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terça-feira, 31 de maio de 2011

PUTA MINHA, NOSSA PUTA

"Choro saber que o homem sábio/
 pode morrer se não souber nadar"
          (Chico César)

quem a colocou no papel ofício
e quem a quer contê-la do frigorífico
logo ela tão libertária
ela que é de nossos ancestrais
ela que é nossa e dos que virão
mas que é elo, sem ser cadeia
nosso meio de ligação
ela que nos tem e que a possuímos
nossa regra livre
nossa liberdade convencionada
puta libertina e libertária
querem contê-la, escravizá-la
enchê-la de etiquetas,
mas quem a quer domesticar
imobilizá-la com gessos para que não vagueie
acorrentá-la para vê-la rastejar
encamizá-la para conter sua loucura
logo ela, puta louca que a todos beija
que dorme conosco antes mesmo de abrirmos a boca
ela que nos lambe sendo mortalha
quem a quer retê-la só para si
gramaticá-la para posseiros
quem a quer privatizar
ela tão comunitária
ela que é nossa, de todos nós
ela que é mátria  também
esta puta mãe saborosa
esta língua que lambuzo
que me lambe o ser
puta amada
língua minha, nossa língua
que sempre me foge
que me possui
e que tento possuí-la nessa noite
mas como nas outras
ela,a libertária, sempre escapa
ela maior que a pátria
ela maior que a boca
a lingua
puta minha, nossa puta

Rio 31/05/11  0h25m
Seguem três vídeos com canções de Caetano Veloso que se referem à lingua e suas maneiras de saboreá-la e de ser possuído por ela.
Palavra
Livros

Língua

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A VIDA NA TELEVISÃO (TEXTO E MÚSICA)

A VIDA COMO ELA (NÃO) É  

Vemos a vida não como ela é, mas como ela se mostra e quer ser, que a vida- mulher tão vaidosa, tão preocupada com a aparência- quer se mostrar: flores, bebês, luas, sois, estrelas, risos, fartura. Esconde a vida, com suas maquiagens, as marcas do tempo, as suas rugas e seus sofrimentos: mortes, carnes podres, faturas, enchentes, secas, fomes. É assim a vida em um canal de televisão. Mulher sofrida, prostituída, mas sempre a sorrir e a nos encantar. Nos apaixonamos por ela e, encantado que ficamos, deixamos a moça nos conduzir. E ela o faz bem, tão bem que nem percebemos a quem serve esta mulher. Seu cafetão não se importa com quem ela dorme, mas impõe que seja com muitos (nós todos se possível), pois assim seus lucros aumentam. A vida na televisão é bela, é fútil, é encantadora, é real, é falsa, é prostituída. Encantados, nos deliciamos com esta vida erotizada, esquecemos nossas próprias vidas, e gozamos no esquecimento. Assim é a vida como ela (não) é!   
      Jorge Willian


Tevê
(Zeca Baleiro e Kléber Albuquerque)  

Um filme na tevê
Um corpo no sofá
Um tempo pra moer
o vidro do olhar                                                                        
E a vida a passar
A vida sempre a passar
Passar

Olhando a estrela azul
azul da cor do mar
Comédia comum
ou um drama vulgar
E a vida a passar
A vida sempre a passar
Passar

Comercial de xampu
Cerveja e celular
Modelos para crer (Mentiras para crer)
e credicard
A consumir a consumir
A consumir o olhar
O olhar

Olhando a estrela azul
Um quadro a cintilar
Vendendo ilusões
a quem não pode pagar
E a vida a passar
A vida sempre a passar
Passar

domingo, 22 de maio de 2011

TRANSFORMAR NOSSA ANGÚSTIA EM AÇÃO (AMANDA GURGEL)


Na última terça-feira tive acesso a um vídeo postado no Facebook com a participação da professora Amanda Gurgel em uma audiência pública sobre educação no Rio Grande do Norte. Gostei do que ouvi no pequeno vídeo  e fiz uma introdução para apresentá-lo aqui no Amigo de Heráclito. "De repente, não mais que de repente", como nos diria o poetinha, a professora virou porta-voz das angústias sofridas pelo profissionais de educação de todo o Brasil. Porém, mais do que porta-voz das angústias, a bela professora é um exemplo de uma práxis transformadora que não se limita à reclamação nas salas dos professores e sabe que a luta é caminho  de quem quer um mundo mais justo. O exemplo da Amanda e dos demais professores do Rio Grande do Norte deveria ser seguido por todos os trabalhadores da educação, principalmente os cariocas que, neste início de ano, estão sendo atacados em mais um de seus direitos(vide nota no final desta postagem). Segue uma  entrevista de Amanda  Gurgel dada ao Portal do PSTU, partido a qual é filiada. Os grifos são meus e a foto foi retirado do  jornal Estado de São Paulo. (veja o link do Portal abaixo da entrevista)

“É necessário transformar nossa angústia em ação”

Em entrevista ao Portal, a professora e militante do PSTU, Amanda Gurgel, que calou deputados no Rio Grande do Norte em discurso durante audiência pública, falou sobre a repercussão nacional de seu vídeo e o cenário caótico da educação no estado e no Brasil.

Fabio Cortez/D.A Press
 foto: Fabio Cortez/D.A Press (in estado de São Paulo) 

• Portal: O vídeo em que você denuncia a situação precária da educação pública já superou as 100 mil visualizações no YouTube e chegou à lista brasileira dos Trending Topics, no Twitter. Como você vê toda essa repercussão? –

Amanda Gurgel:  Em primeiro lugar, é importante falar sobre a minha surpresa diante de tamanha repercussão daquelas palavras que não são só minhas, mas de toda uma categoria, não só aqui no Rio Grande do Norte, mas em todo o Brasil, como se comprova nos diversos comentários postados sobre o vídeo. Também não imaginei que as pessoas que não vivem o nosso cotidiano não conhecessem à rotina de um professor e do funcionamento de uma escola pública. Então, diante de informações tão reais, acredito que a repercussão do vídeo se deve ao fato de minha fala ter sido dirigida à Secretária de Educação, Betânia Ramalho, à promotora da educação e aos deputados, figuras que ocupam postos elevados na sociedade, a quem as pessoas geralmente não costumam se reportar, tanto por não terem oportunidade quanto por se sentirem coagidas, ou por se sentirem inferiores. Enfim, talvez pela combinação desses dois fatores: tanto pela expressão de um sentimento contido, comum a todos nós, quanto pela atitude diante de deputados.

Portal:  O vídeo foi gravado durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Qual era a razão da audiência? Qual o objetivo daquele debate?

Amanda Gurgel Era uma audiência pública com o tema “O cenário da educação no RN”. O objetivo era debater as questões da educação no estado, apontando alternativas para os seus problemas. A princípio, não se pretendia discutir a greve dos professores e funcionários, mas diante da nossa presença essa intenção foi rechaçada.

Portal : Como você avalia a situação da educação pública hoje no Rio Grande do Norte e no Brasil?

Amanda Gurgel:  Não existe uma palavra que melhor defina a educação aqui no estado e no Brasil do que caos. Um caos generalizado que começa na nossa formação e vai desde a estrutura precária das escolas, passando pelo caráter burocrático que ganharam as funções de coordenação pedagógica e direção, a superlotação das salas de aula, a demanda não suprida de professores chegando, finalmente, à remuneração do trabalhador que constitui a representação material do valor que é dado a nossa profissão. Mas, obviamente, todo esse caos não acontece por acaso. Há uma clara intenção da burguesia em manter a classe trabalhadora excluída dos processos que propiciem o desenvolvimento intelectual. Com isso, ela alcança dois objetivos: garante que os trabalhadores não atinjam altos níveis de cultura e pensamento crítico, conseguindo, no máximo, serem alfabetizados e aprenderem um ofício; dividir a classe trabalhadora, colocando-a em lados aparentemente opostos, como é o caso, muitas vezes, da relação entre professores e alunos ou as suas mães e os seus pais. É comum as pessoas acreditarem que greves prejudicam os alunos, quando é justamente o contrário: somente nas greves temos a oportunidade de abrir para a sociedade, os problemas que nós nos acostumamos a administrar no nosso cotidiano e que nos impedem de realizar o nosso trabalho. Somente nas greves podemos obter conquistas para a educação, pois, ainda que muitos já tenham sido envolvidos pelo discurso de que há outros mecanismos de luta que não a mobilização das massas, não é possível encontrar um caso em que nossos direitos tenham sido conquistados de outra forma. Os discursos de aparente conciliação servem apenas para mascarar ainda mais o fato de que a educação nunca foi prioridade para nenhum governo. Se não fosse assim, Dilma não teria cortado R$ 3 bilhões da educação nos primeiros dias do seu governo. Então, é necessário, em cada lugar do Brasil, transformar nossa angústia em ação. Não podemos baixar as cabeças atendendo às expectativas da burguesia. Precisamos mostrar a nossa consciência de classe e a nossa capacidade de organização.

Portal : A greve da educação no Rio Grande do Norte já atingiu mais de 90% das escolas, chegando até a 100% em regiões do interior. Na sua opinião, quais são as perspectivas da paralisação?

Amanda Gurgel:  Já contamos pouco mais de vinte dias de greve e a governadora Rosalba Ciarlini ainda não acenou com nenhuma proposta, tampouco uma que contemplasse as nossas reivindicações. Diante disso, a categoria tem reagido da melhor forma possível: lutando. A cada assembleia, recebemos informes de adesão das cidades do interior. Certamente, Rosalba e Betânia (secretária de educação) preparam alguma retaliação, mas estão enganadas se pensam que estamos para brincadeira. Não retornaremos às escolas sem o cumprimento do Plano de Cargos, Carreiras e Salários dos funcionários, a revisão do Plano dos professores, a aplicação da tabela salarial dos servidores e o pagamento de direitos atrasados. A arrecadação do Estado aumentou consideravelmente. Segundo o Dieese, só no primeiro trimestre desse ano, foram R$ 776 milhões de ICMS, o que representa R$ 110 milhões a mais do que no mesmo período do ano anterior. Além disso, de janeiro a abril, o Estado recebeu R$ 214 milhões de FUNDEB, cerca de 54 milhões a mais do que no ano anterior. Portanto, o momento não é para choradeira. O momento é para apresentação de propostas e negociação.

Portal: Você é militante do PSTU. Como aconteceu essa aproximação com o partido?

Amanda Gurgel:  Fui ativista do movimento estudantil e dirigente do Centro Acadêmico de Letras e do DCE da UFRN. Nessa época, tinha uma relação próxima com o PT, mas ao ingressar na categoria dos trabalhadores em educação, toda a imagem de movimento sindical que eu construíra ao longo da minha vida foi sumariamente desconstruída quando constatei a forma como a direção do PT/PCdoB dirigia a nossa entidade e utilizava a categoria como moeda de troca para benefícios próprios. Na segunda assembléia de que participei, já era oposição convicta. Mas, como havia outras oposições, aos poucos fui me localizando. Participei do congresso de fundação da Conlutas, passei a construir a oposição e algum tempo depois fiz uma reflexão e já não conseguia entender como eu podia ver que militantes tão obstinados dedicassem suas vidas à verdadeira defesa da classe trabalhadora, à defesa da classe a que pertenço, enquanto eu apenas trabalhava, trabalhava e cuidava da minha vida. Entendi que era minha obrigação dividir com eles, meus e minhas camaradas, essa tarefa. Por isso, eu entrei no PSTU.


                                                 ***       ***    ***
Nota: Os professores , assim como todos os funcionários públicos da cidade do Rio de Janeiro, correm o risco, caso seja aprovada na Câmara Municipal o Projeto de Lei Complementar número 41 (PLC 41), de perderem boa parte de suas aposentadorias, incluindo as atuais. O PLC 41, enviado pelo prefeito Eduardo Paes em 2010, modifica as regras da aposentadoria atacando a integralidade (direito de se aposentar com salário igual ao do último mês trabalhado) e a paridade ( direito do aposentado de ter o mesmo reajuste do servidor na ativa). Muitos profissionais acreditam que não tem nada a perder porque acham que as mudanças propostas só atingirão os futuros servidores (como se fosse pouco deixar este legado para as futuras gerações) e que eles estarão livres do prejuízo. Mas, é bom lembrar o advogado especialista em Direito Previdenciário Ivo Loiola que diz que  "o Regime Jurídico Único é um só e, como tal, não faz diferenciação entre novos e antigos servidores. Segundo o advogado, em uma denúncia do SEPE,  "é golpe dizer que o fim da integralidade e da paridade prevista na PLC 41 atingirá apenas aos próximos servidores que ingressarem na administração pública".
Além disso, sabemos que se o governo da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro conseguir a aprovação de tal disfarçada reforma previdenciária, o modelo provavelmente seguirá para ser implantado em todo o Estado e no Brasil.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Quadro Negro da Educação Brasileira (Hegemonia e Dominação)

Creio  que o vídeo que apresento abaixo sintetiza o quadro negro da Educação no Brasil. Faço apenas alguns acréscimos na intenção de repensarmos a práxis educacional que estamos produzindo hoje. Há quem serve a escola? Para que ela serve? Por que e como este turbilhão de propostas pedagógicas e o caos educacional convivem no Brasil recente? 

No Rio de Janeiro -Estado e Município- a situação que conheço de perto é muito complicada, mas sabemos que o mesmo se dá em todo o país. Aqui, o estado paga salários ainda menores do que ao que se paga no contra-cheque da professora do Rio Grande do Norte (veja o vídeo). No município carioca,além dos baixos salários, a prefeitura tenta retirar direitos dos aposentados (de hoje e de amanhã). E o mais complicado de tudo: a descrença dos educadores que preferem se acomodar. O risco da luta que os trabalhadores sempre enfrentaram passou a ser para os profissionais da Educação fluminense e carioca um grande obstáculo. E assim, fingimos por aqui que nada estamos a perder no decorrer do tempo. Mas não é verdade. Os que administram a sociedade vão ganhando força e impondo perdas para os que se acomodam. Diz a sabedoria popular que "jacaré parado vira bolsa". Educadores estão virando bolsas  baratas, sacolas. Viraram semi-escravos que trabalham em três turnos para manterem as suas famílias. E isto estar a acontecer em todo o Brasil. E isto é uma prática de qualquer que seja o partido eleito: PT, PMDB, PSDB, DEM, etc. Professores são os proletários da educação, mas a depender desses partidos e outros, nos tornaremos escravos letrados com a tarefa de continuarmos a fazer da escola um mero meio reprodutor da dominação da classe dominante do capitalismo.

O velho Althusser dizia que a escola era um Aparelho Ideológico de Estado (AIE). No sentido estrutural do termo, ele tinha uma certa razão. Até porque a escola não só disciplina como também transmite as principais ideologias para os jovens, dando quase sempre ênfase as ideologias das classes dominates. Dizia Althusser  que a escola era o principal AIE das sociedades capitalistas. Se hoje vivesse no Brasil acharia um problema a mais para refletir. Trabalhadores semi-escravos ajudando a manter a dominação capitalista. Antes, os educadores eram mantidos na classe média até para evitar que o desconforto os levasse a se posicionar do ponto de vista da massa dos trabalhadores. A classe dominante aprendeu que a proletarização ou a semi-escravidão era um caminho mais fácil para subordinar os que lidam com a educação. O ultraje sofrido desqualificou uma parte do professorado e afugentou uma outra parte. No entanto, "há aqueles que lutam uma vida, e estes são imprescindíveis " dizia Bertolt Brecht.

Apesar do reconhecimento da obra de Althusser, sabemos que  a escola não é apenas um aparelho de dominação da classe dominante. Nela há projetos diferentes em disputa. Embora pareça que não, muitos ainda se mantém imprescindíveis. São estes que oferecem uma lição diferente aos seus estudantes: a lição de que a luta dos trabalhadores é uma ação que não pode parar, pois, caso contrário, a tragédia humana imposta por aqueles que administram o caos do capitalismo será ainda mais gigantesca. Os educadores não são monolíticos e por suas cabeças transitam as diversas ideologias produzidas pelo mundo. Por isto Gramsci- o fílósofo marxista italiano-  definiu, antes mesmo  de Althusser, a escola como um Aparelho de Hegemonia, ou seja, um espaço onde as ideologias das principais classes sociais disputam corações e mentes. Assim, podemos sair da estrutura mental  pensada por Althusser e perceber que é a práxis  que fará de nossas escolas e de seus educadores um marco da escravização ou da emancipação humana. Na fala da professora Amanda do vídeo abaixo temos um exemplo de quem atua se pondo na luta pela emancipação. Já os governantes e a acomodação de parte dos educadores favorecem a velha estrutura de dominação que há muito a humanidade conhece.  


sexta-feira, 13 de maio de 2011

A VIDA É PURO ACIDENTE: OUTROS POEMAS ANTIGOS

           ACIDENTE

  O morro é morro duas vezes
  Quando pedra , quando árvore
  É acidente geográfico
  E o morro morre todos os dias
  Quando é chacina, quando é invasão
  Quando é acidente social.
  O morro geográfico desabriga nas enchentes
  O morro social que nele busca abrigo.
  Apesar da alteridade
  O acidente geográfico e social
  Continuam unidos como se um só fossem.
  E, posto que nada é permanente, morrem
  Sempre ambos os morros
  O social, por ser efêmero, se esvai rapidamente
  A vida é puro acidente.

        (Rio 09/05/2000)


        ACHO QUE DEVO FICAR CALADO

  Eu tenho muito para te falar
  Porque te amo.
  Para ser sincero, só tenho para te falar
  Que te amo,
  Mas acho que não sei falar
  O quanto e como te amo.
  Na verdade, não sei nem se devo falar
  Que te amo.
  Acho mesmo, é que devo me calar
  E, profundamente, apenas sentir
  O quanto e como te amo.

           Rio (09/05/2000)


        ZUMBI 

O coração começa a se desintegrar.
É como uma bomba, mas implodindo.
O pensamento de que você não vem
E o pensamento de que você já foi
Fazem meu coração se desintegrar.
Sinto a contagem regressiva :
Ele explodirá.
E meu ser desfalecido
A ermo  pelas ruas andará
Sem alma, sem riso, sem vida:
Corpo apenas.  
     

  
             FUTEBOL (REGRA TRÊS)

  Havia quem na arquibancada ou na geral
  gritasse pelo meu amor.
  Mas hoje ele foi para na linha de fundo
  foi chutado para o escanteio.
  Ou será que levou um carrinho e se contundiu?
  Como?! Foi parar no banco de reserva?
  Foi substituído pelo não-sei-o-quê?
  E o time? Perdeu de quatro?!
  Foi para a segunda divisão...

         (Rio 05/06/2000)


      POÉTICA (IMPOSSIBILIDADE)

  Meu coração é pequeno
  Mas todos os sentimentos cabem nele:
  Ele é maior do que o mundo.
  Os dicionários são imensos
  Possuem todas as palavras do mundo
  Mas neles não há verbo que espelhe
  Os sentimentos que trago dentro.
  É impossível expressar o que sinto,
  Mesmo assim,  nesta impossibilidade,
  Sou levado a escrever.
         (Rio, Abril de 2000)


     JULGAMENTO

Não me julgue pelas palavras
Que quase sempre são (mal)ditas
Julgue não pelo que digo
Quando deveria me calar
Mas ainda falo.
Nem pelo que faço talvez
Deverias me julgar.
O que sinto...
Isto deveria ser avaliado.

        Rio, 25/07/2000

quinta-feira, 5 de maio de 2011

TORTURAS, ASSASSINATOS: A ARTE IMITA A VIDA

Tortura não é meramente uma técnica como andam falando nos telejornais. Tortura é  um crime. Crime. Vamos repetir outra vez: um crime. É claro que este crime se utiliza de técnicas  para produzir dores e constrangimentos às suas vítimas. E é claro que o conhecimento humano é utilizado não só para coisas boas. E é claro que este conhecimento, negativo neste caso,também vem se acumulando desde tempos imemoriais.
 A tortura, além disso, consegue igualar marginais e diversas instituições que se utilizam deste crime: os comandos do tráfico, os órgãos de repressão  do Estado, as polícias e as forças armadas (como se pode assistir nos filmes "Tropa de Elite" e "Batismo de Sangue", "Pra Frente Brasil") , os sanatórios (como podemos ver no filme Bicho de Sete Cabeças), a Igreja, etc. A tortura se utiliza inclusive do conhecimento da medicina. É sabido que as torturas realizadas por militares brasileiros na ditadura pós-64 (cujo métodos foram exportados para países latino-americanos) eram assistidas por médicos. O papel destes era averiguar se o preso ainda tinha condições ou não de suportar mais torturas. Além do cinema isto pode ser pesquisado nos livros "Brasil Nunca Mais", "A Internacional Capitalista", "1964, A Conquista do Estado", entre outros.

Mas a ditadura brasileira não está sozinha nesta ilegalidade e nem na cultura. Guantánamo, prisão política e repleta de ilegalidades, é um dos maiores exemplos de que o Estados Unidos da América, que diz manter a democraciao, utiliza-se da tortura como método de repressão. Sabemos que o atual presidente dos EUA tinha como proposta, em sua campanha política, extinguir Guantánamo. Mudou de opínião após a eleição e permite que o uso da tortura ainda seja utilizado. Não é atoa que a série "24 Horas" fez tanto sucesso por lá. O herói, Jack Bauer era um agente da CIA que tinha como um dos seus métodos o uso da tortura como desculpa para defender o país e lutar contra o terrorismo.


Mas a ilegalidade não está presente apenas na existência de uma prisão na qual os presos não tem direitos a advogados e são torturados, está também presente na utilização de assassinatos de líderes de movimentos sociais ou líderes de países inimigos, como atentaram diversas vezes contra a vida de Fidel Castro. Não duvide da veracidade desta informação. Documentos publicados pelos poderes americanos confirmam o que foi dito há muito por pesquisadores e grupos de esquerda. O próprio livro "Batismo de Sangue" trata do assunto.  Hoje é possível assistir na produção hollywoodiana, a começar pela "Identidade Bourne", o treinamento de homens que passam a ter como tarefa de Estado assassinar os chamados inimigos. É a velha "licença para matar". A arte imita a vida: a tragédia real, que antes ficava escondida, agora vem a tona e mostra que o cinema é apenas seu reflexo. Isto só é possível  devido ao aniquilamento moral do povo estadunidense. Para muitos deles, o domínio e o nacionalismo são hoje muito mais importante do que o estado de direito, a democracia e o humanismo. O capitalismo decadente reflete em uma sociedade que aceita até a tortura e o assassinato como políticas de Estado. É, amigo, tempos bicudos...

A arte deveria, segundo o filósofo Adorno, denunciar a tragédia humana em um mundo em que o nazismo já produziu o sofrimento do holocausto. Ainda segundo ele, não caberia à arte, em um mundo que sofreu as tragédias da primeira metade do século XX, buscar o prazer. Caberia ao artista denunciar e não permitir que o prazer de uma arte alienada nos ajudasse a fugir ainda mais da realidade. Acho que é assim que percebi as produções, entre outras, dos filmes "Pra Frente Brasil" "A Caminho de Guantánamo","Batismo de Sangue",  e do livro "Dia de Ângelo". No caso de "A Identidade Bouner", e de muitas outras produções holywoodianas, mesmo a denúncia do assassinato me parecem meras diversões, Já no caso da série "24 horas" à diversão soma-se a defesa ideológica da tortura como método contra os inimigos. Tempos bicudos e cinematográficos, amigo.
       "Em seus papiros, Papillon já me dizia/ que na tortura toda carne trai..."

Em Tempo: recentemente, com a vinda de Obama, o Estado brasileiro produziu diversos presos políticos que, comprovadamente através de filmagens, faziam um protesto pacífico contra o dirigente da maior arma de guerras do mundo. Se fossem presos no mundo árabe, os manifestantes cariocas estariam, provavelmente, sendo torturadoe em Guantánamo. Há um abaixo-assinado para arquivamento do processo criado por estas prisões ilegais o endereço segue abaixo:

 http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoAssinar.aspx?pi=P2011N8248

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Segue um trecho do texto publicado no portal Carta Maior (ver endereço na secção "Vale a Pena Consultar" no lado esquerdo deste blog):

Tribunal de Justiça gaúcho condenou Estado do Rio Grande do Sul ao pagamento de R$ 200 mil a torturado durante a ditadura militar. Em sua sentença, o desembargador Jorge Luiz Lopes do Canto (foto) considerou que crime de tortura não prescreve. "A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, e a tortura o mais expressivo atentado a esse pilar da República, de sorte que reconhecer imprescritibilidade dessa lesão é uma das formas de dar efetividade à missão de um Estado Democrático de Direito, reparando odiosas desumanidades praticadas na época em que o país convivia com um governo autoritário e a supressão de liberdades individuais consagradas", disse ele em sua decisão.
      LEIA MAIS:  http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17733
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