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quinta-feira, 26 de julho de 2012

EU VI UM ANJO

Disseram que morreu o anjo
que andava cambaleando
mas que ele sempre cambaleou
que suas pernas tortas
ao mundo entortou.

Talvez seja verdade e o anjo morreu mesmo
mas disseram que antes ele ludibriou
os meninos de Pau Grande, 
a fome, a fama e as mulheres e os filhos
acho que sim, ele deve ter morrido
Mas antes ele burlou
os joãos brasileiros e suecos, 
computadores soviéticos,
zagalos burocratas,
sovacos de cristo,
vigilância de saldanhas e jornalistas mais
fortunas passageiras e despedidas
infortúnio permanente.

Sim, devo  admitir, posto que devo ser realista, que morreu a alegria
do povo sabemos todos que não se escapa do apito final da morte
mas ele a  driblou antes e passou-lhe entre as pernas 
e ontem eu o vi sorridente bem perto de mim
devia ter uns poucos anos e era ainda pardo

e ziguezagueava e tombava e ludibriava e driblava e burlava
e a zagueira truculenta  corria para acertá-lo na canela
e ele a fitava parado, esperando o momento da botinada fatal
(e juro que fiquei sem respirar temeroso por suas pernas poéticas) 
e a zagueira pulou no carrinho frontal e a vida parou de suspirar  por um instante
e de repente um toque sutil e a bola saltou por cima da  truculenta
e mané garrinchando outra vez a driblou e sorridente pulou também
...
ontem eu o vi e ele passou pela baliza bem próximo de mim
Ele morreu, preciso admitir
Mas está vivo 
está vivo que eu vi...

Rio, 26/07/2012 18h e 43m.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

CASACOS

Casaco Sobretudo Masculino (GA06-BEGE)
O casaco que Proust não tirava
mais que sobretudo  era casa
pele, casulo protetor, alma
cheirava o casaco a palavras.
O casaco era Marcel e seu mundo.


O casaco que Marx penhorava
Era o ingresso para a biblioteca
                                 londrina
mais que casaco era classe, distinção
e era leitura, anotações, era pão era
                                    capital        
O casaco era  Karl e o seu mundo.


O casaco que sempre esqueço
enfeita o armário, ocupa nele seu espaço
o frio pouco o faz supérfluo.
Não tem meu cheiro o casaco
Ele não é meu mundo, só objeto sem uso.

Rio, 17/07/02  (10h e 40m)



quinta-feira, 12 de julho de 2012

A NOVA DEMOCRACIA

E o jornal A Nova Democracia chega aos dez anos de existência e em sua nonagésima primeira edição. Seria quase nada se compararmos com três meses de jornais diários da grande imprensa que deixam de nos informar na tentativa de nos formatar. É justamente por isso que este blog recomenda a leitura e divulga  A Nova Democracia. Este é um jornal crítico de esquerda, independente e a serviço da luta dos trabalhadores. Um jornal crítico inclusive dos partidos e governos que se dizem de esquerda. Um jornal radical no sentido fundamental deste termo, pois nos mostra a raiz de nossas mazelas: a exploração, a dominação, o velho Estado e os partidos que defendem a manutenção do capitalismo. Um jornal crítico que nos mostra, por outro lado, a brava luta de nosso povo trabalhador. Um jornal que não se nega a mostrar o seu ponto de vista classista e que defende a Revolução Russa, hoje tão atacada pela tática reacionária da desinformação. É uma defesa importante, embora o jornal devesse ser menos benevolente com os descaminhos que ocorreram na extinta União Soviética ainda mesmo no tempo de Stálin, mas mesmo assim é importante o fato de que  o jornal faz uma justa defesa dos avanços conquistados pelo povo russo atacado não só pelo nazismo de Hitler, mas também atacado desde o primeiro dia até hoje pelo ditos democratas liberais em defesa da propriedade privada do capital que usaram em seus ataques a força bélica de seus exércitos e ainda usam a força ideológica de sua imprensa privada. 

O Nova Democracia é um alento nesses tempos em que a imprensa  diz amém para tudo que venha  das classes dominantes e/ou em defesa do capital. Pena que o jornal seja mensal, ou melhor, a partir de agora passa a ser quinzenal. É uma bela notícia descobrir que seus editores conseguiram transformar o Nova Democracia de semanal em quinzenal. Mas ainda é pouco, quem sabe em breve o teremos semanalmente e saberemos com mais rapidez aquilo que a velha imprensa nos nega. Saberemos das greves, dos assassinatos de lideranças, do despejos de comunidades em nome do progresso para poucos, saberemos dos artistas que nascem na raiz de nosso  povo, das lutas das nações indígenas e do aprisionamento de seus líderes, da luta pela terra de nossos camponeses acampados e de suas lideranças mortas em emboscadas, das ocupações que nosso Estado fascista tem feito nas favelas, das traições de políticos e partidos que buscam o voto popular e que depois governam e votam contra os direitos trabalhistas e outras coisas importantes que são noticiadas nas páginas do combatente jornal. Salve o Nova Democracia!

http://www.anovademocracia.com.br/


domingo, 8 de julho de 2012

A BRUXA

                        "Vamos passear no bosque/ enquanto seu lobo não vem."

Façamos silêncio, ela dorme!
Se a despertarmos ficará brava,
Ai de nós se isto ocorre,
Não quero nem ver!

Cuidado, ela está se mexendo.
Talvez já tenha despertado
E finja dormir tranquilamente 
E, de repente, nos assustará.

Fale baixo, deve estar nos observando.
E se ela levantar fuja rápido
E avise a todos
Que bruxa vai atacar outra vez.

Corre, ela está de pé e bem pertinho
E vai nos pegar brincando
Corre muito, corre
Que lá vem a bruxa do 1964



sábado, 7 de julho de 2012

SUBSTANTIVOS TROCADOS (DETENTORES DO CAPITAL)

Uma das táticas da dominação cultural de uma classe é modificar o substantivo que  nomeia os indivíduos que dela fazem parte. Hoje os donos do capital, por exemplo, já não querem ser burgueses e tentam não serem mais reconhecidos pelo grande público como capitalistas (sem abrir mão do capital, é claro!) e tentam nos confundir com termos como empresários e empreendedores, trabalhadores que administram seus capitais... Assim, neste esconde-esconde de nomenclaturas, tentam mostrar que não tem nenhuma ligação histórica com os livros didáticos  que ainda só falam em (formação da) burguesia e (guerras) capitalistas e nada falam sobre empresários. Mas substantivos trocados não desfazem a substância. Empresariado, burguesia, classe capitalista ainda são sinônimos de detentores do capital. Alguns são grandes detentores e outros nem tanto, mas tem em comum as defesas políticas do interesse em manter o mundo da mesma forma, mantê-lo sob seu controle. Não importa o substantivos e nem mesmo os adjetivos que qualifiquem as substâncias (capital, capitalismo, proprietários, trabalhadores). O que importa é manter as mesmas relações entre elas e seus resultados: acumulação e dominação. Importa que estas permaneçam, mesmo percebendo mudanças que vão além de meros substantivos e necessidades sociais e ecológicas novas.