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domingo, 10 de outubro de 2010

JOHN LENNON: A MULHER É O NEGRO DO MUNDO

(Para  a minha filha, com o desejo que não vigore esse momento reacionário que se coloca contra as liberdades, inclusive as das mulheres)

Se John Lennon fosse vivo estaria completando setenta anos. No entanto, ele morreu cedo ("bendita a morte, que é o fim de todos os milagres") e nós saímos perdendo uma das cabeças pensantes mais importante do século XX. Em pouco tempo  de vida, Lennon nos deixou uma obra vasta que muito admiro. Em sua homenagem publico nesse blog três postagem. A primeira é sobre o tema do imperialismo britânico, a segunda é sobre a classe trabalhadora e a última fala  sobre a mulher. Há muitos outros temas importantes na obra de John, mas o blog é pequeno para o tamanho de Lennon.

Lennon, que em um determinado momento da sua vida passou a ser a "dona de casa" cuidando do filho ainda novo, fez diversas declarações para Yoko, sua esposa . Percebe-se nas canções (letras e melodias) a ternura que tinha por ela. Mas uma canção especial, se referindo a todas as mulheres, chama a atenção não só das feministas, mas de qualquer humanista. "Woman is the Nigger of the World" nos revela um Lennon engajado na luta pela emancipação feminina. Ele compara a mulher ao negro/escravo do mundo. Ela é o escravo dos escravos, o negro dos negros. E, como em diversa canções suas, John nos convoca para enfrentar a dominação, nos chama à luta ("Pense Nisso, faça alguma coisa", ele nos diz). 

Lembrar esta canção hoje se faz necessário. O mundo parece estar passando por uma onda reacionária (até o mano Caetano fez campanha para o César Maia do DEM). Em todos os lados estamos vendo os trabalhadores perdendo direitos conquistados com suor e sangue. Cresce a campanha para que as mulheres retornem ao lar. Surgem as "profissões" femininas maria chuteira, mulher de pastor e maria fuzil. O funk cada vez mais trata as mulheres como algo descartável e que dá nojo (segundos as "letras" de suas batidas). A campanha eleitoral da direita tenta desclassificar uma mulher como se ela fosse mera marionete ou fantoche (e perante o capital quem não é,  senhor Serra? Perante o desejo de privatizadores, quem não foi fantoche sr. FHC?). Em diversos países, hoje,  mulheres andam com o rostos velados e e com a possibilidade de serem apedrejadas. Aqui as pedras são palavras, desrespeitos, mau-tratos. A mulher é o negro dos negros, é o escravo dos escravos, é o explorado dos explorados, é o capacho dos capachos.

Pena que Lennon morreu tão novo. Precisamos de novas canções humanistas e libertárias. Precisamos de canções que protestem. No entanto, precisamos primeiro de mais artistas que se permitam ir à luta e, por isso, mais uma vez saúdo aqui neste blog os zecas baleiros, os rappas, os lenines do presente. E também os chicos, gonzaguinhas, caetanos do passado. Mas hoje é dia de saudar mais ainda o John Lennon de sempre. Aquele que, além de integrar a melhor banda de música popular (Beatles), teve a bela coragem de se libertar do grupo. Talvez já ali ele tivesse compreendido o nosso Bandeira: bendita é a morte, que é o fim de todos os milagres.

Segue a letra (tradução e original) e um vídeo com a canção de Lennon que foram retirados do sítio Vagalume. Veja também as duas outras postagens sobre John.  


A Mulher é o Escravo do Mundo
    (John Lennon)


A mulher é o escravo do mundo                                          
Sim, ela é...pense nisso
A mulher é o escravo do mundo
Pense nisso...faça algo sobre isso

Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Se ela não for uma escrava, dizemos que elas não nos amam
Se ela é real, dizemos que ela está tentando ser um homem
Enquanto a colocamos pra baixo, fingimos que ela está por cima

A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...

Nós a fazemos parir e criar nossos filhos
E depois as deixamos de lado por serem mães gordas como galinha
Nós dizemos que elas só devem ficar em casa
E depois dizemos que são muito anti-sociais para ser amigas

A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...

Nós a insultamos todo dia na TV
E nos perguntamos por quê lhe falta coragem ou auto-confiança
Quando jovens, tiramos delas a promessa de liberdade
Enquanto as mandamos serem pouco inteligentes, as culpamos por serem tão burras

A mulher é o escravo do mundo, sim ela é
Se você não acredita, dê uma olhada em quem está contigo
A mulher é o escravo dos escravos
Ah, sim...se você acredita em mim, melhor gritar sobre isso

Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar

Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar      
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar
Nós a fazemos pintar o rosto e dançar


Woman is the Nigger of the World
John Lennon

Woman is the nigger of the world
Yes she is...think about it
Woman is the nigger of the world
Think about it...do something about it

We make her paint her face and dance
If she won't be a slave, we say that she don't love us
If she's real, we say she's trying to be a man
While putting her down, we pretend that she's above us

Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave of the slaves
Ah, yeah...better scream about it

We make her bear and raise our children
And then we leave her flat for being a fat old mother hen
We tell her home is the only place she should be
Then we complain that she's too unworldly to be our friend

Woman is the nigger of the world...yes she is
If you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yeah...alright...hit it!

We insult her every day on TV
And wonder why she has no guts or confidence
When she's young we kill her will to be free
While telling her not to be so smart we put her down for being so dumb

Woman is the nigger of the world
Yes she is...if you don't believe me, take a look at the one you're with
Woman is the slave to the slaves
Yes she is...if you believe me, you better scream about it

We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance
We make her paint her face and dance

4 comentários:

Jaqueline ferreira disse...

Puxa que texto bacana...sim, as mulheres são ainda o escravo do mundo e espero que os feminismos e sexismos cessem e que uma nova onda mundial se estabeleça priorizando a união e respeito de ambos os sexos com suas particularidades e potencialidades; torço pelo dia em que as pessoas percebam como somos todos um grande potencial de maravilhosidades que unidos vamos finalmente evoluir por que enquanto a mulher , o negro , índio e outras diferenças "inventadas" e surpreeendemente acatadas. Estiverem atualizadas náo sairemos do lugar de colonizados andando a passos de formiga em direção de nenhum lugar.

Jaqueline ferreira disse...

Tenho visto portagens em triture,orkut,facebook, internet em geral pregando tanto desrespeito a mulher e o que muito me surpreende é que algumas mulheres pensam que sererm citadas de maneira pejorativa é um privilégio que deve ser agradecido,ou seja, mesmo sendo criticadas,algumas mulheres ,agradecem. E muito me surpreende que os homens SABEM que estão criticando o feminino e ainda assim se mantém sem critica e apenas repetindo um padrão cultural de assujeitar o outro apenas por falta de PENSAR sobre o absurdo que é acreditar que uma pessoa seja inferior ou pior do que a outra em caráter por causa do gênero!

Jaqueline ferreira disse...

* twitter.

Jorge Willian da Costa Lino disse...

É tudo isso mesmo que você disse, Jaqueline,principalmente esta coisa da crítica forjada ao "outro" sem uma contrapartida, sem uma autocrítica. Se para alguns pensar é muito dolorido, para outros não se pensar (embora criticando o outro) é a morfina que evita o desejo da morte causada pela dor.