sofisticados, outros, aparentemente populares, mas, na essência nos fazem lembrar do filme “Vale quanto pesa ou é por quilo?” Tudo a mesma coisa.

Todos esses sabonetes estão hoje, por exemplo, participando da defesa da proposta empresarial de diminuição da taxa tributária. Dizem que pago mais de 70 (sic) tributos e que trabalho quase 5 meses para pagá-los. Sabonetes de lama não esclarecem quem paga para por nas telinhas de nossos televisores estas hipérboles que colocam no mesmo saco os empresários e aqueles que vivem com o auxílio do programa bolsa família. A classe média aplaude mas não é esclarecida pela propaganda que, por exemplo,  vinte anos de neoliberalismo em El Salvador reduziram a taxa tributária para 12%(ver número 27 do Le Monde Diplomatique Brasil) e aumentaram o desemprego e a miséria daquele país.

Na atual conjuntura eleitoral brasileira, a mídia dos grandes empresários privilegia três sabonetes de lama, Marina, Serra e Dilma. A primeira, que se apresenta sempre chorosa e entristecida, coloca-se como se neutra fosse e como se não tivesse participado da construção do PT e de seu governo e, por isso, não pode combatê-lo de fato. Marina defende um capitalismo esverdeado, embora saiba que há uma contradição inerente entre os interesses do grande capital (do qual ela jamais se opõem de verdade) e a natureza, que é matéria-prima das indústrias e do discurso da candidata. Marina nos tenta fazer acreditar em um capitalismo da fábrica Natura.  Você já pensou em São Paulo? As grandes montadoras fazendo carros de flor de maçã, rosas vermelhas, folhas de pitanga? O PV tenta nos convencer de que o paradoxo de um capitalismo esverdeado é real. Ou nem tenta de verdade, pois a candidata parece aceitar que já morreu eleitoralmente e que seu único papel é conquistar 10% de votos e barganhar seu apoio em um possível segundo turno. Deveria ter ouvido o Zeca Baleiro: "Tome uma atitude sua besta/ seja uma besta com atitude/ pode ser uma atitude besta/ mas que seja uma atitude".

Serra, que tenta se colocar como vítima se apresentando como lobo em pele de cordeiro, não diz em sua propaganda eleitoral que colocou toda a administração da área de saúde de SP nas mãos de organizações sociais terceirizadas, dando lucros gigantescos a grupos que ganham com as privatizações. O candidato tenta nos fazer esquecer o quanto que os banqueiros lucraram ( e ainda lucram no governo atual) com o seu modelo neoliberal. Tenta esquecer os equívocos do período FHC e poupa o presidente Lula, não porque concorde com este, mas porque tem medo de fazer crítica a um governo bem cotado nas pesquisas de opiniões. Serra é o próprio paradoxo: é a contradição que não quer contradizer. Além disso, é um mau jogador e resvala no golpismo. Desde 2002 se coloca como vítima (pelo menos ele ouviu o Baleiro e seguiu os conselhos do artista) e participa do denuncismo em parceria com  mídia e seus momentos udenistas. Além disso, a mídia do grande capital, que desde o ano passado prioriza o candidato do PSDB privatizador, não se sente obrigada a pesquisar os equívocos das administrações de Serra tanto em Sampa quanto no Ministério da Saúde. É um sabonete de lama que parece imaculado. Imagina se ele tivesse a carinha de padre do Plínio, o engraçadinho da vez...

Dilma, a que vive com um sorriso forçado (do mesmo tipo do sorriso de Serra), é outra contradição, inclusive reforçada pelo lema de sua campanha que nos leva a pensar em permanecer (seguir) e se mover (mudando). Como candidata do PT  só pode ser um poço de contradições. O seu atual partido fez Lula incorporar o espírito do ditador Getúlio Vargas- antes combatido pelo mesmo- ao colocar o atual presidente também como pai dos pobres e defende  que seremos adotados pela Iyalorixá (mâe) Dilma .O PT, que tanto criticou os PCs pelo apoio que estes deram à proposta de pacto social e conciliação nos anos 80, é responsável por fazer a grande conciliação entre capital e trabalho no seu governo, algo que a Nova República de Sarney já havia tentado sem êxito, mas para isso o PT subordinou a maior parte dos movimentos sociais e dos sindicatos. O governo empresarial de Getúlio calou os trabalhadores através do DIP e das torturas. Na chamada atual democracia brasileira, onde há diversos presos políticos– segundo denúncias feitas em diversos números do jornal Nova Democracia-, Lula consegue o silêncio mesmo quando entrega milhões de impostos públicos às montadoras. Sindicalistas, Serra, Marina e Rede Globo se calam sobre isto.

Dilma, diz que tudo será mantido. E será mesmo. Seja lá que sabonete de lama o voto popular (incluíndo o meu e o teu) escolha. Pois o que está em jogo não é a mudança transformadora, esta só é possível com doses cavalar de antibióticos ou amputações e não com cosméticos. Mas as indústrias de ilusões precisam nos fazer acreditar em milagres de profetas televisivos, na crítica abobalhada das piadas do Casseta e Planeta e em sabonetes de lamas salvadores. Mas, dizia  o poeta Belchior, "eu não estou interessado (...)/ em nenhuma fantasia, nem no algo mais(...)/ amar e mudar as coisas me interessam mais".



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quintana passarinho, Eles passarão

         
                          Todos estes que aí estão
                  Atravancando o meu caminho,
                                          Eles passarão.
                                          Eu passarinho!


               Há muitos anos, escrevi uns versos e os apresentei para uma antiga amiga chamada Tânia, que  dividia comigo as aulas da licenciatura e o prazer da literatura (ela estava se formando em Português  e eu em Ciências Sociais). Em resposta, ela declamou o poema  a cima feito pelo poeta Mario Quintana. Fiquei fã, desde então, desse poeta do Rio Grande do Sul . Há uns seis anos descobri o músico carioca Lui Coimbra e o seu belo disco  "Ouro e Sol", produzido, segundo alguns, no final dos anos 90. Além de músicas de Capiba, Pedro Luís e Sting, Lui Coimbra nos presenteia com músicas de sua própria autoria. Entre estas estão "Astrologia" e "O idiota desta aldeia", sonetos de Quintana que foram musicados por Lui. Seguem os  poemas e, junto com eles, um outro, que também gosto muito, "Emergência".

                                      Astrologia
                    
                     Minha estrela não é de Belém
                     Aqui parada aguarda o peregrino.
                     Sem importar-se com qualquer destino
                     A minha estrela vai seguindo além...

                     - Meu Deus, o que é que esse menino tem?
                     Já suspeitavam desde eu pequenino.
                     O que eu tenho? É uma estrela em desatino...
                     E nos desentendemos muito bem!

                     E quando tudo parecia a esmo
                     E nesses descaminhos me perdia
                     Encontrei muitas vezes a mim mesmo...

                     Eu temo é uma traição do instinto
                     Que me liberte, por acaso, em dia
                     deste velho e encantado labirinto.



                                      

                                     O Idiota Dessa Aldeia

                    Rechinam meus sapatos rua em fora
                    Tão leve estou que já nem sombra tenho
                    E há tantos anos e de tão longe venho
                    Que nem me lembro de mais nada agora

                   Tinha um surrão todo de pena cheio
                   Um peso enorme para carregar
                   Porém as penas, quando o vento veio
                   Penas que eram, esvoaçaram no ar

                   Todo de Deus me iluminei então
                   Que os Doutores Sutis se escandalizem:
                   "Como é possível sem doutrinação?"

                   Mas entendem-me o céu e as criancinhas
                   E ao ver-me assim num poste, as andorinhas
                   "Olha, é o idiota desta aldeia!", dizem.



                                  Emergência

                   Quem faz um poema abre uma janela.
                   Respira, tu que estás numa cela
                   abafada,
                   esse ar que entra por ela.
                   Por isso é que os poemas tem ritmo
                   - para que possas profundamente respirar.

                   quem faz um poema salva um afogado.

                                               
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                              Mario Quintana entrou  no Labirinto em em 1906 e se libertou dele em 1994 quando, finalmente,  foi traído pelo instinto. Sua herança ainda salva muitos afogados, mesmo que o nosso poeta não tenha o mesmo prestígio dado a outros. Alguns Doutores Sutis não concordam e se escadalizam com a simplicidade de alguns poemas. Há quem diga, inclusive, que a obra de outro poeta, Chico Buarque, é apenas a de  um letrista, pois seus versos não passam de metáforas a serem decifradas.   Nossa! Contudo, Quintana é passarinho e os "Sutis" passarão!
                                Às vezes me parece que para alguns a poesia surgiu após a semana de arte moderna. Métrica , sonetos, rimas tornaram-se palavrões.