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domingo, 27 de julho de 2014

ELEIÇÕES, IMAGINAÇÕES E MONSTROS

Todo ano eleitoral no Brasil é quase a mesma coisa: políticos buscam alianças entre seus partidos e entre si, estas não ficam intactas e cabos eleitorais buscam ganhar o voto dos eleitores. Mas de quatro em quatro anos, temos eleições mais decisivas em relação à luta de classes e frações no país. Nestas não se decide apenas pelo que acontecerá nos municípios. A decisão é sobre quem vai governar e criar leis para os estados e para o país inteiro. Decidimos, a cada quatro anos, os nomes  de pessoas e siglas de partidos que administrarão o país. Isto parece, parece ser bastante democrático. Mas não é. Não que os eleitores não devam e não decidam. Eles decidem. Mas baseados no quê? Que candidatos lhes são apresentados? Quais as informações recebem sobre as plataformas dos candidatos? Quem são os informantes das informações que recebem?Que interesses  estes possuem?

No Brasil , uma única empresa de comunicação é capaz de controlar diversos meios de informação (pelo menos dizem que informam, não que formatam). Assim, alguns grupos de sócios possuem em suas mãos canais de TVs (a cabos e aberta), rádios,  jornais, revistas, etc. Este acúmulo de capital ligado à informação (formatação) passa a defender políticos e partidos. E, é claro, não sem interesses financeiros. A este problema adiciona-se o fato de que o quantitativo de meios de comunicação é grande, mas está nas mãos de poucos. Estes poucos pouco divergem entre si e criam, assim, uma monopolização de ideias em um setor que é básico para a democracia acontecer de verdade: a divulgação de opiniões. Como apenas ganham acesso à grande massa, as opiniões deste pequeno grupo, vivemos em um autoritarismo (in)formático. 

Há muito, podemos ver as mensagens políticas disfarçadas de informações jornalísticas ou de mero entretenimento como são as novelas da Rede Globo. E isto ficou cada vez mais claro desde 1989 quando passamos a ter as eleições diretas para escolha de presidentes. Tivemos a novela que Rei Sou Eu, Globo Repórter, capa da Veja, falsos escândalos, edições de debates, etc... para apoiar um falso "Caçador de Marajás". Pouco tempo depois, uma tal seriado Anos Rebeldes ajudou a retirar o corrupto que defenderam como candidato mas que agora tornava-se um desafeto ao apoiar outros meios de comunicação.

Em 1994 o Escândalo da Parabólica nos mostrava a articulação entre a candidatura do Príncipe dos Sociólogos ( proclamado assim pela mídia empresarial) e os meios de comunicação que nada -ou quase- falavam sobre o uso eleitoral de entrega  de sacas de feijão do governo realizada pelo "príncipe" candidato. O mesmo que, ao ser eleito, manteve artificialmente o dólar valendo o mesmo que um real para facilitar as importações e manter a inflação baixa. Não divulgaram, é claro, que isto  consumiu nossas reservas cambiais e prejudicou a produção nacional onde banqueiros realmente ganhavam e muito, inclusive ajuda quando em crises. O governo do "príncipe" foi também o do desemprego que nos assustava (eram 52 semanas o tempo médio para se encontrar um novo emprego) e da entrega a preço de banana de diversas estatais para empresários.

Em 1998, a lógica de poupar o governo FHC que duplicava em um dia a taxa de juros, lhe facilitou a vida de candidato à reeleição. A dívida interna, em grande parte dolarizada pelo governo da época, também quase dobra em moeda nacional quando, por canetada do ministro de FHC, o real passou a valer a metade de um  o dólar elevado de um para dois reais.

Em outros momentos a mídia empresarial se fez presente, mas para não nos alongarmos muito caminhemos mais rápido para ficarmos mais próximos dos dias atuais. Em 2011, primeiro ano da atual governante, quando a rede Globo divulgava uma presidente Dilma se tornando meio que independente do PT, a inflação anual foi de 6,5%. Ninguém falou em descontrole econômico e nem de apagão ou de tomate. Mas desde 2012 quando estava claro que não havia rompimento do vínculo da presidente com o seu partido e este se tornara vitorioso na capital de São Paulo (cuja importância econômica e política não precisamos realçar) que o Brasil dos (tele)jornais e revistas nos levam a viver no mundo da fantasia em que um caos medonho nos persegue. Parece estarmos vivendo quase na crise grega ou portuguesa. Desde dezembro de 2012, segundo a imprensa empresarial, que o bicho feio do APAGÃO está em nossos telhados. Nossa imprensa se permite ser- quando se trata de política- mais criativa do que muitos que são eleitos para a nossa Academia Brasileira de Letras. Sarney sabe bem disto.

Em 2014 à saga do bicho feio APAGÃO se junta cada vez mais outro monstro da mente de nossa imprensa tupiniquim : a besta veloz, nomeada pela globo e outros canais, de DESCONTROLE INFLACIONÁRIO. Esta besta veloz conduzida pelo perigo vermelho (não comunista) do TOMATE. O interessante é que divulgam dados que contradizem o que a imaginação da imprensa em campanha eleitoral afirma. A inflação atual não passa dos mesmos 6,5% de 2011 e, sic, tende a ser menor segundo a própria imprensa.

Não bastasse a política de nossa imprensa produzindo desinformações com o falso nome de informação, há também mensagens subliminares , como a da atual abertura da novela Geração Brasil. Nesta o nosso BR de Brasil se junta ao 45 deles (número do partido que sempre apoiam, o do PSDB). Um A vira um 4 e outros numerais entram para que a mensagem não fique mais uma declaração escancarada de apoio. 

E assim, e de outras formas, eles vão fazendo a política da formatação se dizendo democráticos. Mas alguns sabem e há muito protestam: "O povo não é bobo/ abaixo a Rede Globo", mas não apenas esta, sabem também. 

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Obs: Alguns liberais, em suas ingenuidades teóricas, acreditam que esta também é uma questão de oferta e demanda e que o leitor/telespectador/ouvinte pode mudar de canal/rádio/jornal/revista. Não percebendo a monopolização, acreditam que o mercado da conta de tudo.  

sexta-feira, 25 de julho de 2014

OS SINOS BADALAM


(aos perseguidos políticos do Brasil de agora)

acabo de ouvir lá fora pequenos sinos tocando
e guizos e risos, e choros
e choros, e guizos e risos e sinos
tempos bicudos, diriam os antigos
sempre a nos observar da calmaria de onde estão
logo eles, tão acostumados
com prisões e torturas
eles, que tanto viram golpes e ditaduras
eles nos acham talvez em parte tolos
em nossos gritos de democracia
diante do dragão que nos traga e os tragou
utópicos ao sermos enjaulados
acusados de gritarmos quando foram calados
ingênuos ao caminharmos nas praças
e sermos acorrentados como foram
por pequenos passos arrastados
escrevermos poucas linhas na história
e nos colocarem cabrestos
emaranhados que nos destroem e os destruíram
tempos bicudos, eles viveram
morreram neles também
e nos observam da placidez de seus corpos sumidos
e nas comissões citam seus nomes
seus fins, suas dores ainda presentes
e eles nos observam em nossos gritos
passos e linhas cruzadas com as deles
juntos ainda somos tecidos
e nos tecemos assim
nos prendem e gritam eles  poder
presos gritamos também
para o povo
liberdade
para o povo
poder para o povo
que faz o pão
o prédio
o remédio
os sonhos
a escrita
esta que tecemos nos papeis
nas ruas
nos sindicatos, nas escolas
nas praças, nas camas
os antigos em sua calmaria de mortos
vivem nossas dores em nós
somos nós estreitos nós
e não estamos sós
para o povo
somos o que foram
são o que somos
jovens na velhice deste continente
tão desigual, tão cruel
caçador de sonhos
e somos seremos sonhos cassados?
não estamos sóis, nossas dores nos unem
os sinos sempre badalam... sempre.

Rio, 25 de Julho de 2014 (03 h e 22 min)
jorge willian

ROMPIMENTO DE LAÇOS

Rompe os laços Israel
fratricídio, Ismael
anã é a memória
grande é a ganância
triste é a história
irracional vingança
deserto cruel

Rio 25 de julho de 2014 (02h e 32 m)