Silêncio, vou dormir. Que nada se mova! Nem gestos, nem corpos, Nem ideias de fora, Se quer o tempo. Imobilidade total, Tudo silenciado, Tudo aquietado, Tudo parado. Silêncio, dormirei E nada deve interromper O único verbo possível O companheiro verbo sonhar E seu único e desejado complemento. Silêncio! Sonharei com ela!
estou com saudade
de mim
de você em mim
correndo contigo comigo
ouvindo me ouvindo
me vendo te vendo
brincando de mim
de ti de mim
saudade saudade
de envelhecer em ti
de adolescer em ti
de nascer em mim
de nascer em ti
de ir morrendo em mim
morrendo em ti
de sorrir de mim
comigo sorrir de ti
de chorar comigo
de chorar em mim e de mim
saudade de mim em mim
saudade
não deste que me olha
deste que me rir
que me espelha
este que não sou
mas que responde por mim
saudade de ti de mim
saudade
tudo outra vez
saudade quero
tudo outra vez
quero
outra vez
saudade
saudade
saudade
Chega o ano ao fim. Mas como tudo tem seu ciclo, chegaremos a um novo começo. E como tudo se mistura, passado e futuro tornar-se-ão um só, pelo menos na tela da televisão aqui de casa. Mas como não sou o único a assistir a telinha, sei (sabemos) que ligaremos as televisões e assistiremos a mais uma retrospectiva. E como muitas coisas se repetem em nosso mundo, assistiremos, concomitantemente, ao futuro: enchentes no Brasil derrubando morros, barracos e vidas; guerras urbanas entre traficantes e os pseudo-heróis dos bopes da morte; corrupção em São Paulo, no Rio de Janeiro, nas obras públicas, no Planalto, nas operações lei seca, no Brasil quase inteiro...
Assistiremos também às guerras entre nações contando sempre com o velho exército americano torrando mais alguns bilhões de dólares. E o congresso americano continuará negando saúde pública aos seus cidadãos nacionalistas e ufanistas em nome do liberalismo e da falta de verbas. A imprensa continuará falando mal dos "chaves", dos "morales" e qualquer outro líder de nações que não adotam o neoliberalismo e antiestatismo. Por outro lado, falará bem de lideranças que estejam defendendo atos não democráticos em países onde o povo sai à luta contra as crises do capitalismo, que afetam sempre os mais pobres. Até porque, para o sistema financeiro o Estado "emprestará" trilhões (só na zona do euro) dizendo combater o desemprego. Assistiremos a mais uma crise do capitalismo e novos libelos proclamarão, no meio de suas acusações, que este sistema social é o único possível.
Eleições, ah claro!, elas também poderão ser vistas e aqui no Brasil teremos os partidos do "sim, senhor Lula!" disputando com os do "não, senhora Dilma!" e ambos os grupos partidários estarão a defender o empresariado que, por sua vez continuará clamando por verbas públicas do BNDES e por diminuição de impostos para suas empresas e para cidadãos (os ricos). Para os mais pobres, que o empresariado também não esquece, a proposta é pelo fim das bolsas famílias e coisas do tipo. Com certeza poderemos assistir a alguns assassinatos de lideranças indígenas e rurais que lutam por terras nesse país de latifundiários, além de emboscadas que ceifarão a vida de lideranças sindicais. Na televisão teremos além das novelas, as mentiras dos arquitetados telejornais que não informam, e sim, deformam nossa inteligência. Veremos também Roberto Carlos cada vez mais piegas e Ivete Sangalo cada vez mais brega (no mau sentido da palavra). Bons nomes da nova MPB não aparecerão para o grande público... Talvez unzinho tenha mas sorte e seja adotado pelo sistema Globo (Som Livre) e vire uma nova Maria Gadu.
Pelo lido, parece que veremos "um museu de grandes novidades", como denunciava o bom Cazuza. Mas nem tudo será repetição, e como precisamos de novidades neste natal e no próximo ano novo, segue o vídeo abaixo.
Há um vírus transmissível
Em meu cérebro
Se multiplicando ele vira milhões
Se encorpando se materializa
Agita-me febril
E de meu corpo se propaga
Há agora um vírus transmissível
No cérebro teu Em segundos, milhões iguais
Se juntarão em ti nesta febre louca
Dominarão teu cérebro, teu corpo
Teu ser, tua voz também a propagar
Há um vírus no ar
Ele devora preconceitos
Morais, científicos e religiosos
E chama-se comunhão
Popularmente liberdade
E ele achava tão frágil a vida desde que pensou certa vez nas borboletas. Tão belas e tão frágeis e tão efêmeras. Cuidou de não deixar a vida cair, para não vê-la em cacos, como as taças de cristais que mãos bêbedas derrubam com alegria. Para não vê-la desbotada, não a expôs ao sol quente dos verões que com seus raios dão cores e também retiram. Com bravura protegeu a vida intacta, sem fraturas, cortes, dores e paixões, que estas quebram mais do que os porretes ou acidentes de aviões. A vida intacta, pois, não sofreu fraturas, não machucou-se, não foi rasgada, não foi cortada, não foi triturada, não foi vivida. Não morreu nenhum dia e perdeu os brilhos do sol.
Segundo Kant, não percebemos as coisas como elas realmente são. As coisa em si são imperceptíveis aos sentidos humanos. Assim sendo, radicalizando o filósofo que descordaria desta conclusão, meu cérebro (e o teu) delira dentro das possibilidades que pode fazer com as coisas que percebe. Eis, então, um pensamento pós-moderno.
Verde intenso, marrom duro e o olhar vidrado.
De fundo um azul terno e o branco algodão.
Aqui o olho e seu mel neurônios o conectando à máquina de dar sentido.
Mas dentro, tudo fosco, cores pardas, tons pastéis.
E a máquina dos sentidos escolhe das cores os tons: brilho? ofuscante?