Amigos e/ou Leitores

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

TANTOS CAMINHOS


Das sementes 
dois viés iniciais se fizeram.
O primeiro aprofundou-se
abriu seu caminho entre húmus, pedras, 
terras e outras raízes.
Não satisfeito este viés se fez muitos
espalhou-se em raízes várias e menores
ali alimentou-se, grudou-se
descobriu o oculto invisível.

O segundo viés os ares buscou
fez-se tronco e galhos
e desejoso de asas e penas
se deixou criar folhas
voou ao leo muitas vezes
levado pelos ventos
tragou a luz
descobriu o oculto visível


Rio, 02 de Janeiro de 2015




segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A CIRANDA

A CIRANDA
E o vento despertou
fez-se deus
animou a terra
revigorou o fogo
fez mover a água
e os galhos criando asas
moveram-se ao leo
raízes apassarinharam-se
olhos não sabiam as direções
bocas gritaram
gados mugiram
após virarem pássaros também
pardais rodopiavam no ar
na ciranda que os envolvia
uniram-se às vacas, galhos e raízes
tudo se fez um na fúria leve
do despertar do vento-deus.

Rio, 18 de dezembro de 2014 (12 h e 41 m)


https://www.facebook.com/video.php?v=815318265201568

Riacho

Riacho
(Para Marcelle)

Uma vez fui menino
só uma vez, se me lembro
e foi como um riacho
que escorre e nunca volta
e nunca sai dali também.
Fui menino,
uma vez, depois nunca
nunca mais naquele dia
só nos outros
mas era um outro menino
nunca mais o mesmo
uma vez fui e só uma vez
assim como hoje
menino ainda
riacho antigo
escorrendo, escorrendo
sem volta.

Rio, 16 de dezembro de 2014 (01h e 54m)

domingo, 25 de janeiro de 2015

AS CORDAS



Acorda, lá vem o dia
e ele te sacoleja
te querendo desperto
a corda de seu velho relógio
acelerou o tic-tac repetitivo 
seu compasso se perdeu
ficou apenas esta disritmia melancólica
mas a cor deste dia te chama:
acorda!
levanta, escove e passe a corda
entre os dentes
que o dia te ordena um sorriso
e a cara de felicidade estampada
que lá fora te esperando
balança a corda do dia
enfia vosso pescoço
agradeça ao sol e sorria
balance pendurado no tempo
este que não é teu nem meu
e sorria
um defunto triste desagrada
sorria que a noite chegará
depois, porém, do trânsito que te levará
para o matadouro diário
depois, porém, do afago falso dos amigos
depois, porém, do esporro rancoroso
de vosso patrão rancoroso
acorda, dormirás no balanço da condução
dormirás o dia inteiro acordado
amanhã será outro dia
e sua nova corda já está sendo trançada
teu pescoço novamente ornamentado será
acorda.

Ou acorde diferente
mande tudo às favas!
acorde de verdade
e retire as cordas de vossa vida
desacelere o tic-tac
crie seu compasso
gargalhe
ria
sorria
gargalhe
retire as cordas dos galhos dos dias
retire as amarras
os grilhões
e os grilos
veja este ritmo perdido
sem corda, sem ponteiro
sem seta
sem meta
sem veto
sem certo ou errado
acorde!
não porque o dia manda
que nem precisa ser dia para acordar
acorde...
que por agora
deitar-me-ei outra vez.
acorde, deite-se do meu lado.

Rio 15 de dezembro de 2014
(05h e 41m)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A DIALÉTICA E A CONTRAPOSIÇÃO

       


O PENSAMENTO DIALÉTICO NÃO TRATA APENAS DA POSSIBILIDADE DA CONTRADIÇÃO NO SENTIDO DO DISCURSO. (ALGO CONTRADIZ O QUE FOI DITO ANTES). HÁ TAMBÉM O SENTIDO DA CONTRAPOSIÇÃO. Algo se contrapõe a outro. E internamente algo está constituído de contradição/contraposição. O capitalismo encontra sua contradição no socialismo, mas antes mesmo já contradizia o mundo social anterior. E o capitalismo em si é constituído de contradições . sendo formado por grupos sociais diferentes possui em seu interior a contradição/contraposição desses grupos. Ver a contradição apenas como algo conceitual só é possível para quem observa a realidade como algo sem contraposição, sem contradição. E isto não impede há quem afirma que a realidade é contraditória de produzir um discurso coerente. Pelo contrário, pode mesmo dizer que a incoerência está em quem a partir de um real cheio de contradições construir uma "realidade" discursiva que não represente esta contradição. Neste sentido não cabe mesmo o relativismo. Dizer que o ser é e não-é ao mesmo tempo não pressupõe cair no relativismo. O que se exige é a percepção da transformação daquilo que é visto positivamente como dado e que , meste sentido, é uma dado em transformação. Realmente este pensamento é muitas vezes negado, pois nem sempre a realidade da transformação é percebida e/ou assumida pelo pensamento E por isso mesmo há quem negue esta realidade, a de que tudo está em transformação e que tudo deixa de ser (merece morrer, se completar). Não se trata apenas, portanto, de uma contradição conceitual entre o que se diz e o que se nega ao se em seguida no discurso.


Uma porta é uma porta, estando aberta ou fechada. A contraposição de estar aberta ou fechada ainda não dá conta da contradição interna da porta que está deixando de ser, que está "morrendo" passando pela transformação inerente ao seu ser que está em relação com o real onde está inserido. Além disso, ela se opõe aos demais elementos do real: o portal, a parede, o lado de fora e de dentro do espaço em que foi colocada. A sua positividade de ser porta não existe sem a própria negatividade de não ser os demais elementos. E uma porta em si, isolada de tudo, só "existe" no mundo das ideias, no mundo conceitual, no mundo do discurso. No real ela só existe em relação e, portanto, em contraposição com os demais elementos do real. A sua materialidade só é possível em relação. Além disso, internamente ela é composto de átomos que estão em relação entre si e entre os demais átomos fora da porta.

MANTRATHOMÁS

Ei, Menino, amo-te
Amo-te, menino
Amo-te
Ei, Menino, amo-te
Amo-te, menino
Amo-te
Ei, Menino, amo-te
Ei, Menino, amo-te
Ei, Menino, amo-te
Amo-te, menino
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te
Amo-te


29 de novembro de 2014

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ABRAÇO


(Para Amanda)

Quando a noite 
dentro aqui faz morada
do lado de fora]a luz envolve-me

Quando o silêncio
tudo atordoa por dentro
guizos alegres
cantam a minha volta

Assim, sou
quando
me abraças:
noite iluminada
silêncio que canta.

Rio, 17 de março de 2011
Jorge Willian

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

FOTO



Quando olhei
Quando observei
Quando realmente admirei
Já não estava mais lá
De fato já não existia
De fato já se fora
De fato já não era mais um fato
Quando olhei para aquela foto
Aquele que ali eu via
Já nada se parecia com aquele que via
Era outro aquele eu
Era eu deixado de ser
Era eu que não era mais
Quando olhei
Quando observei
Quando finalmente admirei
Já não existia
E apenas passaram-se
Um minuto.

Rio, 28 de Novembro de 2014 03h e 17 m.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Pés


(Para Alê e suas meninas)
Os caminhos que fazemos
seguem passos diferentes
e direções várias
invariavelmente
se cruzam
se unem
na distância e sua ausência
ou na tangente e seus abraços

O que fazemos
é o que somos
embora, pedras às vezes,
quase sempre somos pés e seus caminhos
e somos pés que se encontram
que trilham caminham novos
que se reencontram
somos o que fazemos
somos caminhos
somos pés.





Jorge Willian (Rio, 21/11/14 10h e 56m)

domingo, 18 de janeiro de 2015

A META



Todos atingem
E mesmo assim
É feio quando antes
Os jovens a alcançam
Desrespeitando seus ancestrais
E, rompendo a barreira do justo,
Arrebentam a fita de chegada.

A meta é para todos,
Por que, meninos, tanta pressa?

Deveria haver uma regra
Regra de respeito ao desejo
Desejo imemorial
Dos antigos cruzarem primeiro a barreira.

E deveriam esses jovens
Respeitar a fila.
Mas por que, rapazes, tanta pressa?

É sempre assim
Alguns apressadamente
Desembestam a correr
E desesperadamente atingem
A meta antes
A chegada antes.

Seus ancestrais,
Torcendo para não serem ultrapassados,
Lacrimejam
Gritam
Odeiam
A meta.

Rio, 04 e 17 novembro de 2014

sábado, 17 de janeiro de 2015

SERES REAIS


Uma sereia seria sereia se sereias existissem
Como não existem, uma sereia vista não é uma sereia
É apenas uma série criada pelo cérebro serelepe
É como um centauro, uma cereja em mãos de Ceres.
Sereia, centauros, Ceres... uma série cerebral, nada mais
Real mesmo, só este unicorne em que monto agora
Até a volta, voa pégaso! Voa!!!

Rio, 10 de Novembro de 2014 (14h e 42m)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

POEIRAS



Não há saída
nem houve entrada
sempre estivemos dentro
e não há possibilidade de nos retirarmos
jamais sair conseguiremos
fatalmente somos ele
desde o princípio
pó no universo 

rio, 3 de novembro de 2014

ESQUECIMENTO


Lembrei do que esqueci
qual era mesmo
o nome?
o dia?
e quem era?
E não esqueci apenas
quem era ele
aquele que na foto sorria
aquele
que disseram logo depois
que era eu.
Quem disse?
sei lá!
Esqueci também
quem eu era
naquele dia?
o nome?!
ainda não lembro.
09/11/14 (0h, 58m)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sempre que possível fiquemos com o menos trabalho, com menos ópio para o bolso e mais para a pele, o sangue, o coração. Mais amigos e amores, menos labuta que não somos assim tão filhos do desespero, para não dizer da puta. É bom quando lembro de Paralelas e de Belchior sempre nos jogando na cara:

e no escritório onde eu trabalho
e fico rico
quanto mais eu multiplico
diminui o meu amor

02 de novembro de 2014

Tempos


teremos?
se tivermos
o que deles faremos?
se fizermos
seremos céus
ou infernos?
teremos tempo
de infernalizar os céus?
ou apenas, apenas
lançaremos as labaredas?


Rio 02 de novembro de 2014

VIVA A POESIA


Se queres sentir a poesia
que te faças então vida
não a do tipo vazia
covardemente querida
que te faças então
vida quente e vadia
tipo de tremer coração
de encantar o dia
de torná-lo noite escura
a noite fugidia
noite sem brandura
fervorosa poesia
se queres sentir o que queria
torna-te poesia
não em papel rabiscada
mas sentida, respirada
se queres sentir a poesia
viva a poesia
Rio, 21 e 26 de outubro de 2014.

OS lob(BUND)ões UIVAM PARA A LUA

Não era lobo o animal
apenas 
dos homens lobo era 
e não era um apenas
muitos o acompanhavam
uivando
esfolando a pele
e rasgando a carne
de homens encontrados
ao acaso
ao relento
muitos eram BUNDs como ele
BUNDS no meio
embora
lo e bo nas pontas
patas lo
cabeça bo
de fato
os animais
eram lob(bund)ões
amigo de lobos
devoradores de homens
e mulheres
e crianças
os BUNDs caminham
em pequenos grupos
duas patas os sustentam
duas patas e o medo
que homens a digerir desapareçam
Os BUNDs
fingem emigrar
mas não tem asas
apenas patas e dentes vorazes
Uivam em pequenos grupos
Uivam para cima, para os da lua
e o silêncio os ouve
mais do que a fome
os Lo(bund/b)ões
eles existem
mortos-vivos
mas existem
e rimos e rio
e rio
rio.
RIO DE JANEIRO, 02/11/2014