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sábado, 30 de outubro de 2010

Um Brasil Mais Reacionário e Mais Conservador


Qualquer que seja o resultado das eleições de amanhã, o Brasil sai perdendo. Não afirmo isto pensando nas qualidades dos candidatos ou de seus partidos, mas em uma reflexão sobre as temáticas e as propostas surgidas do debate político que foi realizado nos programas eleitorais de rádio e TV, nos debates entre os candidatos e nas ruas pelas pessoas ditas comuns.


Sem saudosismo dos anos transformadores da década de 80, poderíamos agora, pelo menos, não sermos tão reacionários e conservadores no mau sentido da palavra. Mas é isto que se deu como principal resultado dessa campanha eleitoral. A campanha de direita de Serra jogou o PSDB ainda mais para o conservadorismo cultural  e para o lado mais reacionário do empresariado, principalmente o rural. E o pior é que a sua campanha também arrastou  a de Dilma para o conservadorismo dos costumes culturais. Foi triste ver a antiga guerrilheira que combateu a ditadura ter que, assim como Serra, passar a rezar em frente as câmaras (pareciam até jogadores de futebol, em nossas telas de tv, confessando uma crença, ostentando milhões e se dizendo seguidores do camponês de Nazaré e não de Calvino).

O Brasil sai mais conservador e sai mais reacionário. O Gigante pela própria natureza sai menor. No sentido cultural e libertário, sai menor do que o Brasil dos anos 80. É só pensarmos nos atuais candidatos Dilma, Marina, Serra etc. e os compararmos com aqueles de 1989, da primeira eleição realizada com voto direto para presidente após a ditadura de 1964. Na primeira eleição, por exemplo, o PT apresentava o candidato Lula como representante dos movimentos sindicais e sociais de esquerda  e o PSDB tinha Mário Covas como candidato de um capitalismo social-democrata. Gabeira era o candidato vindo da esquerda armada e que não defendia um mero capitalismo esverdeado. Brizola era o candidato do PDT e seus CIEPS e Roberto Freire do PPS ainda se dizia socialista.


Todos esses partidos, talvez com inveja da vitória da direita- que se deu através do nanico PRN de Collor e do apoio da Globo-,  caminharam para a direita ou para o centro. Um dos primeiros grupo a fazer esta caminhada foi a ala  ligada a Fernando Henrique e a outras lideranças  do PSDB que só não assumiu ministérios no governo Collor porque Mario Covas, que havia apoiado Lula no segundo turno, lutou contra as ideias dessas lideranças do seu partido de dar governabilidade a um presidente com as suas ideias capitalistas liberais e anti-sociais. Esta ala psdbista acabou se incorporando ao governo do vice de Collor, o mineiro Itamar, e FHC tornou-se embaixador nos EUA de onde voltou para ser ministro da economia. Gerenciou no Brasil, a reengenharia da moeda nacional (o mesmo que foi feito na Argentina e em outros países latinoamericanos) e ganhou força eleitoral através do massivo apoio que recebeu da mídia monopolista.


Entre  1995 e 2002 o ex-embaixador FHC administra o Brasil. Seu governo só não foi ainda mais catastrófico porque a nível mundial vivíamos uma época de deflação. Apesar disto teve dificuldade para controlar os preços no Brasil e, para isso, arrasou as nossas reservas cambiais e nos deixou como herança multiplicação gigantesca da dívida externa. Após as eleições tentarei analisar um pouco melhor porque o governo de FHC foi muito mais prejudicial para o Brasil do que a nossa vã imprensa nos permite perceber. Sugiro que o leitor leia, entre outros, o blog do cientista político Teotônio dos Santos e veja o video postado mais abaixo em que Cyro Gomes diz porque rompeu com o PSDB de FHC e opina sobre Serra.


O PT, para conquistar a presidência, adotou o realismo político e também caminhou para a direita e é hoje um mero partido trabalhista de centro, como o fora o PDT de Brizola. Esta forma de trabalhismo tenta oferecer um pouco para os trabalhadores cooptando suas lideranças ou lutando contra estas em nome de uma massa despolitizada e desorganizada. Nesta caminhada, Lula foi beijar a mão de Roberto Marinho e o PT perdeu os seus grupos mais a esquerda e enfraqueceu uma grande quantidade de sindicatos e de movimentos sociais que tinham no partido uma liderança importante nos anos 80.


Lula acabou vitorioso em 2002 e realizou de maneira muito mais eficaz os projetos do PSDB e do PDT: crescimento econômico agradando a maior parte do empresariado (e não só aos banqueiros, como ficou claro no segundo governo de FHC), apoio social das massas desorganizadas a partir de projetos assistencialistas e cooptação da maior parte das lideranças sindicais. A eficácia do governo Lula em realizar a social-democracia à moda brasileira, isto é, um trabalhismo varguista em tempos democráticos, conduziu o PSDB para os braços dos empresários insatisfeitos e mais reacionários: a direita latifundiária e suas defesas da propriedade da terra que, conforme a Constituição, é um bem social.

Sem um bom candidato dos partidos mais a direita, como o DEM, por exemplo, a direita apostou as suas fichas na derrota de Dilma e, por isso, aceitou até mesmo que Marina fosse tirada do ostracismo e propagandeada. Não que ela fosse a candidata da direita, mas é que com o seu crescimento aumentava  a chance de derrotar a candidatura oficial e possibilitava um segundo turno. Além disso, foi usada a mídia para "desconstruir" a imagem, desconhecida pela grande população, de Dilma. Foi usada tanto a mídia empresarial (O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, Veja, Época...), quanto os computadores da classe média e panfletos apócrifos.


Mas na verdade, a direita se aproveitou mesmo foi do desejo de Serra de ser presidente para apresentar, além das clássicas propostas liberais para a economia, um desfile de ideias conservadoras ou reacionárias para a vida social que, inclusive, cuspiu seu ódio aos trabalhadores do campo que lutam pela reforma agrária e contra o latifúndio. O desejo egocêntrico de um candidato de se tornar presidente e a direita liberal (sic) se uniram e trouxeram para o público uma conservadora campanha moralista (ou como define uma amiga: fm, falsa moralista). A este grupo uniu-se a parte mais reacionária das Igrejas e suas campanhas contra o aborto e contra os grupos homoafetivos.

Até as musiquinhas de campanha dos candidatos nos mostra o lado conservador destes: a musiquinha de Dilma diz que vai conservar o que ocorre hoje para seguir mudando. Ou continua ou muda? Na verdade o que não se diz é que o que ocorre no governo Lula é uma "transformação conservadora",  um termo técnico para se definir as pequenas mudanças mais populares que se propõe a conservar o sistema capitalista intacto, sem grandes ameaças.
A musiquinha do Serra- que é muito bem feita, diga-se de passagem- diz que ele é do bem. Ora, mas que visão da política mais moralista (f.m. ?) poderia ter uma campanha a presidente. O que é ser do bem? É se colocar contra o aborto e regulamentá-lo? É se colocar contra a corrupção e ser a liderança de um governo cheio de escândalos de corrupção como o do metrô de SP ou de Paulo Preto? Ou ter participado como ministro do governo  que nos deu os escândalos da pasta rosa, do Sirvam, etc? A musiquinha tem endereço certo: ser do bem é o que querem ouvir os conservadores religiosos e nacionalistas que acham que greve é baderna e não direito social, que homossexualidade é coisa do diabo e não um direito de escolha pessoal, que frequentar umbanda e candoblé é coisa do malígno e não uma parte do  direito constitucional que defende a liberdade de crença religiosa, etc.


Nem o primeiro turno nos salvou do conservadorismo ou da reação de direita. Marina com o seu linguajar moderno nos oferecia um capitalismo velho com ideologia nova: desenvolvimento/crescimento sustentável (conserva-se a natureza e a exploração do homem pelo homem). A ideologia é atraente, mas é uma ideologia conservadora. Os funcionários das empresas Mundo Verde, Natura, Boticário podem atestar a exploração. Além disso, as patentes que vão parar nas mão de empresários-verdes acabam expropriando o pouco de riqueza coletiva que ainda resta para a humanidade.


Os outros candidatos não tiveram nenhuma influência eleitoral. Zé Maria lidera um partido com alguma influência no sindicalismo, mas que não consegue ser um elo entre as bases exploradas e as lideranças sindicais. O mesmo ocorre com  Plínio e o PSOL, que não consegue abrir espaços além da burocracia estatal. O PCB, além de não atualizar suas ideias e discurso queria combater a insônia e nos apresentou uma versão do hino da Internacional  que mais parecia uma canção de ninar. A juventude deve ter achado que comunismo é coisa que dá sono Os nanicos da direita apenas queriam propagandear a luta empresarial pela diminuição de impostos.


Saímos desta campanha com um país mais homofóbico, mais reacionário e sem uma perspectiva clara para as futuras lutas dos trabalhadores contra as desregulamentações de seus direitos trabalhistas onde se incluem o direito ao trabalho remunerado, a aposentadoria, o décimo terceiro, as férias remuneradas e o direito à greve e outras conquistas das lutas dos trabalhadores brasileiros no decorrer do século XX, principalmente nos anos 80. Saímos das eleições sem discutir a industria cultural e com uma uma imprensa empresarial que chantageou, usando o seu monopólio, os candidatos e a dita democracia que fora conquistada por milhões de pessoas nas ruas dos anos 80. Saímos desta eleição com o risco do golpismo da nova direita sempre nos ameaçando e falando em democracia. Saímos mais reacionário e o Brasil saiu menor, o gigante apequenou-se outra vez. Mas a fila anda, o tempo não para e o amanhã há de ser outro dia.                        

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AS CONCEPÇÕES DE ESTADO DO PSDB E DO PT: LIBERALISMO VERSUS DESENVOLVIMENTISMO

Parece que retornamos ao debate político e econômico dos anos 50 e 60. O Mundo capitalista brasileiro parece um eterno retorno de suas dúvidas: ser ou não ser liberal? Ser ou não ser desenvolvimentista? Ser tsunami ou marola?
              
Como sabemos, a luta empresarial pelo aumento da taxa de mais-valia tornou-se ainda mais forte no período posterior aos anos 80 do século passado e dois fatores, entre outros, possibilitaram que o aumento da ganância empresarial se realizasse através da política: o fim do chamado socialismo real europeu e as políticas econômicas efetivadas pelo países capitalistas que ressuscitaram o velho liberalismo. Este último fator, que foi capitaneado pelos EUA e pela Inglaterra, passou a ser chamado pelo apelido de neoliberalismo e foi ganhando corpo em diversos países, inclusive no Brasil de Collor e FHC.

O apelido neoliberal tentava passar como novidade um velho receituário do século XVIII.  Acharam que éramos neobobos e  venderam para o mundo o passado como novidade. O discurso, articulado por marqueteiros e pela mídia empresarial, parecia moderno e convenceu parte do eleitorado do mundo de que o paraíso era o capitalismo selvagem. E, assim, cabia ao Estado ser um mero espectador da ganância empresarial devorando os empregos, os impostos, as empresas públicas, as moedas nacionais e os limites nacionais com as suas barreiras alfandegarias. Na verdade, era a continuação da mundialização do capital já refletido no Manifesto Comunista  por Marx e Engels ao tratarem da expansão do mercado mundial.

O liberalismo dos economistas clássicos do século XVIII criou a a falácia de que o Estado não deve intervir na economia. Afirmo que é falácia porque ele sempre intervém. Nem que seja para abrir mão de impostos (normalmente das empresas) ou para usar a sua força militar e patronal para impedir greves, como o fez o governo de FHC em 1995 usando tanques de guerra para acabar com a greve dos petroleiros e com as demissões em massa para punir os grevistas. Além disso, o Estado intervém também quando vende as riquezas públicas ou quando empresta dinheiro para as grandes empresas.

No Brasil pós-Collor, principalmente no período do governo de FHC, imperou por aqui o ideário do liberalismo. Nosso príncipe dos sociólogos, conforme foi chamado Fernando Henrique Cardoso pela  mídia serviçal, acreditou na velha mão invisível de Adam Smith e na ideologia elitista de que "o que era bom para os países do chamado primeiro mundo era bom também para o Brasil". Esqueceu até mesmo dos textos que leu de seu antigo companheiro de academia , o cientista político Hélio Jaguaribe.

Jaguaribe, apesar de seus equívocos teóricos e políticos, demonstrava, mesmo antes de 1964, que o liberalismo das economia capitalista dos EUA e Inglaterra era possível porque ambos os países estavam historicamente na frente no início da Revolução industrial. Atrasada na história do desenvolvimento industrial, a Alemanha de Bismarck e da luta pela unificação no século XIX seguiu outro caminho e se preocupou em fazer um estado interventor para proporcionar o desenvolvimento do novo país unificado.

Jaguaribe acreditava na necessidade de uma terceira via entre o liberalismo capitalista e o socialismo soviético. Assumiu a defesa de um estado neobismarckiano autoritário e com forte influência da burguesia industrial para que houvesse uma socialização do capitalismo. Como sabemos, acabamos em um uma ditadura com uma gigantesca concentração de renda e dominada pelo capital financeiro. Em finais dos anos 70,  a ditadura burguesa perdia força e a burguesia industrial fez coro com aqueles que lutavam pela redemocratização do Brasil. Mais tarde, em 1988, Jaguaribe se juntou a  outros intelectuais ligados à burguesia brasileira e ajudou a fundar o PSDB. A proposta de socialização do capitalismo como forma de combater o socialismo das origens do PT é bastante visível na candidatura de Mário Covas e do PSDB dos anos 1990.

Em 1994 o PSDB conquistou a presidência e o poder do Estado nacional através da candidatura de Fernando Henrique Cardoso, o ungido pela mídia empresarial, mas as ideias deste divergiam das ideias de Jaguaribe. As únicas semelhante eram o combate ao socialismo e a visão autoritária em relação às organizações dos trabalhadores, como bem demonstra o caso da greve dos petroleiros de 1995, nos primeiros meses de seu governo. Por outro lado, FHC não acreditou que o motor do desenvolvimento era a burguesia industrial, como defendia Jaguaribe. O então presidente manteve a hegemonia do setor financeiro (banqueiros nacionais e internacionais) e acreditou que despachar as nossas empresas estatais (vendidas a preço de banana) era a solução. Era a visão neoliberal derrotando a social democracia de seu partido e a socialização do capitalismo de Jaguaribe. A hegemonia da ideologia neoliberal no PSDB de Fernando Henrique deu no que deu: quase falimos, nossa economia além de deficitária destruiu parte do nosso parque industrial, o real pré-fixado em um dólar impulsionou as importações de supérfluos (o paraíso da classe média consumista) o que ocasionou uma quase destruição das reservas cambiais causando baixas no ninho tucano. Um exemplo foi o apoio de Cândido Mendes ao candidato Lula e a saída de Cyro Gomes que hoje circula no complexo partidário formado pelo PT-PSB-PDT-PCB  e parte do PMDB.
Este complexo partidário capitaneado pelo PT não tem nada de revolucionário. Não pretende tornar o país socialista e nem mesmo baixar a taxa de mais-valia dos empresários. Mas sua visão estrutural de como deve ser uma sociedade capitalista é diferente daquele que pretende o retorno do  velho (neo)liberalismo da era que vai de Collor até FHC. Esse grupo não é contra todas as privatizações, mas defende que algumas empresas estratégicas sejam administradas pelo Estado com dois propósitos: possibilitar uma espécie de desenvolvimentismo independente (o que difere do desenvolvimentismo do período, que acabou aumentando o descontrole cambial e posteriormente nos levou à crise da dívida externa pré-1964) e poder financiar uma pequena distribuição de renda que não significa necessariamente diminuição das desigualdades. Neste sentido, a concepção de Estado do PT e de seu complexo partidário é de um neodesenvolvimentismo que tenta pactuar um maior número de capitalistas e fazer uma pequena marola de redistribuição de renda como forma de impulsionar o mercado consumidor interno. Seria uma espécie de socialização do capitalismo proposto por Jaguaribe? Seria, como pensava este, uma forma de evitar cair no falido liberalismo e no socialismo soviético?

No período neoliberal de FHC a desigualdade além de aumentar (como em qualquer país neoliberal) não possibilitou em seu segundo mandato redistribuir renda. No primeiro, o fim do processo inflacionário e as reservas acumuladas nos dois anos de Itamar Franco permitiram que uma parte dos mais pobres tivesse uma pequeno aumento do poder de compra. Isto facilitou a reeleição do "príncipe" sociólogo, porém, assim que urnas se fecharam, o real caiu na real e descobriu que valia apenas meio dólar. As reservas cambiais estavam no fim e o governo FHC reduziu o valor da nossa moeda. Como dependíamos muito dos dólares, as taxas de juros eram realmente gigantescas. Com a inflação baixa, FHC deixou o governo com a taxa selic em torno de 20%, era um juros muito alto, assim como deixou alto o risco Brasil, a dívida externa e a interna que fora dolarizada nas negociações do seu governo com os credores. O que não era bom para os países ricos, foi trágico para o Brasil, México Argentina, etc. Só quem ganhou foi o grupo de banqueiros que viviam de juros sem produção. Dinheiro gerando aumento de dinheiro para meia dúzia sem nada produzir. Não era nem capital financeiro, era meramente capital bancário ou de agiotagem legalizada pelo liberalismo.
Mas se este modelo adotado pelo PSDB deu errado, porque a maior parte da imprensa luta tanto para impor o candidato do seu partido,  Serra? É só abrirmos as páginas de O Globo/Extra, Folha de São Paulo, Veja, Estado de São Paulo, Época, etc para percebermos que uma grande parte da imprensa se coloca como partido. Inclusive, alguns assumem que se colocam como partido de oposição dizendo que no Brasil a oposição é muito fraca. Mas porque esse grupo dominante da imprensa (que as vezes alguns analistas chamam de PIG: Partido da Imprensa Golpista)  faz a defesa da candidatura neoliberal?

Podem ser muitas as respostas mas uma das desculpa dada por esse setor da mídia é a necessidade de se diminuir impostos para diminuir o custo Brasil (aumentando o lucro dos empresários) e combater  o Estado chamado de deficitário que, por exemplo, mantém as atuais regras para a aposentadoria. Para esse setor da mídia o projeto neoliberal combate de forma mais contundente essa questão. Quase todo santo dia a mídia empresarial nos apresenta a pregação , por exemplo. do velho ministro da ditadura de 1964, o Sr. Reis Veloso, repetindo o velho sermão de que o Estado terá que fazer mais uma reforma previdenciária tirando direitos dos funcionários públicos e trabalhadores do setor privado.  Nos dois casos, quem ganha de fato é a classe empresarial que, além de aumentar a sua taxa de mais-valia através da diminuição dos custos dos impostos, teria mais possibilidade de conseguir empréstimos mais baratos financiados pelo BNDES estatal e outros bancos do Estado. Além disso, a venda de empresas estatais para empresários brasileiros e estrangeiros possibilitaria a estes a compra de ativos extremamente lucrativos que hoje, estando nas mãos do Estado, não podem enriquecer ainda mais as grandes empresas financiadoras da maior parte da grande imprensa.

Portanto, está em jogo na atual eleição duas concepções capitalistas do Estado. O PSDB, que não tem nada de social-democrata, propõe um modelo liberal surgido no século XVIII e adaptado nos últimos 30 anos. Sua proposta cria tsunamis sociais como tem ocorrido nos EUA, Grécia, França Espanha, Portugal e, em breve, na Inglaterra.

Por outro lado, o modelo capitalista do PT propõe um Estado desenvolvimentista que busca um crescimento mais"independente" e pautado nas empresas privadas e em algumas estatais que alavancariam o crescimento econômico. Propõe marolinhas de distribuição de renda a partir do assistencialismo e, para isto, necessita de manter a arrecadação de impostos, o que ocorre ou via crescimento das alíquotas ou, como tem sido feito, via aumentos da arrecadação acompanhando o crescimento econômico. Sua proposta, creio, está mais perto da socialização do capitalismo para impedir a luta pelo socialismo de Hélio Jaguaribe do que a que foi feita por FHC e é proposta por Serra. Além disso, estes mantém a visão autoritária daquele autor e o PT tenta dialogar de forma a hegemonizar as organizações dos trabalhadores.

Marolas ou tsunamis, eis ainda a questão. No próximo domingo saberemos o caminho que tomaremos. E, é claro, o debate retornará. Os anos 60 e o século XVIII ainda estão presentes aqui e agora.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

PIG, TSUNAMIS E MAROLAS (A IMPRENSA GOLPISTA)


                                         
 Acho que o vídeo que apresento agora é muito didático no que diz respeito ao papel da grande imprensa e da oposição de direita. Creio, porém, que é necessário um esclarecimento sobre a sigla P.I.G. (Partido da Imprensa Golpista) que foi formulada na tentativa  de denunciar uma das funções políticas que une a maior parte da imprensa empresarial com a política partidária. O P.I.G. usa do seu poder ideológico para, de forma "porca", tentar impor ao público seus candidatos e seus interesses privados. O P.I.G. seria um verdadeiro partido formado pela imprensa empresarial e apoiado por outros grupos de empresas que financiam seus interesses.

Não é difícil perceber que o que este grupo da imprensa publica é retransmitido pelo candidato do neoliberalismo e, por outro lado, o que este denuncia (com ou sem provas) ou propõe vira pauta da mesma imprensa. Por outro lado, as críticas e as denuncias contra este mesmo candidato não ganha repercussão ou são abafadas. É o caso do aborto que foi censurado como ideia, mas não foi investigado como algo possivelmente efetivado por pessoa da família do candidato que foi beneficiado pela tal censura. Outro exemplo é o tráfico de influência e de desvio de verba acontecidos na casa civil...de São Paulo (Brasília não é a ilha isolada da corrupção, é apenas uma parte desse arquipélago formado por setores privados e públicos do país).

O P.I.G seria formado pela maior parte dos jornais, canais de televisões, rádios e revistas, incluindo o sistema Globo, o jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, as revistas Época e Veja, etc. Não é difícil, nesse exato momento, analisar as ditas reportagens desse grupo e perceber que repetem as mesmas ladainhas a favor de uma das candidaturas. Por outro lado, remando contra a correnteza produzida pelo P.I.G., alguns grupos menores da imprensa tentam, nesse momento, um pouco mais de neutralidade (visto que a objetividade total é, comprovadamente, impossível) e este é  o caso de O Dia, Isto É e Carta Capital.

 Espero com o vídeo abaixo possibilite a percepção de um fato simples: o que a oposição neoliberal defende é o mesmo que o P.I.G. anuncia e defende em relação ao papel do Estado brasileiro: cortar gastos e seguir o receituário liberal- receituário este que  trouxe, como demonstra qualquer análise rápida da história, prejuízos para os trabalhadores mundo afora.

A proposta neoliberal aumenta a ganância da elite empresarial em relação às riquezas públicas (estatais) e isto tem gerado crises sociais. O défit público passa a ser o demônio a ser exorcizado e o lucro o velho deus a ser louvado. É só olharmos para os EUA e  os Estados capitalistas da Grécia, Espanha, Portugal , França... para vermos o resultado: desemprego, fome, desabrigados, desregulamentação dos direitos trabalhistas, greves e grandes conflitos sociais.

Tsunamis ou marolinhas,  eis o que está em  questão no embate político brasileiro: Estado neodesenvolvimentista com marolas de distribuição da renda pública ou o Estado neoliberal e os tsunamis da concentração de renda. Marolas ou tsunamis? Ser ou não ser? Como disse o poeta: "quem viver, chorará".




P.S.: A seguir transcrevo um texto retirado do portal da Carta Capital que foi publicado no dia seguinte a minha postagem neste blog. Creio que o texto ilustra bem o que escrevi. O título- A verdade factual às favas- resume bem o que faz o P.I.G. ao construir versões enganosas de fatos que, em suas folhas de jornais, são apresentados e vendidos como verdades absolutas, mas não passam de ficções para serem usadas na política.

                                             A verdade factual às favas
                                                    (Sergio Lirio)

21 de outubro de 2010 às 15:23h

A mídia torna secundárias as principais conclusões do caso da quebra de sigilo fiscal de tucanos.

Na segunda-feira 18, durante a premiação das empresas mais admiradas do Brasil, Mino Carta causou certo mal estar na platéia de empresários ao falar, entre outras, que a mídia brasileira não costuma se guiar pela verdade factual, pelos acontecimentos como eles se deram. Prefere as versões de seu interesse. Mas como discordar dessa afirmação ao ler nos jornais desta quinta-feira 21 o relato das conclusões da investigação da Polícia Federal sobre a quebra de sigilo fiscal de tucanos e parentes do candidato José Serra. O Estado de S. Paulo, por exemplo, estampa: “Jornalista ligado ao PT pagou por dados de tucanos”. Para produzir essa linha, que me surpreenderá se não for utilizada no horário eleitoral gratuito de Serra, o jornal paulista tornou acessório o essencial dessa história. A saber:
O jornalista Amaury Ribeiro Jr. trabalhava no jornal Estado de Minas quando encomendou e pagou a um despachante de São Paulo pelos dados sigilosos. Segundo relatou à PF, as despesas do “trabalho” foram custeadas pelo jornal e sua missão era “proteger” o então governador Aécio Neves das investidas de José Serra, que teria encomendado ao deputado e ex-PF Marcelo Itagiba a fabricação de dossiês contra o correligionário de Minas.
Quando a quebra dos sigilos ocorreu, Serra e Aécio disputavam a indicação à vaga de candidato à presidência do PSDB. Aliás. Itagiba tem histórico no trabalho de atropelar adversários do presidenciável tucano. Quando Serra era ministro da Saúde e ele cuidava da “inteligência” da pasta, circulou um dossiê contra Paulo Renato de Souza, então ministro da Educação. À época, Souza andava tentado a fazer o mesmo que Aécio desejava: disputar a indicação do PSDB à presidência. Serra levou a melhor e acabou candidato em 2002, assim como foi o escolhido agora.

Ribeiro Jr. nunca foi contratado pela pré-campanha de Dilma Rousseff e nunca trabalhou para o PT antes. Ele apenas intermediou um contato entre Luiz Lanzetta, que prestava assessoria ao comitê, e o araponga Onésimo de Souza. Lanzetta estava preocupado com o vazamento de informações internas da pré-campanha. Uma briga por poder na equipe petista entre o grupo de Fernando Pimentel, que indicou Lanzetta, e de Rui Falcão está na base das “denúncias” que viriam a sair na mídia. Depois de o caso vir à tona, Lanzetta perdeu o contrato e o grupo de Falcão ganhou espaço e poder na estrutura.

A PF concluiu que não se pode ligar a violação dos dados com o suposto uso eleitoral das informações. De fato, não existe nenhum indício nem se imagina como a candidatura de Dilma Rousseff poderia se valer de informações obtidas de forma criminosa. Seria um tiro no próprio pé, pois resultaria na cassação de seu registro eleitoral.

Estes são os fatos. O resto…

Sergio Lirio

sábado, 16 de outubro de 2010

MESTRES, PASTORES E REBANHOS

"Todo de Deus me iluminei então/ Que os Doutores Sutis se escandalizem: 'Como é possível sem doutrinação?' (...) Mas entendem-me o céu e as criancinhas." (Mario Quintana) 
Ontem, dia 15 de Outubro, foi comemorado no Brasil o dia dos professores (ou dia dos mestres, em uma visão mais ampliada da prática de educar, de ensinar ou coisa semelhante). Professor é aquele que professa, ou seja, que diz publicamente o que acredita. É aquele que se permite a arriscada tarefa, segundo Albert Camus em "A Peste", de dizer que dois mais dois são quatro. Tarefa que parece simples, mas que em alguns momentos da vida política de um país tiram de alguns mestres a liberdade ou a vida.

Quantos professores em um passado recente do Brasil tiveram que fugir do país para se abrigar da possibilidade de prisões e torturas? Alguns tiveram a grata loucura e a coragem de ficar e se opor aos ditadores. Manoel Maurício de Albuquerque foi um destes. Acabou sendo preso, torturado, demitido da universidade e dos cursos particulares, mas professou até a sua morte. Confesso que admiro a sua atitude, mas acho que não teria a sua coragem. Como Serra, FHC e outros, eu ia preferir ganhar a vida como exilado e voltar renomeado. Podendo, inclusive, dizer que fui um professor perseguido pela ditadura e chamar, como o fez o então presidente FHC, os aposentados de vagabundos (claro que ele esqueceu que fora aposentado aos 37 anos de idade e que ao retornar do exílio pode, mas não quis, retomar as atividades docentes, preferiu continuar aposentado- ou seja, preferiu ser...). 

Um mestre não se propõe a ter um rebanho de seguidores, embora é possível que suas ideias e exemplos atraiam um grupo de admiradores que com ele tende a dialogar e crescer até que seja possível a alguns (e quem dera a todos) ultrapassá-lo. Só um ego inflamado pode fazer um mestre querer ter seguidores eternos. O velho Marx dizia sobre aqueles que se declaravam seguidor e marxista que ele, o próprio Marx, não era marxista. Para ele, cabia aos que o admirava ultrapassá-lo. Ele mesmo não se dizia um gigante, pelo contrário, dizia que estava sobre o ombro de outros gigantes e, por isso, podia enxergar mais longe.Alguns de seus mestres, cujas ideias ele incorporou e  ultrapassou, foram o filósofo dialético Hegel e o economista burguês Ricardo.

Assim como Marx, nem todos os mestres são professores de ofício. Quase todos os pais, pelo menos  a maioria, tentam ser mestres de seus filhos e buscam, para isso, utilizar de suas palavras e exemplos para conduzirem suas crianças no caminho do bem. Mas todos querem filhos emancipados e com a possibilidade de fazerem as escolhas para seus futuros, até porque sabem que eles terão que decidir na sua ausência. Alguns pastores religiosos também agem desta maneira: através de seus exemplos e palavras tentam ajudar seus irmãos de crença a se tornarem pessoas que possam crescer a ponto de terem condições de decidirem sobre o que seria melhor para as suas vidas. Esses irmãos de crença são vistos como irmãos e não como crianças seguidoras ou, pior ainda, rebanhos.

Este último termo, rebanho, que ganhou cunho religioso, a princípio é um termo econômico, pois nasceu de uma sociedade cuja base econômica era a criação de ovelhas, a sociedade de pastores. Ovelha, é bom lembrar, seria na velha idade média, um dos animais considerados menos inteligente e, por isso, tinha que ser pastoreado idologicamente pelo clero e controlado fisicamente pelo amigo do clero, ou seja o cão-pastor(a nobreza). Confundia-se o texto bíblico "O senhor é o meu pastor" com "o senhor clero é o meu pastor". Ou ainda: "perante Deus o homem é uma ovelha" com o "perante o senhor clero, sou uma ovelha".

Todos sabemos que na velha idade média, o clero não pregava na tentativa de tornar o seu rebanho emancipado. Assim, os sacerdotes não eram- do meu ponto de vista- realmente mestres. Eram somente domesticadores de gente. O ofício do clero não era sacro (não era sacrifício), era mundano: usava-se a literatura cristã para dominar pessoas e fazê-las seguir um caminho traçado pelas lideranças da Igreja. Não era mais a palavra nem os exemplos o mais importante. A pedagogia principal era a do medo e a do castigo. As habilidades desejadas para os seguidores (o rebanho) eram a submissão, a corveia, o a compra das indulgências, o dízimo, etc.

Como já disse, há pastores hoje (católicos e protestantes) que são mestres. Como os professores dedicados, querem a emancipação daqueles para os quais servem. Isto mesmo: o que pode haver em comum entre professores e pastores é serem ambos servidores e emancipadores de pessoas. No entanto, muitos ainda praticam o velho ofício sacerdotal de arrebanharem fiéis para ditarem suas ações, seus sentimentos e, até mesmo, usurparem as suas cidadanias. Sentem-se no direito de decidirem que tipo de roupa, que tipo de música, que tipo de sexo, que tipo de voto seus seguidores possam ter. Fazem do púlpito palanques, fazem de trechos da Bíblia panfletos políticos, fazem dos fiéis uma multiplicação de seus próprios votos. Fazem de cidadãos cordeiros de grupos políticos.

Além disso, alguns usam da podridão da política e a inserem no espaço que eles chamam de sagrado, o interior do templo. Trazem para dentro deste, cópias montadas de vídeos que, além de negarem o bom senso, espalham a mentira produzidas nestas montagens(1). Aqui o "Ide e pregai" é confundido com o façamos política como quem faz a guerra. Passaram a servir, assumidamente, a dois senhores. Ao pai da mentira e a um partido político. Lutero, Lucas e Pedro devem estar se perguntando se a profecia está se concretizando : "muitos falarão em meu nome".

Creio que um dos fatores para tal iniquidade é o crescimento rápido de Igrejas que acabam formando pastores que ou pouco conhecem do que se propõem a pregar ou que agem mesmo de má fé. Um outro fator é o antigo uso político da boa fé do povo. Mas o triste é que nossas crianças estão sendo também conduzidas por esses homens que nada ou quase tem de mestres. Na semana retrasada resolvi fazer uma enquete em uma sala do sexto ano da escola onde trabalho. Constavam neste dia 24 crianças entre 11 e 12 anos. Perguntei quem tinha ouvido falar que uma candidata a presidente tinha ligação com o satanismo ou o diabo. Dez crianças disseram que sim. Dentre estas, a metade me disse que tinha ouvido isto dentro da igreja que frequenta. A turma ficou agitada com o tema e várias crianças me falaram de mensagens subliminares e que eu deveria procurar vídeos sobre os ILLUMINATS. Procurei e cheguei à triste conclusão: que maldade estão fazendo com as nossas crianças. Como Pelé, no milésimo gol, tive a vontade de chorar e dizer "Salve as nossas criancinhas!". Eles dizem que as estão salvando, eu acho que não. Nossas crianças perderão, desta forma, a possibilidade de se tornarem adultos emancipados (religiosos ou não) e servirão de massa de manobra deste novo tipo de curral eleitoral. Tem pastores vendendo seus rebanhos. Quem dá mais?!

                                                     ********
Segue, retirados do You Tube, dois vídeos. Um contra a politização das igrejas o o outro sobre o problema dos professores em São Paulo. No primeiro vídeo, buscando referência em Lutero e na História,  um futuro  pastor tenta combater as ideias do Pr Paschoal Piragine Jr.(1) dizendo que é necessário separar a Igreja e o Estado. Achei interessante a sua abordagem, que, inclusive, tenta combater o uso de currais eleitorais e defender a cidadania livre de seus irmãos de crença. Mas não concordo, entre muitas coisas,  quando ele diz que só a Igreja pode combater as iniquidades. Na verdade, até a liberdade religiosa é fruto da luta de homens que lutaram pelo Estado laico, como os iluministas europeus e o nosso deputado comunista Jorge Amado, que na Constituição de 1946 defendeu a liberdade religiosa.



O segundo vídeo nos serve para desmitificar a campanha do Sr. Serra no que diz respeito à Educação. Segundo a sua propaganda, os professores paulistas tem um dos maiores salários do país. Na verdade, em termo comparativo, é tão ruim quanto o péssimo salário pago no estado do Rio de Janeiro aos mestres. Em SP um professor recebe cerca de 1800 reais para trabalhar por 40 horas semanais, no RJ cerca de 700 para trabalhar por 16 horas. Ou seja, apesar da propaganda, é muito ruim o salário pago pelo estado mais rico do país aos seus professores. Aqui no Rio, as cidades de Caxias, Angra dos Reis, Nova Iguaçu e até a capital com a sua equipe de Educação tucana, pagam um pouco melhor. Além disso, o vídeo mostra que a propaganda da história dos dois professores em uma sala de aula é outra falácia. Há também o problema da representação sindical como um dos problemas do professorado paulista e, é claro, a má vontade da apresentadora do telejornal com os movimentos grevistas que balançaram SP durante esses quatro anos de arrocho salarial serrista.


 (1) Poderíamos citar aqui diversos pastores que fazem campanhas para diversas candidaturas, inclusive a favor e contra a Dilma e o Serra, mas quero lembrar especialmente o Pr. Paschoal  Piragine JR. presidente da Primeira Igreja Batista de Curitiba. Este pastor me fez lembrar da postagem posta aqui no dia 02 deste mês que falava do canto da ema. Creio que o sr. Piragine Jr é um exemplo claro da "ema" que geme nos "trazendo no seu canto um bocado de azar". Sua fala mansa destila inverdades e uma politização de baixo nível do púlpito religioso. Piragine divulgou em sua igreja um vídeo montado que pode ser visto também no You Tube, mas como o nível é muito baixo preferi não apresentar. Este senhor foi um dos que iniciaram a campanha ilegítima que dizia que há candidatos que defendem o aborto de fetos de até nove meses e outras baboseiras. Diversos pastores se colocaram contra e a favor dele, o que demonstra que as Igrejas estão se tornando aqui, tanto quanto na matriz estadunidense, verdadeiros partidos políticos.
 
Se for de interesse do leitor, segue outro vídeo criticando o Sr Paschoal Piragine. É só clicar no endereço abaixo que será possível entrar no You Tube e lá é possível encontrar outros vídeos sobre esse debate. No You Tube é possível encontrar gravações de diversos pastores usando o púlpito para defender ou o Serra ou a Dilma. A Grande Imprensa, na sua campanha pró-Serra, nos leva a crer que a Sra. Dilma não tem apoio nos meios religiosos, mas é fácil encontrar no You Tube muitos vídeos desmentindo a Grande Imprensa, procure, por exemplo, os seguintes pastores: Izaias de Souza Maciel, João Nunes, Glaycon Terra Pinto, Silva Nunes, Rodovalho e outros.
                                       
                                        


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

VIDA

(Para Leo Bruno, presente e vida, vida presente na minha e em mim)

O presente que tudo arrasta
Que tudo arrasa
Que tudo traga.
O presente que recria o que passou
Que dá vida ao passado
Que o arrasta até si próprio
Que o traga como fumaça.
O presente que engendra o futuro
Que o procura,
Que o cria.
O presente grávido de si mesmo
Gerando a si mesmo
Se recriando.
O presente, não a passagem do tempo,
O presente que passa o tempo,
A vida.

 Rio 25/01/07  (12h19m)


   

domingo, 10 de outubro de 2010

Texto de Leonardo Boff Sobre o Segundo Turno e Comentários

Recebi na semana passada um artigo que fora escrito pelo filósofo Leonardo Boff com comentários sobre a Marina, o PV, o PT, Dilma, etc. Como no último dia quatro citei aqui o filósofo, resolvi postar, mesmo não concordando com tudo. Após o texto fiz alguns comentários. Este texto de Boff foi retirado do portal "CARTA MAIOR". Se não conhece o portal, o leitor pode tentar entra em contato e até se tornar seguidor deste. Acho que vale a pena. Apesar de ser meio petista, possui textos mais críticos e honestos do que os da grande mídia. No lado direito do meu blog, na seção "Vale consultar", o portal já está recomendado. É só ir lá e clicar. Sobre a política, com uma visão mais radical de esquerda , recomendo o portal  da "NOVA DEMOCRACIA", que o leitor também encontra na seção "Vale consultar".
OBS:  Recebi dois e-mails dizendo que acharam confuso esse texto de análise política ter sido postado junto com dois contos que tratam de sentimentos. Aceitando a crítica, publico aqui  separado o texto de Leonardo Boff e faço alguns comentários no final desta postagem. Inclui também uma reportagem de menos de um minuto sobre a Marina que ajuda a ilustrar o que falo sobre o PV nos comentários.


Leonardo Boff apoia aliança entre Marina e Dilma



Leonardo Boff

O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?

É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.

Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as “humilhadas e ofendidas” e consideradas “zeros econômicos” pelo pouco que produzem e consomem.

Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do pais, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma virada de magnitude histórica.

Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.

O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluídos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.

Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo pois sempre se atém aos ditames dos países centrais.

José Serra, do PSDB, representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.

O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.

Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.

Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.
É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra. Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva.

Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.

Antes dos comentários ao texto de Boff, é interessante assistir a esta pequena reportagem (so segundos) sobre a Marina e a sua contradição com a cúpula do PV.

                                           

Alguns comentários:


1)Creio que Leonardo Boff  foi bastante generoso com o PT na sua leitura da política. É claro que há diferenças entre o projeto deste partido e o do PSDB de Serra. O PT possui um projeto de inclusão social que o difere do PSDB, mas, no entanto, dizer que a base social do PT é o povo organizado merece algumas considerações. Assim como as populações carentes não possuem organizações de base sérias (onde estão as associações de moradores?), os sindicatos estão organizados com pouca base de sustentação. Mesmo em sindicatos com grande número de filiados é pequena a participação de suas bases. Sabemos que a nível mundial, o sindicalismo tem passado por dificuldades de representação e de participação. As bases não estão organizadas e as direções tendem a meras negociações. Talvez as excessões estejam nas organizações camponesas que, na luta contra o latifúndio, ainda conseguem organizar a massa de trabalhadores rurais do Brasil.

2)Por outro lado, como negociar com Marina se os seus votos foram tão díspares? Se, por um lado, temos a discussão moderna da ecologia e do desenvolvimento sustentado tão bem defendida pela candidata a ponto de gerar uma marola verde, temos, por outro lado, o voto conservador e até reacionário de alguns de seus eleitores que, movidos pelo medo pregado por diversas lideranças religiosas, criaram a onda inquisitória e fizeram da Dilma a bruxa da vez. Negociar com uma base social tão desarticulada e contraditória seria fazer da Marina uma liderança que ela não é. Seria respaldar o nosso velho sebastianismo, nosso velho messianismo. Antonio Conselheiro tinha uma base social coesa, Marina teve uma base social de votos diversificada e complexa: um grupo de intelectuais e jovens de classe média que adotou o discurso da ecologia e sustentabilidade; um outro grupo que nada se preocupa com sustentabilidade mas que votou nela liderado por pastores, e-mails e imprensas inescrupulosos. E um terceiro grupo que procurava uma alternativa viável para o bipartidarismo brasileiro. Acreditou que Marina seria essa via, mas se esqueceu que o PV faz parte de um polo deste bipartidarismo (o complexo PSDB-DEM-PTB-PPS-PV).

3)Esta questão também tem que ser pensada. A questão da política partidária. Marina sabe que a sua entrada no PV e a sua rápida ascensão neste partido não se deveu a sua liderança. O próprio jornalista Ricardo Noblat, do jornal de oposição O Globo, em 4/10/2010 , é quem diz: "O PV é um partido cartorial. Que cede sua legenda sem cobrar em troca o mínimo de fidelidade aos seus princípios." Só isto nos permite entender o  apoio do PV ao DEM do Rio de Janeiro de César Maia com suas obras faraônicas como o Cidade da Música  e ao PSDB de São Paulo com as suas enchentes, facilidades para montadoras de carros e engarrafamentos, apesar de 16 anos de governo tucano. Marina não tem o controle do PV, como bem demonstra a reportagem. Ela não é nem o Gabeira que fez diversas emendas para favorecer os governos tucanos em MG, SP e RS. Também não é  Sirkis, o secretário de governo do César Maia.

4)Será que Marina será controlada pelo PV e ficará imparcial no segundo turno enquanto o partido apoiará Serra? Ou ela romperá com a lógica deste partido que há muito é linha auxiliar do PSDB e que sempre se opôs ao governo Lula?  Talvez Marina tenha gostado da pequena picada da mosca azul  e se resguarde para daqui a quatro anos. Para isso terá que que correr o risco de ver, outra vez sem nada dizer, a campanha da direita usar a igreja da forma anti-ética que, creio, ela não concorda. Só que dessa vez, líderes de seu novo partido estarão apoiando o candidato beneficiado com esse canto da ema (1).

Para finalizar, creio que o voto reacionário deite em seu berço, os braços de Serra, o voto pseudomoderno caminha para os mesmos braços. Os votos que buscam uma pequena mudança social devem encontrar Dilma no caminho e o voto mais radical buscará protestar na forma do voto nulo.

(1) obs: Sobre o termo o canto da ema, veja o texto postado aqui no dia 2 de outubro.

O excelente texto "Quando o Verde é Azul" de Felipe Demier nos ajuda a compreender  as posturas do PV,PSDB e PT pode ser lido no endereço abaixo. É só clicar e ler

             http://webmail6.click21.com.br/horde/util/go.php?url=http%3A%2F%2Fwww.correiocidadania.com.br%2Fcontent%2Fview%2F5108%2F9%2F&Horde=674b99c5f41759fc908205e8a5d911f2

JOHN LENNON: A MULHER É O NEGRO DO MUNDO

(Para  a minha filha, com o desejo que não vigore esse momento reacionário que se coloca contra as liberdades, inclusive as das mulheres)

Se John Lennon fosse vivo estaria completando setenta anos. No entanto, ele morreu cedo ("bendita a morte, que é o fim de todos os milagres") e nós saímos perdendo uma das cabeças pensantes mais importante do século XX. Em pouco tempo  de vida, Lennon nos deixou uma obra vasta que muito admiro. Em sua homenagem publico nesse blog três postagem. A primeira é sobre o tema do imperialismo britânico, a segunda é sobre a classe trabalhadora e a última fala  sobre a mulher. Há muitos outros temas importantes na obra de John, mas o blog é pequeno para o tamanho de Lennon.

Lennon, que em um determinado momento da sua vida passou a ser a "dona de casa" cuidando do filho ainda novo, fez diversas declarações para Yoko, sua esposa . Percebe-se nas canções (letras e melodias) a ternura que tinha por ela. Mas uma canção especial, se referindo a todas as mulheres, chama a atenção não só das feministas, mas de qualquer humanista. "Woman is the Nigger of the World" nos revela um Lennon engajado na luta pela emancipação feminina. Ele compara a mulher ao negro/escravo do mundo. Ela é o escravo dos escravos, o negro dos negros. E, como em diversa canções suas, John nos convoca para enfrentar a dominação, nos chama à luta ("Pense Nisso, faça alguma coisa", ele nos diz). 

Lembrar esta canção hoje se faz necessário. O mundo parece estar passando por uma onda reacionária (até o mano Caetano fez campanha para o César Maia do DEM). Em todos os lados estamos vendo os trabalhadores perdendo direitos conquistados com suor e sangue. Cresce a campanha para que as mulheres retornem ao lar. Surgem as "profissões" femininas maria chuteira, mulher de pastor e maria fuzil. O funk cada vez mais trata as mulheres como algo descartável e que dá nojo (segundos as "letras" de suas batidas). A campanha eleitoral da direita tenta desclassificar uma mulher como se ela fosse mera marionete ou fantoche (e perante o capital quem não é,  senhor Serra? Perante o desejo de privatizadores, quem não foi fantoche sr. FHC?). Em diversos países, hoje,  mulheres andam com o rostos velados e e com a possibilidade de serem apedrejadas. Aqui as pedras são palavras, desrespeitos, mau-tratos. A mulher é o negro dos negros, é o escravo dos escravos, é o explorado dos explorados, é o capacho dos capachos.

Pena que Lennon morreu tão novo. Precisamos de novas canções humanistas e libertárias. Precisamos de canções que protestem. No entanto, precisamos primeiro de mais artistas que se permitam ir à luta e, por isso, mais uma vez saúdo aqui neste blog os zecas baleiros, os rappas, os lenines do presente. E também os chicos, gonzaguinhas, caetanos do passado. Mas hoje é dia de saudar mais ainda o John Lennon de sempre. Aquele que, além de integrar a melhor banda de música popular (Beatles), teve a bela coragem de se libertar do grupo. Talvez já ali ele tivesse compreendido o nosso Bandeira: bendita é a morte, que é o fim de todos os milagres.

Segue a letra (tradução e original) e um vídeo com a canção de Lennon que foram retirados do sítio Vagalume. Veja também as duas outras postagens sobre John.  


A Mulher é o Escravo do Mundo
    (John Lennon)


A mulher é o escravo do mundo                                          
Sim, ela é...pense nisso
A mulher é o escravo do mundo
Pense nisso...faça algo sobre isso

Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Se ela não for uma escrava, dizemos que elas não nos amam
Se ela é real, dizemos que ela está tentando ser um homem
Enquanto a colocamos pra baixo, fingimos que ela está por cima

A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...

Nós a fazemos parir e criar nossos filhos
E depois as deixamos de lado por serem mães gordas como galinha
Nós dizemos que elas só devem ficar em casa
E depois dizemos que são muito anti-sociais para ser amigas

A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...

Nós a insultamos todo dia na TV
E nos perguntamos por quê lhe falta coragem ou auto-confiança
Quando jovens, tiramos delas a promessa de liberdade
Enquanto as mandamos serem pouco inteligentes, as culpamos por serem tão burras

A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...se você acredita em mim, melhor gritar sobre isso

Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar

Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar      
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar


Woman is the Nigger of the World
John Lennon

Woman is the nigger of the world
Yes she is...think about it
Woman is the nigger of the world
Think about it...do something about it

We make her paint her face and dance
If she won't be a slave, we say that she don't love us
If she's real, we say she's trying to be a man
While putting her down, we pretend that she's above us

Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave of the slaves
Ah, yeah...better scream about it

We make her bear and raise our children
And then we leave her flat for being a fat old mother hen
We tell her home is the only place she should be
Then we complain that she's too unworldly to be our friend

Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yeah...alright...hit it!

We insult her every day on TV
And wonder why she has no guts or confidence
When she's young we kill her will to be free
While telling her not to be so smart we put her down for being so dumb

Woman is the nigger of the world
Yes she is...if you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yes she is...if you believe me, you better scream about it

We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance

JOHN LENNON E A CLASSE TRABALHADORA

Ninguém duvida que a classe empresarial domina a classe dos trabalhadores que vive de salários. Certo? Também não se duvida que essas são as classes fundamentais do nosso mundo. Correto? Um tema importante para pensarmos a dominação empresarial no mundo capitalista, que vai além da força bruta, é o controle ideológico produzido dentro desse mundo. Não?

 É lugar comum, falar da dominação ideológica  pensando na mídia, na Igreja, na cultura que perpassam todas as classes sociais. Mas é óbvio que o controle ideológico tem que ser necessariamente feito sobre a classe trabalhadora pois é esta quem produz toda a riqueza que, mais tarde, é repartida de forme desigual para toda a sociedade. E, nesta forma desigual de divisão, a menor parte cabe aos produtores da riqueza. Alguém duvida?

Sendo desta forma, acho que todos concordam que  a possibilidade de revoltas seria muito grande se o controle das massas trabalhadoras não ocorresse. Neste sentido, é fundamental o papel dos intelectuais na produção e divulgação de culturas que possibilitam convencer os trabalhadores ou desinformá-los. De modo geral, participam como produtores e divulgadores, o que o italiano Gramsci chamou de intelectuais orgânicos (diretamente ligados a uma das classes fundamentais da sociedade) e intelectuais tradicionais (que, se colocando como neutros, acabam por defender uma dessas classes). São eles os artistas, os professores, os jornalistas e os líderes religiosos, etc. A grande maioria destes intelectuais ajuda a divulgar ideias que possibilitam a subordinação dos trabalhadores.

Por outro lado, há os que fazem diferente: alguns artistas e diversos outros intelectuais tentam desmascarar a dominação velada que sofrem os trabalhadores. No Brasil, por exemplo, temos diversos artistas denunciando, as vezes de forma debochada, os "operários padrões" tão divulgados na nossa última ditadura. É o que vemos em diversos filmes nacionais e na música "Vai Trabalhar, Vagabundo!" de Chico Buarque. Temos também denúncias mais dramáticas, como são os casos, por exemplo, da canção "Comportamento Geral" de Gonzaguinha e "Construção" e "Deus lhe Pague" que também são de Chico Buarque.

A canção  "Working Class Hero" de John Lennon segue a linha  dramática de Chico e Gonzaguinha na denuncia da dominação sofrida pelos trabalhadores. Tirando o exagero de qualquer comparação, o  herói da classe trabalhadora de Lennon também está dopado pela religião, sexo e TV, assim como nos disse Chico em Deus lhe Pague: "(...) Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui/ O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir/ Pelo domingo que é  lindo, novela, missa e gibi/ Deus lhe pague".  Lennon termina a canção dizendo que se as pesoas querem um hérói que bastava segui-lo. Ou seja: seguir o seu exemplo, ser um herói, mas não da classe trabalhadora (os operários padrões) e, sim, apenas herói- que entendo como sendo, na canção, aquele que percebe e denuncia a dominação. Nesse momento da sua produção estética, Lennon se colocou como intelectual orgânico assim como diversas vezes o fizera Chico e Gonzaguinha. Talvez por isso, críticos severos existem de suas produções poéticas. Para aqueles, a arte não pode ser orgânica, embora sempre seja.

          O HERÓI DA CLASSE TRABALHADORA
                   
Logo que você nasce eles fazem você se sentir tão pequeno
Não dando a você nenhum tempo ao invés dele todo
Até que a dor é tão grande que você não sente nada
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Eles te machucam em casa e te batem no colégio
Eles te odeiam se é inteligente e desprezam um tolo
Até que você estar tão louco que não consegue seguir as regras deles
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Quando eles te torturaram e te machucaram por 20 estranhos anos
Então eles esperavam que você escolha uma profissão
Quando você não funciona, você está cheio de medo
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Mantém você dopado com religião, sexo e TV
E você acha que você é tão inteligente, preparado e livre
Mas você ainda é um camponês fodido pelo que eu vejo
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Existe a sala no alto onde eles falam para você até agora
Mas primeiro você precisa aprender como sorrir enquanto mata
Se você quer ser como os caras da montanha
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser
Um Herói da classe trabalhadora é algo para ser

Se você quer ser um herói, bem, basta me seguir
Se você quer ser um herói, bem, basta me seguir 

  Working Class Hero
       (John Lennon)

As soon as you're born they make you feel small
By giving you no time instead of it all
Till the pain is so big you feel nothing at all
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

They hurt you at home and they hit you at school
They hate you if you're clever and they despise a fool
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

When they've tortured and scared you for twenty odd years
Then they expect you to pick a career
When you can't really function you're so full of fear
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

Keep you doped with religion and sex and TV
And you think you're so clever and classless and free
But you're still fucking peasants as far as I can see
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be

There's room at the top they are telling you still
But first you must learn how to smile as you kill
If you want to be like the folks on the hill
A working class hero is something to be
A working class hero is something to be
If you want to be a hero well just follow me
If you want to be a hero well just follow me

sábado, 9 de outubro de 2010

John Lennon e o Imperialismo Inglês

Desde cedo, os jornais anunciam que, se hoje fosse vivo, John Lennon estaria completando setenta anos de vida. Lennon é um dos nomes mais importante do século XX. Sua obra e sua vida marcaram a cultura, a política e os costumes do século que há pouco passou. Sua influencia musical e a do grupo integrado por ele até hoje são facilmente perceptíveis. Lennon, influenciado pelo seu tempo, permitiu-se contradições e tentou engajar-se nos acontecimentos de sua época. Sua obra trata de amor, da mulher amada, do filho, de dores familiares e do mundo social da época. Fala sobre a luta das mulheres, da dominação sofrida pelos trabalhadores, e sobre guerra e o imperialismo.

Lennon, na música "The Luck Of The Irish", reflete sobre o Imperialismo inglês e os seus efeitos na Irlanda. Sendo Lennon um inglês, fica ainda mais interessante a crítica que ele faz ao seu próprio país. Lennon era do tipo que se punha contra a injustiça. O nacionalismo não era desculpa para as injustiças nem do Império inglês, nem da ditadura burguesa brasileira da época. Nós, do antigamente chamado terceiro mundo, sabemos bem os efeitos da dominação imperialista, mas aqui no Brasil, na época de Lennon,  a luta era outra, era contra a Ditadura instalada desde os anos 60. Já éramos "independentes" desde 1822, apesar das dominações culturais e econômicas que sofríamos e ainda sofremos. Por isso não passávamos pelos mesmos dramas  da África, Irlanda e de outras partes do mundo. O nosso drama era diferente: não era uma luta nacionalista pela independência, era uma luta contra uma ditadura militar que desfarçava uma dominação empresarial e de setores da classe média contra a parte mais pobre e sofrida do povo.

Mas, voltando a Lennon, é bom lembrarmos que ele morreu relativamente jovem e que a sua obra talvez continuasse a se desenvolver seguindo a trilha que John vinha fazendo: refletir uma posição do artista perante os conflitos de sua época. E sua posição tentava se colocar do lado dos injustiçados, até mesmo quando ofereciam ao mundo uma das mais belas canções natalinas. Uma canção contrária ás atitudes hipócritas de quase todas as pessoas que no natal desejam o bem, mas que no ano novo já esqueceram o que desejaram.

A hipocrisia combatida por Lennon me faz  lembrar dos artistas e professores que falam da importância da Educação e da Cultura e apoiaram um ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro que impôs aos cariocas a tal aprovação automática que empurrava para frente crianças analfabetas. Modelo este que, até o passado recentíssimo, vinha sendo copiado em São Paulo. Ainda está? Sorte para a Educação brasileira que o tal candidato perdeu e ficou em quarto lugar na luta pelo senado. Já pensou quais seriam as suas propostas para a educação popular?

Seguem, abaixo, um vídeo com a canção,  a tradução a letra em inglês (que foram tirados do sítio Vagalume)
                                                                   
A Sorte Dos Irlandeses 
            John Lennon

Se você tivesse a sorte dos Irlandeses
Você se sentiria arrependido e desejaria estar morto              
Você deveria ter a sorte dos Irlandeses
E então você desejaria que fosse Inglês
 
Milhares de anos de tortura e fome
Levaram as pessoas para longe de seu lar
Um lar cheio de beleza e desejos
Foi roubado pelas Brigadas Britânicas! Por Deus ! Por Deus !

Se você pudesse manter vozes como flores
Haveriam 'shamrock' por todo o mundo
Se você pudesse beber os sonhos dos riachos Irlandeses
O mundo seria então tão alto quanto a montanha de 'morn'

Quando juntos eles nos contaram a história
De como os Ingleses dividiram a terra
De dores, de morte e de glória
E os poetas de 'auld Eireland'

Se nós pudéssemos fazer pactos com o orvalho da manhã
O mundo seria como Galway Bay
Vamos andar sob os Arco-Íris como 'leprechauns'
O mundo seria uma grande pedra de Blarney

Porque os Ingleses estão lá ?!
Eles matam com Deus a seu lado...
Culpe por isso tudo as crianças, o IRA
Os estúpidos cometem genocídio... Aye ! Aye ! GENOCÍDIO !

Se você tivesse a sorte dos Irlandeses
Você se sentiria arrependido e desejaria estar morto
Você deveria ter a sorte dos Irlandeses
E então você desejaria que fosse Inglês
Sim, você desejaria que fosse Inglês

The Luck Of The Irish
     (John Lennon)

If you had the luck of the Irish
You'd be sorry and wish you were dead
You should have the luck of the Irish
And you'd wish you was English instead!

A thousand years of torture and hunger
Drove the people away from their land
A land full of beauty and wonder
Was raped by the British brigands! Goddamn! Goddamn!
If you could keep voices like flowers
There'd be shamrock all over the world
If you could drink dreams like Irish streams
Then the world would be high as the mountain of       morn

In the 'Pool they told us the story
How the English divided the land
Of the pain, the death and the glory
And the poets of auld Eireland

If we could make chains with the morning dew
The world would be like Galway Bay
Let's walk over rainbows like leprechauns
The world would be one big Blarney stone

Why the hell are the English there anyway?
As they kill with God on their side
Blame it all on the kids the IRA
As the bastards commit genocide! Aye! Aye! Genocide!

If you had the luck of the Irish
You'd be sorry and wish you was dead
You should have the luck of the Irish
And you'd wish you was English instead!
Yes you'd wish you was English instead!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dois Contos de Poeta

                                                   A DOENÇA

Foto da natureza do inverno Ao acordar naquela manhã fria e cinzenta, ele sentiu-se doente. A fraqueza se apoderava de seu corpo já fazia alguns dias e ele se acreditava forte. Mas naquela manhã ele tinha certeza que estava doente. Mas não sabia que doença era aquela. Não fora ao médico, pois sabia que médico nenhum poderia dar jeito. Desconhecendo a sua doença, ele ele já não sabia como lutar e, assim, ela se tornava mais forte e dele mais se apoderava.

Agora, mais fraco, ele lembrou-se de alguns amigos, de como eles ririam do seu sofrimento. Diriam,talvez: "Você?! o mais racional dos homens, o mais forte não sabe como combater tal mal?" Outro amigo, com certeza, lhe diria: "Eu não te falei que todos somos propensos! Que não existe imunidade contra essa doença!".

 Assim ele desistiu de procurar os amigos e ficou a refletir sobre o que sentia. Sua doença não era física, embora fosse somática aquela sensação de fraqueza. Não era física, mas também não era mental, ale acreditava. Ela era muito forte, embora não rude, até porque o deixara mais delicado, mais sensível.

Ele ligou o rádio e todas as canções lembravam alguém. Até as canções que achava chatas de amor-brega- como ele dizia- agora profundamente tocavam o seu ser. Batiam no estômago, faziam ele estremecer.

Ligou a televisão e os dramalhões de amor-difícil das novelas pareciam, também agora, retratar aquela coisa dentro dele.

Pensou nos livros como possibilidade de fuga. Nada. Não havia uma página lida após uma hora de tentativa. Sua concentração perdera-se nos passos de outro ser. A sua doença residia nesta alienação: não estar em si, mas na busca do outro.

Mas ele se queria forte e lutando contra a fraqueza somatizada. Saiu pela rua a procura de um bar onde houvesse músicas, amigos, chopps, fugas. Desta forma ele tentou percorrer o mesmo caminho de sempre, o do bar predileto.

No entanto, suas pernas começaram a caminhar por um viéis desconhecido. Independentes, elas não seguiram o comando de sua vontade. Quando percebeu onde estava, viu que além das estrelas da noite, só ele e o mar se faziam presente. E o mar pareciam dizer-lhe que aquela doença era tão profunda quanto ele. Foi assim, que o homem que se queria forte, percebeu-se chorando. A sua solidez se desmanchava e parecia transformar-se em ondas do mesmo mar que com ele conversava.

De repente veio um desejo de fuga ainda maior, que o livrasse da dor, do pensamento, da doença. No impulso de concretizar o desejo jogou-se no mar. Afogado pela doença, pensou que bastava afogar-se no mar e se livrar daquela sensação de não estar em si, da fraqueza que o maltratava, destruia e negava a sua auto definição de forte.

 Não. Não bastava se jogar no mar. Era necessário que este o quisesse dentro de si. Mas não sabia ele que o mar também tem seus caprichos. Inspirador de poesias, sobrevivência de pescadores, campo de batalhas de marinhas de guerra, não quis o mar aquele corpo covarde que, por medo do amor e da saudade, adoecera e tentava escapar da vida. O mar o vomitou: não queria se intoxicar com aquele ser que se queria forte mas que  tentava fugir.

No amanhecer do outro dia, os pescadores o encontraram dormindo nas areias. Pensaram se tratar de um vagabundo bêbado. Passaram ignorando seu sofrimento, sua doença, suas dores.

Ele voltou, mais tarde, para casa. Ligou outra vez o rádio e o poeta lhe disse: " Sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar?" Furioso ele gritou: " E você, sabe lá o que é estar se afogando fora do mar?" Como resposta só ouviu a frase que dizia que "a dor do amor é navalhada que dói. Dor. Dor. Dor". Ainda mais furioso e com vontade de chorar ele falou baixinho:  "que porra de doença é essa?" Ouviu como resposta debochada antes de jogar o rádio no chão : "acaba a valentia de um homem quando a mulher que ele ama vai embora, tanta coisa muda nessa hora, que o mais valente dos homens..." Quebrou o rádio.

Naquele dia, ele quase morreu de solidão. na sua mente ouvia o riso dos amigos que pareciam trilha sonora para as imagens da mulher que partira. Mas ele ainda não sabia qual era a sua doença. Não era a da fuga da mulher, pensava ele. O poeta sabia que a sua valentia se fora com ela, mas pensava ele: não é disso que sofro realmente.

Trancou-se em seu quarto por vários dias buscando seu próprio ser. Mas este estava na busca alienada de outro. Ele cada vez enfraquecia mais. Trancado não comia, não bebia. Trancado ele enfraquecia. A doença se fortalecia e ele, ainda mais se dedicava na busca do outro ser. Passou dias solítario. E solitário morreu.

Na certidão de óbito se pode ler que o paciente era depressivo e foi encontrado morto em seu quarto. Disseram os vizinhos que ele parecia estar viajando e que só acharam estranho quando o cheiro de solidão começou a invadir as suas casas. Depressão. Buraco profundo que, diferente do mar, o recebeu. 



                                    O PAQUERADOR

         Nasceu como projeto de um conto. Mas breve e denso tornou-se poesia. Assim, foi cruel o destino daquele homem tão acostumado com os seus casos de amor- casos que de amor mesmo pouco tinham.

         Tudo começou em um final de tarde de primavera. Dia chuvoso e bonito. Caminhava ele pela rua quando a viu linda... bela... maravilhosa. Paquerador, cheio de táticas, ele se aproximou. Assim, como quem nada quer, acabou demonstrando que tudo queria, embora pouco quisesse.

         Na sua tática ele prosseguiu: trocou números de telefones, disse palavras bonitas fazendo ela sorrir. Pensava ele que, no seu jogo de xadrez, logo estaria perto da hora do xeque-mate. Do seu xeque-mate.

          Foi para casa pensando no telefonema que daria. Lembrou do rosto dela: era lindo... era belo...era maravilhoso. Dormiu e  sonhou com ela e, no sonho, ela nua era ainda mais linda... maravilhosa... bela...dele.

         Assim, no dia seguinte ele ligou. Ela não podia. Ligou outro dia. Ela não podia também. Ligou. Não podia. Ligou. Não.

          Sua angústia lhe pareceu estranha. Nunca se importara tanto com uma mera paquera. Nunca dera tanto valor. Mera era a paquera, mas o que lhe custava caro, o que lhe custava a alma era aquela vontade de vê-la. Nem que fosse para lembrar aquele rosto, aquele riso, aquela fala, o tom daquela voz. O que lhe custava caro era o desejo que crescia quanto mais o tempo passava.

         O paquerador viu-se em xeque-mate. Perdeu a fome e descobriu-se amando. Amando nem sabia o quê, mas amando. Sem que percebesse- é sutil o amor- descobriu-se poeta. Em uma angustiante noite, bem de madrugada, sem conseguir dormir, pegou a velha máquina de escrever e tentou escrever uma carta. Não conseguiu. Parecia tudo desconexado. Percebeu, depois, tratar-se de um poema que, em sua desconexidade, dizia: " Deverias ser apenas mais um caso/ mas assim, como se por acaso,/ te tornas presente/ nas ruas, no trabalho, na casa/ Não há quem aguente/ te encontrei e me perdi no passado/ não te tenho e não tenho presente".

         E ela era bela... era linda...era maravilhosa...Mas não era dele. Xeque-mate.


                                                        ****************
 Os dois contos acima estão sendo apresentados em versões não definitivas. Eles foram produzidos já fazem alguns anos e não os modifiquei ainda. Els fazem parte de um grupo de uma dezena de contos. Foram criados como parte de projeto inacabado e entitulado "Contos de Poeta". A tentativa era de escrever sobre sentimentos de uma forma que fugisse da poesia, mas que a incluísse de alguma foma. Espero que os amigos e leitores façam comentários e sugestões para que eu possa pensar a versão final. Podem comentar no próprio blog ou no meu e-mail ( jwcl@click21.com.br). Desde já agradeço.