Qualquer que seja o resultado das eleições de amanhã, o Brasil sai perdendo. Não afirmo isto pensando nas qualidades dos candidatos ou de seus partidos, mas em uma reflexão sobre as temáticas e as propostas surgidas do debate político que foi realizado nos programas eleitorais de rádio e TV, nos debates entre os candidatos e nas ruas pelas pessoas ditas comuns.
Sem saudosismo dos anos transformadores da década de 80, poderíamos agora, pelo menos, não sermos tão reacionários e conservadores no mau sentido da palavra. Mas é isto que se deu como principal resultado dessa campanha eleitoral. A campanha de direita de Serra jogou o PSDB ainda mais para o conservadorismo cultural e para o lado mais reacionário do empresariado, principalmente o rural. E o pior é que a sua campanha também arrastou a de Dilma para o conservadorismo dos costumes culturais. Foi triste ver a antiga guerrilheira que combateu a ditadura ter que, assim como Serra, passar a rezar em frente as câmaras (pareciam até jogadores de futebol, em nossas telas de tv, confessando uma crença, ostentando milhões e se dizendo seguidores do camponês de Nazaré e não de Calvino).
O Brasil sai mais conservador e sai mais reacionário. O Gigante pela própria natureza sai menor. No sentido cultural e libertário, sai menor do que o Brasil dos anos 80. É só pensarmos nos atuais candidatos Dilma, Marina, Serra etc. e os compararmos com aqueles de 1989, da primeira eleição realizada com voto direto para presidente após a ditadura de 1964. Na primeira eleição, por exemplo, o PT apresentava o candidato Lula como representante dos movimentos sindicais e sociais de esquerda e o PSDB tinha Mário Covas como candidato de um capitalismo social-democrata. Gabeira era o candidato vindo da esquerda armada e que não defendia um mero capitalismo esverdeado. Brizola era o candidato do PDT e seus CIEPS e Roberto Freire do PPS ainda se dizia socialista.
Todos esses partidos, talvez com inveja da vitória da direita- que se deu através do nanico PRN de Collor e do apoio da Globo-, caminharam para a direita ou para o centro. Um dos primeiros grupo a fazer esta caminhada foi a ala ligada a Fernando Henrique e a outras lideranças do PSDB que só não assumiu ministérios no governo Collor porque Mario Covas, que havia apoiado Lula no segundo turno, lutou contra as ideias dessas lideranças do seu partido de dar governabilidade a um presidente com as suas ideias capitalistas liberais e anti-sociais. Esta ala psdbista acabou se incorporando ao governo do vice de Collor, o mineiro Itamar, e FHC tornou-se embaixador nos EUA de onde voltou para ser ministro da economia. Gerenciou no Brasil, a reengenharia da moeda nacional (o mesmo que foi feito na Argentina e em outros países latinoamericanos) e ganhou força eleitoral através do massivo apoio que recebeu da mídia monopolista.
Entre 1995 e 2002 o ex-embaixador FHC administra o Brasil. Seu governo só não foi ainda mais catastrófico porque a nível mundial vivíamos uma época de deflação. Apesar disto teve dificuldade para controlar os preços no Brasil e, para isso, arrasou as nossas reservas cambiais e nos deixou como herança multiplicação gigantesca da dívida externa. Após as eleições tentarei analisar um pouco melhor porque o governo de FHC foi muito mais prejudicial para o Brasil do que a nossa vã imprensa nos permite perceber. Sugiro que o leitor leia, entre outros, o blog do cientista político Teotônio dos Santos e veja o video postado mais abaixo em que Cyro Gomes diz porque rompeu com o PSDB de FHC e opina sobre Serra.
O PT, para conquistar a presidência, adotou o realismo político e também caminhou para a direita e é hoje um mero partido trabalhista de centro, como o fora o PDT de Brizola. Esta forma de trabalhismo tenta oferecer um pouco para os trabalhadores cooptando suas lideranças ou lutando contra estas em nome de uma massa despolitizada e desorganizada. Nesta caminhada, Lula foi beijar a mão de Roberto Marinho e o PT perdeu os seus grupos mais a esquerda e enfraqueceu uma grande quantidade de sindicatos e de movimentos sociais que tinham no partido uma liderança importante nos anos 80.
Sem um bom candidato dos partidos mais a direita, como o DEM, por exemplo, a direita apostou as suas fichas na derrota de Dilma e, por isso, aceitou até mesmo que Marina fosse tirada do ostracismo e propagandeada. Não que ela fosse a candidata da direita, mas é que com o seu crescimento aumentava a chance de derrotar a candidatura oficial e possibilitava um segundo turno. Além disso, foi usada a mídia para "desconstruir" a imagem, desconhecida pela grande população, de Dilma. Foi usada tanto a mídia empresarial (O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja, Época...), quanto os computadores da classe média e panfletos apócrifos.
Mas na verdade, a direita se aproveitou mesmo foi do desejo de Serra de ser presidente para apresentar, além das clássicas propostas liberais para a economia, um desfile de ideias conservadoras ou reacionárias para a vida social que, inclusive, cuspiu seu ódio aos trabalhadores do campo que lutam pela reforma agrária e contra o latifúndio. O desejo egocêntrico de um candidato de se tornar presidente e a direita liberal (sic) se uniram e trouxeram para o público uma conservadora campanha moralista (ou como define uma amiga: fm, falsa moralista). A este grupo uniu-se a parte mais reacionária das Igrejas e suas campanhas contra o aborto e contra os grupos homoafetivos.
Mas na verdade, a direita se aproveitou mesmo foi do desejo de Serra de ser presidente para apresentar, além das clássicas propostas liberais para a economia, um desfile de ideias conservadoras ou reacionárias para a vida social que, inclusive, cuspiu seu ódio aos trabalhadores do campo que lutam pela reforma agrária e contra o latifúndio. O desejo egocêntrico de um candidato de se tornar presidente e a direita liberal (sic) se uniram e trouxeram para o público uma conservadora campanha moralista (ou como define uma amiga: fm, falsa moralista). A este grupo uniu-se a parte mais reacionária das Igrejas e suas campanhas contra o aborto e contra os grupos homoafetivos.
Até as musiquinhas de campanha dos candidatos nos mostra o lado conservador destes: a musiquinha de Dilma diz que vai conservar o que ocorre hoje para seguir mudando. Ou continua ou muda? Na verdade o que não se diz é que o que ocorre no governo Lula é uma "transformação conservadora", um termo técnico para se definir as pequenas mudanças mais populares que se propõe a conservar o sistema capitalista intacto, sem grandes ameaças.
A musiquinha do Serra- que é muito bem feita, diga-se de passagem- diz que ele é do bem. Ora, mas que visão da política mais moralista (f.m. ?) poderia ter uma campanha a presidente. O que é ser do bem? É se colocar contra o aborto e regulamentá-lo? É se colocar contra a corrupção e ser a liderança de um governo cheio de escândalos de corrupção como o do metrô de SP ou de Paulo Preto? Ou ter participado como ministro do governo que nos deu os escândalos da pasta rosa, do Sirvam, etc? A musiquinha tem endereço certo: ser do bem é o que querem ouvir os conservadores religiosos e nacionalistas que acham que greve é baderna e não direito social, que homossexualidade é coisa do diabo e não um direito de escolha pessoal, que frequentar umbanda e candoblé é coisa do malígno e não uma parte do direito constitucional que defende a liberdade de crença religiosa, etc.
Nem o primeiro turno nos salvou do conservadorismo ou da reação de direita. Marina com o seu linguajar moderno nos oferecia um capitalismo velho com ideologia nova: desenvolvimento/crescimento sustentável (conserva-se a natureza e a exploração do homem pelo homem). A ideologia é atraente, mas é uma ideologia conservadora. Os funcionários das empresas Mundo Verde, Natura, Boticário podem atestar a exploração. Além disso, as patentes que vão parar nas mão de empresários-verdes acabam expropriando o pouco de riqueza coletiva que ainda resta para a humanidade.
Os outros candidatos não tiveram nenhuma influência eleitoral. Zé Maria lidera um partido com alguma influência no sindicalismo, mas que não consegue ser um elo entre as bases exploradas e as lideranças sindicais. O mesmo ocorre com Plínio e o PSOL, que não consegue abrir espaços além da burocracia estatal. O PCB, além de não atualizar suas ideias e discurso queria combater a insônia e nos apresentou uma versão do hino da Internacional que mais parecia uma canção de ninar. A juventude deve ter achado que comunismo é coisa que dá sono Os nanicos da direita apenas queriam propagandear a luta empresarial pela diminuição de impostos.
Saímos desta campanha com um país mais homofóbico, mais reacionário e sem uma perspectiva clara para as futuras lutas dos trabalhadores contra as desregulamentações de seus direitos trabalhistas onde se incluem o direito ao trabalho remunerado, a aposentadoria, o décimo terceiro, as férias remuneradas e o direito à greve e outras conquistas das lutas dos trabalhadores brasileiros no decorrer do século XX, principalmente nos anos 80. Saímos das eleições sem discutir a industria cultural e com uma uma imprensa empresarial que chantageou, usando o seu monopólio, os candidatos e a dita democracia que fora conquistada por milhões de pessoas nas ruas dos anos 80. Saímos desta eleição com o risco do golpismo da nova direita sempre nos ameaçando e falando em democracia. Saímos mais reacionário e o Brasil saiu menor, o gigante apequenou-se outra vez. Mas a fila anda, o tempo não para e o amanhã há de ser outro dia.