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terça-feira, 8 de novembro de 2011

O DINHEIRO E A ALIENAÇÃO

Sérgio Sampaio, Pink Floyd, Lenine, Zeca Baleiro e Marx. O que há de comum entre eles? O dinheiro e sua relação com a alienação pode ser uma das respostas. Todos, de alguma maneira, trataram do tema de forma crítica. Todos usaram o verbo para falar da verba, do capital, do cifrão, da mufufa, do metal, do dinheiro. Claro que não foram só eles os que andaram "brincando" de dizer coisas sérias sobre o assunto. Até mesmo Jesus Cristo criticou com seus discursos teológicos a alienação imposta pelo vil metal. Chegou mesmo a dizer que este era um dos dois senhores  e que não se poderia servir a ele e ao mesmo tempo a Deus. Marx, em sua pobreza financeira e com o seu verbo meio filosófico e meio poético, chamou de "prostituta universal" o objeto de desejo mais sagrado para os bancos, as indústrias, os comerciantes, os famélicos e os líderes de alguns partidos e  igrejas. Em alguns seus textos,  Marx  faz, como demonstra o texto citado abaixo, críticas ao capitalismo se utilizando de textos bíblico (1). A utilização por Marx do texto de Mateus demonstra que o filósofo não compartilhava do cientificismo como dizem alguns de seus críticos universitários que ou não souberam lê-lo ou usam de má fé em seus comentários.

O dinheiro, essa mercadoria especial aceita e desejada quase que universalmente (daí a prostituta universal)  é sem valor de uso real, posto que só serve para a troca. Ele é a uma das condições atuais da alienação que vivemos. É o desejo voltado para o dinheiro que possibilita que tudo seja visto como mercadoria, que tudo seja um mero negócio. Tanto faz que seja a terra, a floresta, a saúde, a educação, o sexo, a arte ou um livro sagrado. O dinheiro, de objeto criado pelo ser humano, passa a ser um ídolo louvado e desejado como fetiche. Tudo vira mercadoria, tudo passa a ser comprado e vendido.

E todos sofrem com esta alienação. A burguesia principalmente, com seu complexo de Tio Patinhas, acaba se perdendo em um rodemoinho de investimentos-ganhos-acúmulos. Tanto quanto o resto da sociedade, esta classe símbolo do capitalismo também está perdida em um emaranhado social do capital que parece ter ganho vida própria e dominado a todos. O artista Sérgio Sampaio, em sua Roda Morta (Reflexões de um Executivo), nos fala da vida triste e alienada dos homens de negócios e suas rodas sociais, os "abutres colunáveis" também vivem "dias maquinais". (A canção pode ser ouvida no vídeo do final desta postagem)
                                                                                                                                                        Cazuza, nascido em uma família onde não faltou o dinheiro, nos dizia que "enquanto houver burguesia, não vai haver poesia". É possível se discordar do poeta exagerado. Mas não é difícil perceber que, como viu Cazuza, perdemos  a possibilidade da poesia concreta e vivida coletivamente.

 Um outro artista brasileiro, o maranhense Zeca Baleiro, anuncia que "a poesia está morta/ mas juro que não fui eu", diz ele na canção "Mundo dos Negócios".

Já o pernambucano Lenine nos canta o drama que levou o verbo a se matar devido a frieza da verba. "Cansado de pregar para o nada", o verbo prefere abandonar a vida. A verba gélida, metálica, como bem demonstrou Marx em O Manifesto Comunista, faz do mundo a imagem e semelhança da burguesia. O mundo, portanto, além de alienado, torna-se frio, gélido, metálico, calculista, burocrático. O desejo de acumulação alienada não só impede  a divisão, mas também joga a humanidade nos braços do verbo ter, como bem demonstram as citações de Marx  e  a velha canção (veja o vídeo mais abaixo) do grupo de rock Pink e Floyd que consta do memorável disco "Time". A vida, assim alienada, parece ser apenas mais um meio de vida, ou seja, a vida de todos que trabalham é somente mais um meio utilizado para se produzir riquezas que serão acumuladas por uma minoria. Minoria tão sem controle do seu mundo e separada por  um "poço fundo" dos "braçais",da maioria.

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   "Quanto menos você come, bebe, compra livros, vai ao teatro, sai para beber, pensa, ama, teoriza, canta, pinta, luta, esgrima etc., mais você economiza e maior se tornará o tesouro que nem traças (1) nem larvas podem consumir- seu capital. Quanto menos você é, quanto menos você expressa em sua  vida, mais você tem, maior é sua vida alienada e mais você acumula de sua essência alienada... tudo o que você é incapaz de fazer, seu dinheiro pode fazer por você... 
  “Quanto maior o poder de meu dinheiro, mais forte sou. As  qualidades do dinheiro são  qualidades e poderes essenciais  meus, do possuidor. Portanto o que sou e o que posso fazer não são de forma alguma determinados por minha  individualidade. Sou feio, porém posso comprar a mulher mais  bela. O que significa que não sou feio, uma vez que o efeito da  feiúra, seu poder repulsivo, é destruído pelo dinheiro. Como  indivíduo, sou manco, porém o dinheiro me proporciona vinte e  quatro pernas. Logo, não sou manco. Sou um indivíduo  perverso, desonesto  , inescrupuloso e estúpido, mas o dinheiro  é respeitado, e assim também seu dono. O dinheiro é o bem  supremo, e consequentemente seu dono também é bom.” (Karl Marx)

   "O trabalho, a atividade vital, a própria vida produtiva  aparece ao homem apenas como um meio para a  satisfação de uma necessidade, a necessidade de    reservar a existência física. Mas a vida produtiva é vida do  gênero. É vida produtora de vida. Todo o caráter de uma  espécie, seu caráter genérico, reside na natureza de sua  atividade vital, e a atividade livre consciente constitui o  caráter genérico do homem. [No capitalismo], a própria  vida aparece apenas como um meio de vida." (Karl Marx).  

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(1): Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. (Mt 6,19-23)  
   
Lenine: O Verbo e a Verba                                                                         


Pink Froyd: Money
Em tempo: Chico Buarque, nos falou também sobre o tema em Geni e o Zepelin: E a deitar com homem tão nobre/ Tão cheirando a brilho e a cobre/ Preferia amar com os bichos/ Ao ouvir tal heresia/ A cidade em romaria/ Foi beijar a sua mão/ O prefeito de joelhos/ O bispo de olhos vermelhos/ E o banqueiro com um milhão/ Vai com ele, vai Geni...



2 comentários:

Gabriela disse...

Sabe, às vezes tenho certeza que para o homem conseguir superar o gosto e o vício pelo dinheiro ele terá que nascer de novo. Não um, dois, mas toda a raça humana. Estamos todos aqui contribuindo com ele, não é verdade? Com o 'sistema', a selvageria, a suspensão da sensatez e/ou senso de coletivo por mais um milão; quero dizer, isso é o nosso dia-a-dia, infelizmente, somos todos alienados.
Desconstruir todo o imaginário instituído em volta do poder do dinheiro? Cansa só de pensar!
Gostei bastante do texto! O finalzinho com a presença de Chico me fez lembrar de uma versão de Geni e o Zepelin de uma banda daqui chamada Scambo que adoro e que tem letras realmente muito boas colocando em pauta algumas questões sociais; se tiver tempo de ouvir, procure, acho que vai gostar. A interpretação do cantor é genial. Assisti a um show deles há pouco tempo e ao vivo é ainda mais legal. Segue link da versão da Geni! Abraço!

http://www.youtube.com/watch?v=MGmnEe37EUc

Jorge Willian da Costa Lino disse...

Valeu, Gabi!Gostei muito dos comentários e também da versão do Scambo(que não conhecia), cheia de suingue e com o toque roqueiro do refrão faz parece outra música. Ouvi algumas outras e gostei muito da melodia de "Poe Enquanto" e do instrumental de "Alívio do Fim".